Consequências

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Marcus observava a silhueta de sua esposa através da imensa janela de vidro. Era sábado à tarde e nenhum dos dois teria atendimento no hospital. Ela estava sentada em uma das poltronas do terraço com uma xícara de chá e um livro, não se importava com o frio Londrino, já que o mesmo nem se comparava ao rigoroso inverno em sua terra natal. Respirou fundo e voltou para perto da lareira, estavam casados há cinco anos e muita coisa havia mudado. Achava que a mudança de país ajudaria com as discussões, porém não se pode fugir dos problemas que pairam sob a mesma cama onde dorme.

A única coisa em que ainda eram bons, era no sexo. Caroline era extremamente fogosa e sempre instigava o marido a se reinventar, porém nem só de sexo vive um casamento. Ele queria ser pai, queria constituir uma família e tinha pressa... Embora a esposa parecesse não partilhar do mesmo pensamento e tinha outros planos. Caroline era ambiciosa, queria ter estabilidade financeira antes dos quarenta e construir uma carreira sólida. Um filho a essa altura iria tomar seu tempo e sua disposição, coisa que a mulher não gostaria, principalmente quando estavam iniciando um novo trabalho na Inglaterra.

– O que vamos pedir para o jantar? Esquecemos de fazer compras de novo – Carol disse entrando na sala aquecida pelo fogo.

–  Você escolhe, eu escolhi ontem.

Ela arqueou a sobrancelha, conhecia o esposo bem demais para saber que algo o incomodava e pelo modo como estava encarando o fogo, já sabia exatamente os tipos de pensamento que povoavam a mente do pediatra.

– Podemos pedir comida japonesa.

– Prefiro algo mais quente.

– Uma massa talvez?

– Eu fico com fome quando como massa…

Carol revirou os olhos e caminhou até ficar em frente ao marido.

– Então diga de uma vez por todas o que quer, der'mo!

Ele riu.

– Hambúrguer.

Ela revirou os olhos

– Mais calóricos impossível, mas eu aceito. Vou tomar um banho e você pode pedir enquanto isso.

Ela colocou a xícara e o livro sobre a bancada, se preparando para ir ao interior da casa.

– Precisamos conversar, ursinha.

Ela respirou fundo e o encarou.

– Se for sobre eu engravidar, não precisamos.

– Estamos em um relacionamento, esse assunto diz respeito a mim também.

– Meu bem, eu realmente não posso engravidar agora.

Ele se levantou e caminhou até ela.

– Não é agora, é sempre... Porra, nós não somos mais adolescentes... Logo teremos trinta e poucos anos e depois quarenta. Quando pretende ter filhos?

– Marcus... Não quero discutir de novo.

– Não é uma discussão... É uma conversa. Quando pretende ter filhos? Se é que realmente pretende.

– Eu não sei... Talvez eu não seja do tipo que aprecia a maternidade.

– Mas quando casamos você vivia dizendo que pretendia ter filhos, que queria que eles tivessem meus olhos e a sua determinação. Eu ainda quero isso... Uma criança com as nossas características... O que mudou?

– Nada mudou – Caroline disse se afastando do olhar do marido.

– Algo mudou, tem que ter mudado... Você não é mais a mesma, parece triste e amargurada... Eu não posso simplesmente ignorar que algo acontece com a minha esposa.

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