O primeiro incidente.

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"Cada vez que o vejo, é como se todo o meu arredor desaparecesse. É como se seus olhos me capturassem em tantos nuances, que eu podia passar séculos os observando que sempre descobriria algo diferente."
                       
                      -Um Cupido sem Coração
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Emínia estalou os dedos e alguns guardas se aproximaram solícitos.

-Agora, vocês serão conduzidos aos aposentos onde ficarão até a próxima prova. Cada participante tem direito a um acompanhante e nada mais. -Explicou com calma.

-Quanto aos corpos? - Um dos homens indagou.

A mulher pareceu distante, como se uma névoa escura pairasse sob seus olhos e ela não estivesse mais alí. 

-Deixem que os vivos enterrem seus mortos. - Com essas palavras a juíza se retirou.

Neuvillette e Wriothesley foram levados até um alojamento na parte mais distante da Capital, cercado por pequenos muros de pedra e rodeado de árvores grandes. Eram como pequenas casas de tijolos com um pouco mais de dois metros de distância uma para outra.

A grama crescia precariamente no chão de terra batida e havia um poço nas próximidades. No geral eles tinham bastante liberdade para ir e vir, contato que não brigassem uns com os outros e não tentassem fugir.

As casas eram minimalisticamente decoradas com uma beliche, uma mesa, duas cadeiras e um pequeno baú para guardarem seus pertences. Toda manhã um servo vinha lhes trazer as refeições do dia e uma pequena lista de tarefas que deveriam executar.

Naquela manhã, o sol brilhava alto, e os dois estavam limpando algumas lanças, escudos e armaduras.
A próxima prova seria no dia seguinte e eles não sabiam o que esperar. Um silêncio compreensivo pairava entre os dois quando uma voz regada de sarcasmo os despertou de seus pensamentos.

-Olha só o que temos aqui... - três guardas se aproximaram, deviam ter em torno de 1,85 e pareciam ter mais de 30 anos.

Um deles se aproximou vagarosamente de Neuvillette e tomou uma mecha de seus cabelos entre os dedos.

-Posso pentear seus cabelos, princesa? - Os outros dois riram, o homem que estava perto de Neuvillette ia dizer mais alguma coisa quando um escudo o acertou em cheio.

-Não toque nele! -Wriothesley disse furiosamente. E o homem bamboleou até cair com tudo no chão.

-Willie! - Os outros dois se aproximaram com olhares furiosos.

Aquele a quem chamavam de Willie cuspiu um bocado de sangue.

-Seu pirralho! Vou acabar com você!- os outros dois agarram os braços de Wriothesley e ele segurou seu queixo e o mirou com ódio, então sorriu.

-Sabe o que eu vou fazer com o seu namoradinho? -ele riu. -Vou foder com ele e depois dá-lo de presente ao exército inteiro... Não vai sobrar nada. - o garoto tentou se soltar, em vão.

Willie preparou-se para desferir o primeiro soco. Mas uma sensação gelada invadiu-lhe o corpo e seu estômago revirou como se ele fosse vomitar a qualquer momento.

Em seguida ele desabou sobre o chão e seu corpo começou a expelir todo o líquido de seu corpo, pela boca, olhos e ouvidos.

Os guardas que o acompanhavam tentaram em vão ajudá-lo, mas foram acometidos pela mesma coisa. Wriothesley os mirava confuso então encarou seu amigo que permanecia imóvel, seus olhos brilhavam em azul mortal, algo que ele nunca tinha visto antes.

-Neuvillette! -Ele piscou algumas vezes.

-Me desculpe... -o outro ergueu os olhos confusos, cheios de receio. - Eu não podia deixar eles te machucarem. -ele engoliu em seco.

- Não podemos deixar que ninguém saiba. Vamos! Venha para o alojamento. -Wriothesley sussurrou baixinho olhando para os lados, certificando-se de que mais ninguém presenciara a cena.

