𝚇𝚎𝚛𝚒𝚏𝚎 - Pᴀʀᴛᴇ 1

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𝐂𝐥𝐚𝐬𝐬𝐢𝐟𝐢𝐜𝐚𝐜̧𝐚̃𝐨: 𝐄𝐧𝐞𝐦𝐢𝐞𝐬 𝐭𝐨 𝐋𝐨𝐯𝐞𝐫𝐬

𝐂𝐨𝐧𝐭𝐞́𝐦 𝐩𝐚𝐥𝐚𝐯𝐫𝐨̃𝐞𝐬

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Chovia torrencialmente naquela noite e tudo o que eu mais queria era chegar logo em casa e tirar aquelas roupas encharcadas que ameaçavam congelar todo o corpo. Ansiava por um longo banho de banheira para em seguida assistir ao jornal da noite, em que eu apareceria falando sobre o meu empreendimento de sucesso, o mais novo e mais bem sucedido brechó da cidade de Union, Kentucky.

Talvez eu estivesse dirigindo um pouco acima do limite permitido para aquela estrada, mas ninguém além de mim passava por lá. E se eu quisesse tomar o meu prazeroso banho antes do noticiário, eu precisava correr.

Tinha saído tarde da loja pois uma senhora estava bem indecisa quanto a que vestido levar, e eu não podia simplesmente acelerá-la a ir embora. Esse era um dos diferenciais do meu negócio, os clientes estavam sempre em primeiro lugar.

Mas se eu não estivesse pensando nela e prestado mais atenção na minha frente, teria visto a sirene do carro do xerife piscando em vermelho e azul, e reduzido a velocidade antes de me aproximar. Obviamente isso não ocorreu e o xerife fez sinal para que eu encostasse, e obedientemente, assim eu fiz. A chuva já estava mais branda naquela altura.

Colocando uma máscara de inocência em meu rosto, abaixei o vidro da janela.

— Boa noite, senhorita — ele falou, em um tom polido, o reflexo da luz da sirene do carro refletindo em seu rosto. Seus cabelos eram escuros, assim como seus olhos.
— Boa noite, xerife — respondi, docemente.
— Você não acha que estava indo muito rápido para uma noite chuvosa como essa?
— Rápido? Não, eu sempre ando nesta velocidade — falei, fingindo-me de desentendida.
— Então é um costume seu andar sempre acima do limite de velocidade?
— Acima do limite de velocidade? Não acho que eu estava acima do limite de velocidade.
— Então achou errado. 20km a mais do que o limite, eu mesmo registrei aqui — declarou ele, apontando para um pequeno aparelho medidor de velocidade que estava no capô de seu carro. — Posso ver sua habilitação, senhorita?
— Claro — eu falei, virando-me em direção ao banco do motorista para pegar minha bolsa. Mas a visão do banco vazio fez meu coração parar por um momento.

Onde estava minha bolsa? Soltei o cinto e estiquei-me até o banco de trás, mas nenhum sinal dela. Procurei também no chão, e nada. Merda. Eu provavelmente a tinha esquecido na loja, quando saí com pressa para tentar escapar da chuva.

— Algum problema? — perguntou ele, apontando uma lanterna para dentro do meu carro.
— Eu... eu acho que esqueci minha bolsa no trabalho – respondi, deixando transparecer em minha voz a tensão que eu sentia naquele momento.
— Então acho que temos um problema — declarou ele, respirando fundo. — Você vai precisar me acompanhar até a delegacia.
— Delegacia? — perguntei, meu coração acelerado. Eu não podia ir parar na delegacia por estar sem meu documento. Podia? — Por que você simplesmente não me escolta até meu trabalho? Eu recupero minha bolsa, te mostro minha habilitação e está tudo resolvido.
— Eu gostaria muito de fazer isso, mas não é assim que as coisas funcionam em Union, senhorita... — ele fez uma pausa, como se tentasse se lembrar de algo. — Acho que ainda não sei seu nome.
— S/S. Sou S/S S/N.
— Senhorita S/S, queira me acompanhar, por favor — falou ele, abrindo a porta do meu carro.

Impassível, fitei-o por alguns segundos, xingando-o mentalmente com todos os palavrões que eu conhecia.

— Posso pegar um guarda chuva para você, se quiser — ele completou, percebendo minha hesitação.— Não precisa, já estou mesmo encharcada, alguns pingos a mais não irão fazer a menor diferença — respondi, de modo seco.

𝐈𝐦𝐚𝐠𝐢𝐧𝐞𝐬 𝑱𝒐𝒔𝒉 𝑯𝒖𝒕𝒄𝒉𝒆𝒓𝒔𝒐𝒏Onde histórias criam vida. Descubra agora