Capítulo 6

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RUBI ALMEIDA

Olhei para o espelho pela última vez antes de sair. O vestido vermelho que escolhi parecia feito sob medida para mim, abraçando cada curva com precisão. O tecido suave acariciava minha pele, e os sapatos de salto alto alongavam minhas pernas, dando-me uma postura firme e elegante. Meus cabelos ruivos, soltos e ondulados, caíam como uma cascata de fogo sobre meus ombros, contrastando com o tom pálido da minha pele. Passei um batom vermelho nos lábios, a cor vibrante completando o visual que eu desejava: um equilíbrio perfeito entre sedução e poder.

Por dentro, porém, meu coração estava disparado. Encontrar-me com o Francês era arriscado, mas necessário. Eu sabia que o controle era a chave para sobreviver a esse jogo perigoso, e o controle começava com a maneira como me apresentava.

Respirei fundo, ajustando os últimos detalhes. Precisava parecer calma, confiante. Qualquer sinal de fraqueza poderia ser fatal.

Enquanto descia o corredor, senti a tensão no ar, como se algo estivesse prestes a acontecer. A Área dos Desejos estava estranhamente silenciosa, e os olhares dos guardas que me seguiam eram distantes, quase mecânicos. Eles não eram mais do que sombras, meros espectros do poder que Morgana exercia sobre aquele lugar.

Virei a esquina e dei de cara com Luciano. Ele estava ali, como uma sombra imponente, bloqueando minha passagem. Seus olhos escuros fixaram-se em mim, uma mistura de raiva e desejo queimando em seu olhar.

- Para onde pensa que vai? - Sua voz era um rosnado baixo, carregado de emoções que ele tentava, em vão, conter.

Ergui o queixo, encarando-o de volta, sem deixar que ele me intimidasse. A presença dele sempre me afetava de uma forma que eu odiava admitir, mas eu não ia deixar isso transparecer.

- Você sabe muito bem para onde estou indo, Luciano - respondi, minha voz firme, mas carregada de desafio.

Luciano deu um passo à frente, seu corpo quase tocando o meu. Senti o calor que emanava dele, uma energia intensa que fazia o ar entre nós vibrar.

- Não vou deixar você ir - ele disse, tirando uma arma do cinto e segurando-a com firmeza. - Terei que usar isso, caso você não me obedecer.

Soltei uma risada sarcástica, olhando para a arma e depois para o rosto de Luciano. - O que você tanto se preocupa? Quando aquele barrigudo quase me estuprou, você não estava tão dramático assim.

A expressão dele endureceu, seus olhos brilhando com uma fúria reprimida. - Não seja tola, Rubi. Como você acha que aquela faca foi parar no bolso dele?

Piscando, surpresa, minha mente correu para processar o que ele acabara de dizer. Aquele incidente que eu sempre achei ser sorte ou habilidade minha... Será que Luciano havia interferido? Isso mudava tudo.

- Você... - comecei, mas as palavras ficaram presas na garganta. Antes que pudesse pensar em algo para dizer, Luciano avançou, segurando-me pela garganta.

Senti a pressão dos dedos dele em minha pele, a força por trás do gesto. Mas, ao invés de medo, o que tomou conta de mim foi uma mistura de raiva e algo mais sombrio, um desejo que eu odiava admitir, mas que não podia negar.

- Você é muito estúpida! - Luciano rosnou, aproximando o rosto do meu, até que seus lábios estavam a milímetros de distância. - Não queria usar isso, mas se você der um passo para fora daqui, vai ser a última coisa que fará.

O olhar dele era feroz, desesperado, como se estivesse lutando consigo mesmo. E, antes que eu pudesse reagir, ele me beijou.

O beijo foi tudo menos gentil. Foi um ato bruto, carregado de todo o desejo e raiva que ele reprimiu por tanto tempo. Eu retribuí com a mesma intensidade, minha própria raiva se transformando em algo físico, uma faísca que acendeu uma chama avassaladora.

