Entre o Medo e o Desejo

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pov: Ana Júlia

subi no elevador, ainda sentia a leve umidade no meu vestido, meu cabelo estava um pouco desalinhado. Assim que abri a porta, dei de cara com Jessica, que estava deitada no sofá, o celular em mãos, mas os olhos curiosos voltados para mim.

Ela me olhou de cima a baixo, claramente tentando entender o que diabos tinha acontecido comigo.

— Que roupa molhada é essa? Jessica perguntou, sem rodeios, enquanto se sentava, colocando o celular de lado.         
— Você estava nadando no caminho de volta?

Eu soltei um suspiro, mais pesado do que eu pretendia, e me joguei ao lado dela no sofá, o estofado macio me acolhendo como eu precisava naquele momento.

— Você não vai acreditar no que aconteceu hoje, comecei, já sabendo que isso ia render uma boa história.

Jessica arqueou uma sobrancelha, aquele sorriso curioso que ela sempre tinha quando sabia que algo interessante vinha por aí.

— Então conta logo. Porque do jeito que você tá, parece que passou por um furacão.

Dei uma risada, porque não estava muito longe da verdade.

— Praticamente. Eu tava saindo do Barra Gril quando vi o carro da vitória e do nada, ela parou o carro na minha frente e ofereceu uma carona.

Só de lembrar da expressão dela, de como tentamos ignorar a tensão inicial, meu coração acelerava um pouco.

— Você aceitou na hora? Jessica perguntou, surpresa.

— Claro que não, né? Fiquei ali, pensando se era uma boa ideia. Mas, no fim, achei que recusar seria pior. E, de qualquer forma, o uber cancelou a corrida, então entrei. No começo, a gente mal se olhava, parecia que qualquer palavra poderia acender uma nova discussão.

Jessica balançou a cabeça, rindo baixinho.

—Você não aguentou por muito tempo.

— Pois é, continuei, conforme a gente ia conversando, a raiva foi desaparecendo. Eu não sei como explicar, Jessica, mas tem uma coisa na Vitória... que eu não sei explicar mesmo que eu esteja com raiva só de olhar pra ela esqueço tudo, ela me faz amolecer como ninguém nunca fez.

Eu sabia que Jessica entenderia, porque ela me conhecia melhor do que ninguém. E ela tinha razão: havia algo inexplicável entre mim e Vitória. Algo que nos atraía como ímãs, mesmo quando queríamos nos manter afastadas.

— E aí, o que aconteceu? Jessica me incentivou a continuar.

— A gente conversou no carro tudo o que tinha pra falar, e ela me deu um presente que trouxe do Sul. Ela tava me trazendo pra casa, mas o porteiro do condomínio dela ligou, dizendo que estava saindo água da casa. Vitória tinha deixado a hidro ligada antes de sair e esqueceu. Quando entramos, estava tudo uma bagunça, água por todo lado. A gente correu pra desligar a hidro, mas, enquanto isso, ficamos molhadas até os ossos.

Jessica soltou uma gargalhada, imaginando a cena.

— Imagino a cena! Vitória, toda séria, tentando consertar a bagunça, e você ali, rindo da situação.

Sorri, lembrando de como aquela confusão acabou tirando toda a tensão entre nós.

— Foi mais ou menos isso. No começo, ela estava irritada, mas depois que conseguimos arrumar tudo, começamos a rir do absurdo da situação. Foi como se toda a briga tivesse perdido o sentido ali, naquele momento.

Jessica sorriu para mim, seu olhar suave, como se estivesse aliviada. 

— Sabia que vocês não iam conseguir ficar longe por muito tempo. Vocês têm uma química inegável, Ana Júlia. Não dá pra fugir disso.

Além das Traves e PassarelasOnde histórias criam vida. Descubra agora