Capítulo 5

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RUBI ALMEIDA

As horas se transformaram em dias, e os dias se misturaram na escuridão opressiva daquele quarto. O tempo perdeu o sentido enquanto eu estava trancada, isolada do mundo exterior. A única companhia que tinha era o eco dos meus próprios pensamentos, que rodopiavam incessantemente em minha mente. A escuridão me sufocava, as paredes pareciam se fechar cada vez mais, e a única luz que entrava era o reflexo distante das luzes da periferia que piscavam através da janela estreita e alta, onde o mundo real parecia estar tão fora de alcance quanto meus sonhos de liberdade.

A porta finalmente se abriu, e a luz do corredor invadiu o quarto, me forçando a fechar os olhos por um momento. Morgana entrou, seu olhar afiado como uma lâmina, avaliando cada centímetro da minha alma. Ela se movia com uma graça fria e calculista, seus longos cabelos negros caindo como um véu ao redor do rosto. Usava um vestido vermelho colado ao corpo, que acentua suas curvas de forma quase predatória, e seus saltos altos ecoavam no chão como um martelo batendo, anunciando seu domínio sobre aquele lugar. Morgana era bela, mas sua beleza tinha um tom cruel, uma beleza perigosa que ocultava veneno em cada palavra e gesto.

Ela me estendeu o celular, um sorriso malicioso curvando seus lábios pintados de carmim. - Você pode fazer uma ligação, Rubi. - Sua voz era doce, quase gentil, mas havia um fio de malícia perceptível. - Apenas uma.

Peguei o celular com as mãos trêmulas. O suor escorria pela minha testa, o medo misturado com a adrenalina de um plano improvisado. Disquei o número de Alice. O telefone tocou, cada segundo de espera me corroendo por dentro. Finalmente, Alice atendeu, sua voz soando preocupada e aliviada ao mesmo tempo.

- Rubi? Onde você está? Estou preocupada!

Eu sabia que não podia dizer nada diretamente, mas tinha que passar a mensagem. Cada palavra tinha que ser cuidadosamente escolhida.

- Estou bem, Alice. Estou em um lugar onde posso ver toda a cidade de cima... Você sabe, o Morro da Coroa sempre foi um ótimo lugar para se ter uma vista assim.

Houve uma pausa do outro lado da linha. Alice era esperta, e eu sabia que ela entenderia o recado.

- Rubi, você precisa sair daí! - Sua voz estava carregada de desespero.

Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, Morgana arrancou o celular da minha mão, o olhar dela agora tão gélido quanto o aço.

- Chega de brincadeiras, Rubi. - Ela desligou o telefone, deixando o som da voz de Alice chamando meu nome ecoar no ar por um segundo antes de tudo cair no silêncio novamente.

Morgana jogou o celular de lado e se aproximou, seus olhos perfurando os meus como duas adagas. - Você é esperta, mas não o suficiente. Agora, aqui está a sua nova proposta. - Ela se abaixou até ficar ao nível dos meus olhos, seu hálito quente em meu rosto. - Você vai passar uma noite com o verdadeiro dono deste lugar. Uma noite com o *Francês*. Se o agradar, talvez eu considere suavizar sua dívida.

Minha mente correu. Rafael, o Francês. Eu sabia quem ele era - o líder da facção que controlava aquela área do norte do Rio de Janeiro. Este era o ponto inicial do meu plano. Se eu pudesse entrar no círculo dele, talvez houvesse uma chance de virar o jogo.

- Eu aceito. - As palavras saíram mais firmes do que eu esperava, surpreendendo até a mim mesma.

O sorriso de Morgana se alargou, como se ela estivesse apreciando cada segundo da minha submissão. Mas, antes que pudesse continuar, a porta se abriu com força, e Luciano entrou. Ele olhou de mim para Morgana, seus olhos escuros cheios de uma fúria contida.

- Ela não vai a lugar nenhum! - Ele rosnou, se aproximando de Morgana com uma postura agressiva. - Você sabe o que está fazendo, Morgana? Ela não é uma das suas putas para você manipular!

Morgana girou nos calcanhares, sua expressão mudando para um desprezo glacial. - Cale a boca, Luciano. - A voz dela era fria, autoritária, sem espaço para questionamentos. - Vá cuidar dos seus rituais e deixe assuntos importantes para mim. Você se esqueceu do seu lugar?

Luciano hesitou por um momento, mas a fúria em seus olhos permaneceu. Ele olhou para mim, seus lábios tremendo como se quisesse dizer algo mais, mas se conteve. O controle de Morgana sobre ele era evidente. Com um último olhar penetrante, ele se virou e saiu, batendo a porta atrás de si com força suficiente para fazer as paredes vibrarem.

Morgana se virou para mim novamente, seus olhos frios, mas agora com um brilho de satisfação. - Como eu disse, Rubi. Você vai se encontrar com o Francês. Prepare-se.

Ela me puxou para fora do quarto e me conduziu pelos corredores da Área dos Desejos até chegarmos ao escritório dela. O lugar exalava poder e controle, com paredes escuras adornadas com pinturas eróticas e móveis de couro preto que brilhavam sob a luz suave dos abajures. Havia um grande espelho atrás de sua mesa, refletindo a imagem de quem quer que estivesse sentado na cadeira. Morgana se sentou em sua cadeira de couro, cruzando as pernas com elegância, enquanto me observava como uma predadora estudando sua presa.

- Entenda uma coisa, Rubi. - Sua voz era baixa e afiada, cada palavra um aviso. - Este é o meu domínio, e aqui, tudo acontece sob as minhas regras. Você pode ter suas ambições, mas não se esqueça de quem realmente manda aqui.

Eu me recostei na cadeira em frente a ela, sentindo a tensão pulsar em minhas veias. Morgana era o tipo de mulher que poderia destruir uma pessoa com um único olhar, mas havia algo nela que eu não podia ignorar - uma vulnerabilidade escondida, talvez, ou uma falha na sua armadura de ferro que eu poderia explorar.

Mas, por enquanto, eu sabia que precisava jogar o jogo dela. Morgana tinha o controle, mas eu estava determinada a encontrar uma maneira de virar a maré. A noite com o Francês. Era apenas o começo. Eu só precisava ser esperta, ser paciente, e esperar pela minha oportunidade. A escuridão ao meu redor não iria me consumir. Eu iria usá-la a meu favor, de uma forma ou de outra.

- Estou pronta. - Disse finalmente, minha voz calma, mas determinada.

Morgana apenas sorriu, um sorriso que não chegava aos olhos. - Veremos, Rubi. Veremos.

E assim, a noite se aproximava, com seus segredos sombrios e perigos ocultos. Eu estava prestes a entrar em um novo jogo, um jogo onde as apostas eram mais altas do que nunca, e onde perder poderia significar muito mais do que a minha própria vida.

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