Nos movemos pelo corredor, perdendo-nos na urgência do momento, até que, sem perceber, estávamos dentro de um dos escritórios da Área dos Desejos. Era o escritório de Morgana, e a ironia da situação não passou despercebida para mim.

Luciano me empurrou contra a cadeira de couro, sentando-se e puxando-me para seu colo. Senti sua excitação contra meu corpo, e isso apenas alimentou minha própria urgência. Comecei a me mover sobre ele, lentamente, sentindo cada centímetro, enquanto o observava pelo reflexo no grande espelho atrás da mesa de Morgana.

Meus olhos encontraram os meus próprios no espelho, e eu parei, um sorriso sarcástico curvando meus lábios. Eu era uma jogadora naquele jogo, e estava determinada a vencer.

- Queria seu pau dentro de mim... - sussurrei, minha voz um desafio. - Mas não será desta vez.

Deslizei minhas mãos para dentro da calça de Luciano, sentindo a textura da pele quente e o músculo tenso sob meus dedos. Ele prendeu a respiração, os olhos fechando-se brevemente, como se estivesse tentando reter o controle. Meus dedos moviam-se com precisão, alternando entre carícias suaves e toques provocantes, antes de se retirarem lentamente, deixando um rastro de calor e desejo.

Levei os dedos à boca, o olhar fixo no dele, enquanto lambia-os devagar, saboreando cada gota com uma sensualidade deliberada. Minha língua dançava em movimentos lentos e provocativos, saboreando a mistura do gosto amargo do whisky que ele havia bebido e o salgado da pele. Eu podia ver o efeito que tinha sobre ele; o brilho nos olhos de Luciano era inconfundível, um misto de desejo e frustração.

Ele ficou em silêncio, tentando controlar a respiração irregular. Luciano sempre fora o predador, mas naquele momento, ele estava à minha mercê. Seus lábios se abriram como se fosse falar, mas nenhuma palavra saiu. Sabia que nada do que dissesse poderia impedir o que estava por vir. E talvez, no fundo, ele nem quisesse.

Mantive o olhar fixo nele por mais alguns segundos, minha expressão um misto de triunfo e desafio. Eu o tinha exatamente onde queria. Com um último olhar de superioridade, levantei-me, a saia ajustada delineando minhas curvas enquanto me afastava da mesa de Luciano. Meus saltos ecoaram no piso de mármore do escritório, cada passo carregando a promessa do que estava por vir.

Quando alcancei a porta, virei-me por um breve momento, observando-o uma última vez. Luciano ainda estava sentado, os punhos cerrados, os músculos tensionados como se estivesse lutando contra a tentação de me seguir. Ele nunca cedia o controle facilmente, mas desta vez era diferente. Senti uma nova força pulsando dentro de mim, algo que nunca havia experimentado antes.

Saí do escritório, e a brisa fresca da noite encontrou-me, trazendo consigo a antecipação do que viria a seguir. Ajustei o casaco sobre os ombros, sentindo-me mais no controle do que nunca. Cada passo que eu dava me aproximava mais do meu próximo alvo. Eu tinha um plano e estava determinada a segui-lo até o fim, mesmo que isso significasse atravessar territórios perigosos.

O Francês me esperava, e com ele, o verdadeiro desafio. Mas eu não tinha medo. Na verdade, o perigo me excitava, fazia-me sentir viva. Sabia que teria que ser cautelosa, que cada movimento precisaria ser calculado com precisão, mas eu estava pronta.

A noite estava apenas começando, e enquanto as luzes da cidade brilhavam ao longe, eu sentia o poder fluindo por minhas veias. O jogo estava prestes a começar, e desta vez, eu ditaria as regras.

Entrei no carro que me aguardava, o motor rugindo suavemente enquanto me afastava do prédio. Com os olhos voltados para a estrada à frente, permiti-me um sorriso. O verdadeiro jogo ainda estava por vir, e eu estava pronta para jogar - e vencer.

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