Além das Traves e Passarelas

O Começo de Um Sentimento

pov: Vitória

Manhã Seguinte

Acordei com os primeiros raios de sol atravessando a cortina e iluminando o quarto de um jeito suave. Meus olhos piscavam contra a luz enquanto minha mente, ainda meio enevoada, começava a se lembrar da noite anterior. Um sorriso lento se formou nos meus lábios ao olhar para o lado e ver a cena mais bonita que já presenciei: Ana Júlia dormia tranquila, seu corpo levemente entrelaçado ao meu, a cabeça deitada em meu peito, os cabelos espalhados como um leque sobre mim. Suas pernas estavam jogadas sobre as minhas, como se ela não quisesse me deixar ir a lugar nenhum.

Por um momento, eu fiquei ali, parada, absorvendo cada detalhe. O ritmo da sua respiração suave, o leve subir e descer do seu peito, e a forma como ela, mesmo dormindo, se aconchegava mais em mim. Ela parecia tão serena, tão frágil... e ao mesmo tempo, tão poderosa.

Eu queria ficar ali, naquele momento, para sempre, mas sabia que o relógio estava correndo. Com cuidado, tentei me mexer, precisando levantar. Mas no segundo em que comecei a sair da cama, ela resmungou algo que eu não consegui entender, virando-se levemente e me puxando para mais perto. Seu braço passou pela minha cintura com força, como se ela, mesmo inconscientemente, soubesse que eu estava tentando escapar.

Soltei um suspiro, tentando me desvencilhar com cuidado para não acordá-la, mas quando finalmente consegui pegar o celular na mesinha ao lado da cama, senti meu coração disparar. Eu estava extremamente atrasada para o treino. "Merda", pensei.

Olhei para Ana Júlia, ainda dormindo sobre mim, com aquele ar angelical. Por mais que meu corpo e mente implorassem para que eu ficasse ali com ela, o compromisso com o time falava mais alto.

Eu me levantei com o máximo de cuidado para não acordá-la, mas assim que comecei a sair da cama, senti Ana Júlia se mexer. Seus olhos se abriram devagar, ainda sonolentos, mas com um brilho suave. Ela me deu um sorriso tímido, daqueles que me desarmam completamente.

- Bom dia - ela murmurou com a voz rouca de sono.

- Bom dia, linda - respondi, sem conseguir conter o sorriso que surgia no meu rosto.

Ela se espreguiçou levemente e me olhou curiosa.

- Você vai pra onde?

Eu suspirei, já sentindo o peso da responsabilidade me puxando para fora daquele quarto.

- Tenho que ir pro CT... Tô muito atrasada - disse, enquanto procurava minhas roupas espalhadas pelo quarto.

Ana Júlia se levantou da cama com aquela elegância despreocupada, os cabelos bagunçados e a pele ainda quente de sono.

- Toma café comigo pelo menos? - ela pediu, ajeitando os fios de cabelo com as mãos.

- Eu tomo no CT, de verdade. Tô muito atrasada mesmo - insisti, tentando me vestir enquanto olhava para o relógio. O tempo parecia correr mais rápido só para me torturar.

Ela me olhou com aqueles olhos grandes e brilhantes, inclinando a cabeça de leve, como quem sabe exatamente o efeito que tem sobre mim.

- Você já tá atrasada. Toma café comigo, vai... - ela insistiu, com aquele tom doce e envolvente que tornava tudo ainda mais difícil de resistir.

Soltei uma risada curta, balançando a cabeça.

- Não me pede assim e com esse olhar... Eu me derreto - admiti, me sentindo completamente vulnerável sob o peso do seu olhar.

Ela se aproximou devagar, sem pressa, e me deu um selinho suave, como se quisesse me prender ali por mais tempo. Depois, me abraçou, encaixando o corpo no meu, e sussurrou contra minha pele: