Os dois. Seria sempre assim...

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"Não é o mal que governa o mundo(...). É cada ato de bondade e empatia. "

                                      -Cisne Negro
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Mais tarde naquele mesmo dia os dois jovens sentinelas, Wriothesley e Gaia foram conduzidos para suas respectivas moradias, em belas carruagens.

Um pouco mais distante do castelo do Rei Zarian, havia uma sinuosa estrada de pedra que levava a um solar muito elegante e bem cuidado.

O céu estava Azul e sem nuvens quando os  dois desceram do transporte, um homem de idade cuidava minuciosamente do pequeno jardim e lhes deu um pequeno aceno de cabeça quando chegaram.
Neuvilette observava tudo com admiração, enquanto Wriothesley não parecia muito convencido.

-Essa será sua nova vida. Pare de fazer essa carranca. -Neuvillete disse com gentileza, ajeitando as roupas simples.

-Eu sei. Eu sei. - com um suspiro o outro forçou-se a dar um sorriso.

As grandes portas de Madeira foram abertas assim que ele pôs os pés no primeiro degrau, revelando um salão ricamente decorado e escadas duplas que levavam a parte superior.

-Olha, tem uma pintura minha! Não acha que fiquei bonitão? -O Duque, como era chamado agora se animou. O amigo encarou a imagem, cada traço fazia jus a beleza de Wriothesley.
-Nao se preocupe, vamos mandar pintar um seu. -Ele pôs as mãos no ombro do outro, o encorajando.

A empregada Sallie, era uma mulher de meia idade, com uma expressão gentil e simpática, os acolheu, tendo todo o cuidado de apresentar cada cômodo para os dois.
-Imagino que a biblioteca será seu favorito. -Wriothesley disse animado. Esquecendo -se de como não estava convencido pelo lugar e por aquelas pessoas, mas desde que fosse pelo bem de seu amigo, ele suportaria qualquer coisa.

Neuvilette sorriu. E por um momento o coração de Wriothesley pareceu parar. Ele sempre achara o amigo muito belo, mas aquele sentimento inquietante não era algo frequente... Pelo menos não há algum tempo.

-Agora você poderá dedicar-se aos seus estudos. -Wriothesley disse ignorando a sensação crescente em seu peito. -Como sempre quis.

-É... -Neuvillete disse levemente surpreso que o amigo tivesse pensado nisso, quando nem ele mesmo tinha.

O sentinela o mirou, percebendo que algo incomodava  o amigo. Então se aproximou e perguntou.
-O que há? -neuvillete suspirou baixinho.

-Imagino que agora, você deseje encontrar uma boa moça e construir uma familia. -Ele deu uma pequena pausa antes de prosseguir. - Eu não quero incomoda-lo. -Wriothesley franziu o cenho, nunca se imaginara com outra pessoa que não fosse o proprio Neuvillette, então como ele poderia incomodá-lo??

-O que está dizendo? - ele estendeu a mão.- Não me interessa construir nada se não for com você.  - por um momento ele sentiu que suas palavras foram intensas demais. - Não que eu esteja dizendo que a boa moça deva ser você. -Continuou, atropelando as palavras. - quer dizer, nós nem podemos ter filhos. - Ele só parou de falar quando foi atingido por uma das almofadas que enfeitavam o sofá.

-É claro que não podemos ter filhos. -Neuvillete disse irritado e saiu, bem a tempo de Wriothesley ter percebido o sorriso enviesado que se formava em seus lábios. O outro ficou ali sozinho, pensando.

-Será mesmo que não podemos, Sallie? -a mulher riu baixinho, colocando a almofada de volta no lugar.

-O senhor não saberá até que tente. -Sallie disse divertida. Mas aquelas palavras ficaram na cabeça do outro.

-Acho que você tem razão. -O Duque disse distraidamente.

Por fim, depois de conhecer cada canto da casa, que era contemplada com 4 quartos, 2 suítes, 2 banheiros, sala de estar e jantar, uma cozinha grande, a biblioteca e a sala de jogos. Wriothesley subiu para procurar o amigo, mas acabou se perdendo uma ou duas vezes.

