LYANNA III STARK SABIA QUE ESTAVA CONDENADA no instante que cortaram a cabeça de seu pai, Lorde Eddard Stark, mão do Rei Robert Baratheon. Desde que deixaram Winterfell para viver em Porto Real, Lyanna sentia que algo estava fora do lugar e uma somb...
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A NEVE SE AGARRAVA ÀS BOTAS de Lyanna Stark enquanto ela avançava pela floresta densa e silenciosa do Norte. A lua, cheia e brilhante, pendia alta no céu, derramando uma luz pálida sobre a paisagem gelada. As árvores ao seu redor eram sombras altas e esqueléticas, parecendo guardiãs antigas do mundo esquecido antes do tempo. Cada passo que ela dava produzia um som suave, abafado pela neve que cobria o solo como um manto.
Havia dias que Lyanna estava na trilha seguindo os rastros de uma matilha que cruzara o Norte. Os ventos traziam o ar frio e o cheiro da caça e ela sabia que estava perto. Mas a verdadeira razão de sua jornada não era apenas a caçada — era a busca por algo que ela perdera muito antes da guerra, antes das traições e das mortes. Era uma busca pela loba que havia sido sua companheira, sua irmã de alma, Auriel.
Auriel havia desaparecido nas profundezas das florestas há muitas luas, deixando um vazio no coração de Lyanna que ela jamais conseguiria preencher. Oberyn havia contratado dois servos para escoltar a loba até a ilha dos ursos assim que Lyanna foi tirada de Porto Real para se casarem em Dorne. Porém, durante a viagem a loba conseguiu escapar antes de chegar ao seu destino. Mas agora, os rastros indicavam que a matilha estava por perto, e um instinto profundo a guiava. Era mais do que esperança; era uma certeza primitiva, algo gravado em seu sangue Stark que lhe dizia que ela estava perto do reencontro.
A trilha se estreitou levando-a a uma clareira. Ao chegar ao centro, Lyanna parou. Ali, a lua iluminava a neve, fazendo-a brilhar como milhares de diamantes espalhados pelo chão. O vento cessou por um momento, e a floresta ficou em um silêncio quase reverente, como se o próprio mundo estivesse esperando.
E então, ela a viu.
No limite da clareira, uma silhueta emergiu das sombras. Grande e majestosa, Auriel estava ali, com o pelo branco e caramelo reluzindo sob a luz da lua. Seus olhos de um âmbar profundo se fixaram em Lyanna, reconhecendo-a instantaneamente. A loba deu um passo à frente, cautelosa, como se estivesse em um sonho.
Lyanna sentiu seu coração disparar, uma mistura de alívio e incredulidade dominando seus pensamentos. Auriel estava mais magra, marcada pelo tempo e pela sobrevivência, mas ainda era a mesma loba que havia sido sua companheira durante os dias mais felizes de sua vida. Um elo indestrutível unia as duas e naquele momento sob o olhar da lua e das estrelas, aquele elo ressoou dentro de Lyanna mais forte do que antes.
— Auriel. — Lyanna sussurrou, sua voz quase se perdendo no vento. A loba parou, os olhos focados nos dela, como se examinasse sua alma. Havia uma tristeza silenciosa ali, uma dor compartilhada por ambas desde a separação. Era uma dor compartilhada, só elas sabiam como havia sido se perder da matilha.
Lyanna avançou lentamente, suas mãos trêmulas, mas firmes, estendendo-se na direção da loba. Auriel não recuou; em vez disso, aproximou-se, seu olhar nunca deixando o de Lyanna. E então, como se o tempo tivesse se dobrado sobre si mesmo, a loba colocou a cabeça sob a mão de Lyanna, aceitando o toque que ela tanto ansiava.
O calor do pelo de Auriel contrastava com o frio ao redor, e Lyanna sentiu as lágrimas se acumularem em seus olhos, embora não as deixasse cair.
— Eu senti sua falta. — Ela sussurrou, sua voz cheia de emoção. — Senti sua falta todos os dias.
Auriel soltou um leve rosnado, um som que Lyanna reconheceu como sendo de conforto e aceitação. A loba, assim como ela, havia percorrido um caminho árduo, mas ali, naquela clareira iluminada pela lua, o passado parecia perder sua força e o presente era tudo o que importava. Mas ainda assim, assim como o Norte, elas se lembravam.
Por longos momentos, as duas permaneceram ali unidas. Lyanna sabia que o mundo fora daquela floresta estava em ruínas, que a guerra ainda não havia acabado, e que havia muito a fazer. Mas ali ela encontrou a paz que procurava por um instante. Auriel estava ao seu lado novamente e enquanto houvesse aquela conexão entre elas, Lyanna sabia que poderia enfrentar qualquer coisa.
A lua e as estrelas brilharam mais intensamente. O vento voltou a soprar suavemente, carregando os cheiros do Norte—de casa, de família, de sobrevivência.
Lyanna olhou para o céu e era como se sentisse a presença de seus ancestrais e de todos os Stark que haviam caminhado por aquelas terras antes dela. E então com Auriel ao seu lado ela sabia que era hora de seguir em frente, de continuar a luta, não apenas por vingança, mas por tudo aquilo que amava. Pelo que era certo. Terminaria sua vida com honra, assim como o seu pai.
Auriel rosnou suavemente e deu um passo à frente como se mostrasse o caminho. Lyanna sorriu e seguiu a loba na escuridão da floresta.
Juntas elas se adentraram a noite, duas almas unidas pelo destino, movendo-se com a certeza de que, enquanto tivessem uma à outra, poderiam enfrentar qualquer inverno que viesse. E Lyanna estava pronta para assombrar os sonhos de Cersei Lannister.
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