Capítulo 9

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Rubi Almeida

Estava sentada na beirada da cama, sentindo o peso do mundo em meus ombros. O som abafado dos gemidos e risadas distantes da Área dos Desejos invadia o quarto, misturando-se com o ar carregado de tristeza que me envolvia. Tudo parecia amplificar as palavras que Rafael, o Francês, havia sussurrado mais cedo: "O documento está no escritório de Morgana. Aquilo que pode mudar tudo." Elas giravam na minha mente como um veneno, enquanto eu encarava a escuridão do quarto, lutando para controlar a raiva que crescia dentro de mim.

Lena se remexia ao meu lado, o rosto marcado pelo sofrimento recente. Cada vez que ela suspirava de dor, meu coração se partia um pouco mais. Passei a mão suavemente pelas costas dela, tentando acalmá-la, mas o ódio fervia em meu peito. A imagem de Manuel, provavelmente em algum quarto realizando as tarefas sujas que aquele lugar exigia, só aumentava minha revolta. Eles mereciam algo melhor. Eu precisava fazer algo.

Respirei fundo e me levantei com cuidado. Lena finalmente tinha conseguido dormir depois de horas de choro e desespero. Não podia arriscar acordá-la agora. Caminhei em silêncio até a porta de madeira envelhecida e a abri devagar, tentando não fazer barulho. As dobradiças rangiam, mas não o suficiente para alertar ninguém.

Ao sair, o corredor à minha frente parecia mais sombrio do que nunca. As paredes de concreto, frias e impessoais, formavam um caminho que parecia se estender para sempre. Sabia que precisava ser cuidadosa. Qualquer movimento em falso e poderia perder tudo. Comecei a andar, cada passo meticulosamente calculado para evitar ser vista pelos poucos seguranças que rondavam a área.

Quando finalmente cheguei à porta do escritório de Morgana, senti meu coração bater forte no peito. Sabia o que tinha que fazer. Girei a maçaneta e empurrei a porta com firmeza, entrando no escritório mal iluminado. A mesa imponente no centro da sala parecia zombar de mim, como se soubesse que os segredos que eu procurava estavam a poucos passos de distância.

Caminhei até a mesa, sabendo exatamente onde procurar. Rafael tinha me dito que o documento estava na segunda gaveta, trancada. *Nada que eu não consiga resolver,* pensei, lembrando das lições que Igor, meu irmão, me ensinou quando éramos crianças. Peguei um grampo de cabelo e, com a habilidade que ele me ensinou, destravei a fechadura em poucos segundos.

Quando finalmente consegui abrir a gaveta, um misto de alívio e ansiedade tomou conta de mim. Lá estava o documento que poderia mudar tudo. Eu o segurei, sentindo seu peso, mas antes que pudesse examiná-lo, ouvi o som inconfundível de saltos altos se aproximando. O pânico me paralisou por um momento, e meu instinto me mandou agir rápido. Me escondi debaixo da mesa, segurando o documento contra o peito, tentando desesperadamente acalmar minha respiração.

Os passos pararam na entrada, e então a porta se abriu. Morgana entrou acompanhada de alguém que eu não reconheci. As vozes deles eram frias e calculistas, como se estivessem discutindo a compra de mercadorias, e não de vidas.

- Confie em mim, Morgana. Iremos transformar esse lugar em algo muito mais lucrativo - disse a voz desconhecida, carregada de confiança.

O som da risada de Morgana me fez querer sair do meu esconderijo e confrontá-la ali mesmo, mas eu sabia que precisava ser paciente.

- Eu espero que sim - respondeu Morgana, com um desprezo que fazia meu estômago revirar. - Esse lugar já traz muito dinheiro, mas eu quero mais. São só prostitutos, afinal. Eles vêm e vão, e os clientes pagam bem. Não me importo com o que eles sofrem, desde que eu continue lucrando.

As palavras dela cortavam como facas. Cada frase, cada sílaba, só alimentava minha raiva. O outro homem parecia concordar, mantendo seu tom frio e profissional.

- Quando isso se tornar um local privado, a exclusividade vai aumentar o valor. Podemos cobrar o que quisermos, e ninguém vai questionar. A dor deles será o nosso lucro, e o desejo, a nossa moeda. Mas para isso, precisamos garantir que tudo esteja em ordem. Os documentos, as licenças... é um investimento que vale a pena.

Minha mente fervilhava. Eles estavam falando de transformar aquele lugar em algo ainda pior. Morgana não estava apenas se contentando em explorar, ela queria expandir, lucrar ainda mais com a miséria de outros. E ali, escondida debaixo da mesa, ouvi toda a crueldade que ela planejava.

- Então, como vamos lidar com qualquer interferência? - perguntou Morgana, com uma calma que só aumentava minha aversão.

- Isso não será um problema - respondeu o homem, confiante. - Tenho pessoas para cuidar de qualquer resistência. Só precisamos manter o foco e garantir que tudo siga conforme o planejado. E você, Morgana, será a rainha deste império de desejos. Ninguém vai ousar desafiar sua autoridade.

As palavras dele pareciam apaziguar Morgana, que respondeu com um sorriso que eu podia sentir, mesmo sem vê-lo:

- Excelente. Vamos transformar esse lugar em algo grande. E se algum deles causar problemas, bem, você sabe o que fazer.

Eles saíram do escritório, e eu fiquei ali, ainda escondida, esperando até ter certeza de que o corredor estava vazio. Quando finalmente saí do meu esconderijo, com o documento em mãos, senti uma onda de determinação me inundar.

Com o coração acelerado, comecei a caminhar de volta pelo corredor escuro. A tensão ainda pulsava em minhas veias, e cada sombra parecia um perigo iminente. Eu precisava voltar para o quarto, para Lena, mas uma voz fria interrompeu meus pensamentos.

- Rubi, onde você pensa que vai?

Virei-me bruscamente, o coração disparado. Luciano estava ali, na penumbra do corredor. Seus olhos fixaram-se nos meus, e antes que eu pudesse reagir, ele avançou e agarrou meu braço com força, fazendo-me gemer de dor.

- Vem comigo - ele sussurrou, sua voz grave e controlada. - Precisamos conversar, mas longe da Área dos Desejos.

A dor em meu braço era intensa, mas o tom dele me fez hesitar. Antes que pudesse protestar, ele começou a me arrastar pelo corredor, e minha mente lutava para entender o que estava acontecendo. A onde ele pretendia me levar? O que Luciano queria comigo? E por que ele parecia tão desesperado para sair daquele lugar?

Minha curiosidade crescia a cada passo que dávamos. Passamos pelos corredores silenciosos, evitando a atenção de qualquer um que pudesse nos ver. Luciano não disse mais nada, e a força com que ele me segurava não deixava espaço para questionamentos. Ele estava decidido, mas eu não conseguia discernir se ele estava agindo por desespero ou algo mais.

Finalmente, ele me empurrou para dentro de um carro estacionado em uma área pouco iluminada. O motor já estava ligado, como se ele tivesse planejado tudo com antecedência. Meu coração batia descontrolado, mas a curiosidade era maior que o medo.

Enquanto ele acelerava, a escuridão da noite nos envolvia, e eu sabia que estava prestes a descobrir algo importante. Algo que poderia mudar tudo.

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⏰ Última atualização: Oct 24 ⏰

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