Mas ele não fugiria. Wriothesley nunca fugiria...

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"Dá para se manter vivo de muitas formas, nas ocasiões em que tudo parece desmoronar. Dá para se manter vivo mesmo quando não sabemos quem somos e dá para se manter vivo quando descobrimos o que somos mesmo que isso não agrade tanto."

                             -Entre Lâminas
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Em meados da primavera foi a primeira prova imposta pelos sentinelas de Mints.
Depois de uma longa caminhada que durara quase dois dias, Neuvillette e Wriothesley chegaram a capital real Onhyria. Ao redor do  castelo não havia muros, como era de se esperar. Era uma construção erguida sobre quatro torres douradas que pareciam flutuar sobre a terra. Bem no centro havia uma escadaria brilhante que conduzia até a entrada principal, onde dois portões de ouro maciço permaneciam sensatamente fechados.
Mas não era Ali que eles realizariam a prova. Mais adiante localizava-se  o palácio do julgamento, morada dos 3 Juízes príncipais de Mints.

Este posicionava-se de forma esplendorosa, porém assustadora, sobre o chão de pedra. O prédio era cinza com grandes portas douradas, cercado por um pequeno exército de uma centena de homens. Trajados com o uniforme dourado que representava a grandeza e riqueza do reino.

Neuvillette observou que essa riqueza não se estendia muito além dos limites da capital.

O pátio estava cheio de garotos e garotas, jovens assim como eles. Alguns mantinham uma expressão carregada de esperança e determinação assim como seu amigo, e outros estavam sérios, mesmo assustados, pareciam saber exatamente o que os aguardava.

As lanças tilintaram uma nas outras anunciando a chegada dos três pilares de Mints. Muitos rostos ergueram-se cheios de curiosidade pondo-se a observá-los.

-Bom dia jovens! - A voz de um homem ergueu-se parecendo vir de todos os lados da multidão.

-Fico feliz em ver tantos rostos jovens dispostos a proteger nossa gloriosa Mints... Ou morrer tentando. -Um riso nervoso ecoou pela multidão.

-Suponho que a maioria de vocês nunca me viu, então deixem que eu me apresente. Sou Sunise, líder do grupo dos sentinelas do sol e responsável por manter o dia seguro. - O homem que apareceu diante da multidão, era muito belo. Possuía cabelos castanhos e olhos profundamente verdes, a pele morena e bastante bronzeada, em contraste com seu sorriso largo. Parecia o tipo de pessoa fácil de conversar e fácil de agradar.

-Tcs. Esqueceu de dizer de sua predisposição para falar sobre si mesmo. Eu sou Seled, líder dos sentinelas da lua e responsável por manter a noite Segura. - Seled possuía uma aparência muito única. Cabelos cinzentos, como se fosse uma pessoa extremamente velha, mas seu rosto era perfeitamente jovem, com olhos tão claros que parecia não possuir pupilas, e a pele branca como a neve mais pura. Era um pouco mais alto que Sunise.

Por fim uma mulher se adiantou, usava um tapa olho e uma espada longa repousava em sua cintura, usava luvas e roupas escuras. Os ventos agitavam seus cabelos em cachos escuros como azeviche, e a pele retinta fazia sua beleza resplandecer, como os deuses de outrora.

-Sou Enímia. Juíza e comandante suprema dos sentinelas de Mints. -Os outros dois Juízes se curvaram para a mulher e a multidão permaneceu em silêncio tamanha era a força dela.

-Vamos começar. -Ordenou com a voz calma, porém ecoando, a voz de quem estava acostumada a comandar e ser obedecida sem nenhum questionamento.

Sunise estalou os dedos e algumas centenas de guardas se aproximaram, com suas lanças postas prontos para lutar.

-Os participantes se aproximem! E os acompanhantes por favor, assistam da arquibancada. Não desejamos nenhum contratempo, não é mesmo? -Sorriu.

Depois de alguns minutos Neuvillette estava sentado naquela arquibancada a alguns bons metros de Wriothesley. Algo dentro dele se agitava, sabia que ele era forte, mas ninguém nunca soube exatamente do que se tratava aquela prova.

-Sobrevivam! - Sunise ordenou. E uma gargalhada ecoou em meio aos gritos dos jovens da multidão.

Wriothesley viu o jovem que estava ao seu lado ser atravessado por uma lança. Ele sequer trouxera armas, contava apenas com os próprios punhos.

Neuvillette tentou se mover, mas seu corpo não respondia. Não conseguia alcançar o olhar do seu amigo. Mas em seu coração ele suplicava.

Sabia daí!

Fuja!

Por favor!

Mas ele não fugiria. Wriothesley nunca fugiria, ele conhecia a determinação do outro mais do que ninguém.

Na arquibancada algumas lágrimas rolavam em rostos silenciosos, mas assim como Neuvillette eles permaneciam imóveis.
Dentro da arena Wriothesley se movia veloz como um lobo, pronto para se defender, aqueles guardas possuíam anos de treinamento e estavam armados, nunca que aquilo seria uma luta justa. Mas a vida, ele tinha certeza, nunca fora justa com ele.
Ele encarou Neuvillette sabendo que mesmo que não esboçasse nenhuma reação, ele estava agitado, pois nuvens escuras começavam a encher os céus e pingos grossos começaram a açoitar os rostos dos presentes alí.

Por isso ele continuou a lutar, até que seus punhos sangrassem e não restasse um homem com lança de pé, trinta minutos depois, Sunise ergueu a mão e os guardas baixaram as lanças feito robôs.

Wriothesley olhou ao redor, seu rosto suado e salpicado de Sangue, os músculos retesados e as mãos doloridas pelo esforço que fizera, apenas cinco pessoas continuavam de pé além dele. Fois meninos que não pareciam ter mais do que quinze anos e três garotas que permaneciam com as expressões fechadas.

Por um momento o som da chuva grossa era tudo o que se ouvia e ele permanecia deste modo deixando a água lavar seus ferimentos, sentia-se exausto, como se pudesse desabar a qualquer momento.

-Muito bom! - Emínia levantou-se com um sorriso bestial expondo os caninos extremamente afiados.

A platéia permanecia emudecida, a maioria não fazia ideia das atrocidades que aconteciam com aqueles que faziam o exame, embora tenha se ouvido rumores. Estes nunca chegaram aos ouvidos de  Neuvillette e Wriothesley que viviam numa choupana simples em uma parte mais remota no litoral.

-Vocês provaram seu valor em frente a uma batalha sangrenta! Aqueles que não tem capacidade de se adaptar as mundanças bruscas e circunstânciais não servem para a exercer a justiça em Mints.

Os punhos de Wriothesley fecharam-se e ele engoliu a raiva que sentia, encarou o amigo na platéia e forçou-se a permanecer focado no seu objetivo principal.

Manter seu amigo seguro e a salvo, onde não precisasse lidar com os julgamentos. Mas haveria um lugar onde ele pudesse viver desta forma em um reino que tratava vidas jovens e promissoras  tão levianamente?

Ele mirou a juíza suprema, que os encarava com olhos inescrutáveis.

Se aquilo era a justiça de Mints, ele não queria fazer parte dela.

O Oceano Sagrado e a Máscara da DorOnde histórias criam vida. Descubra agora