-Se tentar mais uma vez, talvez consiga. -Ele ouviu a voz suave e melódica de seu amigo.

-Aí está você! Ia me deixar ficar assim? -Neuvillete riu.

-Foi divertido. -Acrescentou o encarando.

-N-nao foi nada! -O outro rebateu.

-Por que estava me procurando? - Perguntou.

Ele pensou no que Sallie lhe dissera antes, mas empurrou o pensamento para o fundo da mente.

-Venha jantar comigo. -Neuvillete sorriu e o acompanhou.

-Como quiser, vossa graça. -Os pelos do corpo de Wriothesley ficaram eriçados e ele sentiu uma inexplicável vontade de provar aqueles lábios.

-Pare de brincar com isso. -grunhiu baixinho, a voz levemente rouca.

-Não estou brincando. Estou realmente feliz por você. -A expressão do outro suavizou-se.

Por fim eles se dirigiram a mesa, que estava mais farta do que qualquer mesa que eles já tivessem partilhado.

Neuvillette o encarou silencioso, os olhos mais azuis que o oceano, carregados de uma emoção intensa e indescrítivel e Wriothesley sabia exatamente o que eles queriam dizer.

Como poderia haver tanta desigualdade?
Quando tantas crianças pereciam diante da fome, a mesa deles estava cheia de o suficiente para alimentar uma quinzena ou mais de pessoas.

O Duque colocou uma mecha de cabelos que caia sobre a testa do amigo atrás da orelha, sabia o quanto o outro possuía uma alma sensível e nunca, não importava quanto poder ele recebesse jamais esqueceria dos dias que passaram naquela pequena cabana na Praia, com tábuas soltas e carcomidas pelo tempo, sobrevivendo alguns dias com um pequeno pedaço de pão, e se tivessem sorte um pouco de peixe.

-Ja sei! -Wriothesley levantou-se em um salto e saiu apressado. Os passos ecoando no piso de granito.

Neuvillette franziu o cenho sentindo a cabeça doer. Vez ou outra ele simplesmente não sabia como reagir as atitudes e ações repentinas de seu amigo, então fez o que costumava fazer nessas situações, sentou-se e aguardou.

Depois de mais ou menos meia hora. Wriothesley subiu a escada com uma criança a tira colo. O menino parecia enfezado e um tanto sujo. Seus pezinhos estavam machucados e ele usava um roupa surrada.
Ele debateu-se e abocanhou o braço do Duque, duas vezes tentando libertar-se.

-Me solte! Seu louco. -Esperneou o garoto.

-O que você está fazendo? -Neuvillete sentiu a palpebra temer, mas procurou manter-se calmo.

-Eu trouxe alguns meninos da rua para jantarem com a gente. -Disse com um sorriso radiante.

Logo alguns dos guardas subiram com uma quinzena de meninos e meninas. Alguns choravam, outros gritavam e haviam aqueles que observavam a comida com olhos brilhantes.

-Comam! -A voz de Wriothesley, calma e profunda, de quem não aceitava ser contestado. Um a um as crianças sentaram ao redor da mesa e começaram a devorar a comida, silenciosos, alguns tímidos e outros desconfiados.

Neuvillette riu baixinho.

-Você é impossível.

Aquela talvez tenha sido a primeira vez que tomou consciencia do quanto amava Wriothesley e que consequentemente havia se apaixonado pelo amigo, e porque não? Ele era forte, bonito, inteligente e divertido. Qualquer pessoa com senso comum se apaixonaria por ele.

Mas não era só isso. Era o fato de que ele movera o mundo apenas para tornar a vida melhor para os dois.
Os dois.
Seria sempre assim, enquanto ele vivesse.
Ou pelo menos, era o que pensava naquela época.

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⏰ Última atualização: Oct 23 ⏰

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O Oceano Sagrado e a Máscara da DorOnde histórias criam vida. Descubra agora