Aquele fora o primeiro incidente, Willie não conseguiu sobreviver, mas os outros guardas que o acompanhavam, sim, embora tenham dado baixa do exército e partido para outra cidade.

Muitos ficaram com medo de que uma nova praga se alastrasse pela capital, porém como nada aconteceu, o episódio acabou esquecido, pelo menos para a maioria.

Conforme o tempo passava as provas iam se tornado cada vez mais difíceis, mas Wriothesley conseguia passar por todas com persistência e determinação.

Depois de um mês, restaram apenas dois participantes, uma das garotas chamada Gaia e Wriothesley. Naquele dia eles seriam conduzidos até o palácio real, pois sua majestade queria vê-los e abençoa-los pessoalmente.

Seled era quem os acompanhava pela longa escadaria cristalina, vez ou outra seus olhos voltavam-se para Gaia e Christina, que era sua noiva e para Neuvillette e Wriothesley.

-Não falem, a menos que seja solicitado e não encarem o rei nos olhos... -O juíz sabia que o rei possuía um fraco pelas pessoas belas. Se ele via algo e o desejava, apenas tomava-o para sí, indepente dos danos que pudesse causar aos outros. Como fizera anos antes, ele ainda estremecia ao pensar nisso. Felizmente, sua majestade já havia se divertido o suficiente com ele.

Todos assentiram em silêncio. Os juízes eram muito julgados, mas poucos sabiam do que eles haviam enfretado durante seus anos na Corte.

Os portões dourados se abriram e os 5 encaminharam-se para o interior do castelo. Que era esplêndoroso, com uma fonte erguida no meio e cercado de Rosas perfeitamente bem cuidadas.

Seguiram por um longo caminho até a entrada direta para a sala do trono, embora eles não conhecessem sua majestade e o imaginassem como um homem já de idade, nada os preparou para o que eles viram.

O homem era alto e forte, usava roupas escuras e adereços dourados, seus olhos tão escuros quanto os seus cabelos carregavam um brilho inescrutável, as mãos repousavam suavemente sobre o braço da cadeira e ele sorria discretamente, um sorriso que não chegava aos olhos.

Carregava uma aura obscura que mais repelia do que atraía as pessoas. Apesar de sua beleza, ele não era agradável.

-Majestade. - Seled curvou-se, sentindo o estômago embrulhar. O rei levantou-se e o mirou.

-Seled. Já faz um tempo. -aproximou-se.

Os garotos e as garotas curvaram-se em seguida e depois ergueram seus olhos.

-Estes são seus novos sentinelas, Wriothesley e Gaia. -Os dois jovens deram um passo à frente.

Mas os olhos de sua majestade permaneciam um pouco mais adiante dos dois, focado nos jovens de cabelos brancos e olhos azuis.

-E quem são os outros? -Seled franziu o cenho.

-Estes são Neuvillette e Christina, os acompanhantes. -o rei sorriu. E Seled conhecia aquele sorriso. O sorriso de um predador.

-Neuvillette? -O rei perguntou e o outro respondeu preocupado.

-Majestade?

O rei respondeu ainda com um sorriso.

-Me chame Zarian. -Ele virou-se para Seled. - Não acha que ele se parece um pouco com você, quando era mais jovem? -O rei riu. -Não me diga que é seu filho?

-Não senhor. Eu saberia se fosse. - Não sou como você, ele pensou.

Depois de dispensar os jovens, Zarian chamou Seled.

-Acho que os jovens deste ano são muito promissores. - ele girou uma pequena peça de xadrez entre os dedos e encarou o juíz.

-Ele realmente se parece com você. -O rei levantou-se e aproximou-se do outro segurando seu queixo suavemente e plantando um beijo suave sobre seus lábios.

-Eu quero o garoto nos meus aposentos, amanhã a noite.

O Oceano Sagrado e a Máscara da DorOnde histórias criam vida. Descubra agora