Capítulo VII

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A semana não poderia ter começado pior. Além das inúmeras reuniões que me aguardavam, recebi a desagradável notícia de que tinham invadido o museu durante a madrugada anterior. Para meu alívio, não haviam levado nada de valor – fato muito curioso, mas os prejuízos, consequência do arrombamento do portão do depósito junto a burocracia com a seguradora me renderam uma dor de cabeça incessante. Minha manhã tinha sido uma sucessão de trâmites desgastantes regados a doses excessivas de cafeína e suspiros cansados. As lembranças maravilhosas do fim de semana e a satisfação pelo sucesso do primeiro evento foram completamente ofuscadas com tanto estresse. Sabrina tentava manter a situação sob controle, me ajudando o quanto podia, mas era evidente o quão tensa ela também estava. Entre lidar com a reparação dos danos e reforçar a segurança do museu, estávamos trabalhando arduamente para que nenhuma notícia vazasse e comprometesse o brilho promissor da inauguração do Essentia.

Depois de designarmos uma pequena equipe de confiança para a manutenção dos danos ocorridos, Sabrina acompanhava incansavelmente os principais veículos de comunicação, enquanto eu aproveitava para checar, pela milésima vez, se nenhuma obra havia sido danificada ou roubada.

Apesar de estar preocupada com a integridade dos trabalhos artísticos, a curiosidade me açoitava. O vídeo de segurança mostrou todo o empenho das quatro pessoas encapuzadas para entrar nas dependências do prédio, danificando algumas câmeras pelo caminho. Não pouparam esforços para destruir o portão de aço que guardava a entrada pelas docas. Mesmo depois de verificar minuciosamente o inventário e o armazém principal, a constatação de que nada havia sido levado não me deixou nenhum pouco aliviada. Tinha milhões naqueles corredores. Obras tão valiosas que sequer daria para contabilizar. Porque ter todo aquele trabalho para não levar absolutamente nada? Não fazia o menor sentido!

Passei horas analisando cada detalhe dos vídeos de segurança que conseguimos recuperar. As imagens estavam distorcidas graças ao estrago nas câmeras, mas era possível ver como foram meticulosos, quase como se estivessem buscando por algo específico. Não estavam apenas quebrando equipamentos e arrombando portas, havia uma intenção calculada. Após refazer os passos dos invasores pela tela do tablet em minhas mãos, me sentia cada vez mais intrigada. Algo não se encaixava. O portão de aço por si só era uma barreira significativa. E se a tentativa de invasão não tivesse sido um simples ato de roubo ou vandalismo? Talvez o objetivo não fosse o roubo em si, mas sim, algo mais simbólico.

Enquanto investigava mais a fundo, comecei a notar padrões sutis nos vídeos. Pequenos detalhes que antes tinham passado despercebidos, e, agora pareciam cruciais: o estranho comportamento observador de um dos invasores, mais analítico do que os outros, o caminho exato para a administração seguido despretensiosamente. Havia algo específico que eles estavam procurando, mas o que poderia ser tão valioso quanto as obras de arte em si? Tirando os objetos artísticos, não havia mais nada de valor no prédio. Com isso em mente, meus pensamentos começaram a girar em torno das possibilidades. E se o que procuravam estivesse escondido, guardado?

Com uma mistura de expectativa e apreensão, apressei-me em direção à minha sala, onde alguns arquivos estavam armazenados com maior segurança. Durante alguns minutos tive como companhia o som constante dos meus saltos ressoando no piso de mármore, acompanhado pela minha respiração acelerada. O interior do meu escritório estava impregnado com um cheiro doce e enjoativo, vagamente familiar – provavelmente o mal gosto viera de um dos invasores. Embora o cofre parecesse intacto e sem sinais de arrombamento, ao revisar os documentos que estavam ali, percebi que faltava a cópia da descrição detalhada das exposições do Essentia. Só então percebi que os invasores não estavam interessados nas obras de arte, mas sim, em informações cruciais que poderiam comprometer todo o projeto.

ArtemOnde histórias criam vida. Descubra agora