01 ' coração estranho

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8 de janeiro de 2023 | Malibu

⠀─╌ O som das ondas quebrando suavemente na costa era a melodia perfeita para a tarde preguiçosa que Flávia tinha planejado. Ela estava hospedada em um resort em Malibu, viajando sozinha há apenas dois dias e ainda teria três pela frente para aproveitar suas férias. A praia tranquila e a calmaria eram o antídoto perfeito para o ritmo frenético de sua vida. Era raro ter momentos assim.

Deitada em uma espreguiçadeira à beira da praia, seus olhos estavam protegidos por óculos escuros, observando o movimento ao seu redor. Às vezes, ela deixava uma risada leve escapar ao ver pessoas se divertindo, correndo, mergulhando, e simplesmente aproveitando o calor que estava.

Ela suspirou profundamente, puxando seu celular para checar as mensagens, a tela exibia algumas notificações, mas nada que exigisse dela. Saraiva deslizou os dedos sobre a tela, rapidamente passando por redes sociais sem realmente se aprofundar em nenhum deles.

Por acaso, do outro lado da praia, Sunisa Lee estava mergulhando e rindo de algo que sua irmã havia dito. As ondas jogavam seu cabelo para trás e involuntariamente dava pulinhos. De repente, ela saiu correndo da água, suas pernas molhadas respingando pequenas gotas que brilhavam. Sunisa avançava em direção aos seus irmãos que também corriam.

Enquanto Flávia estava imersa em seu telefone, ouviu uma risada que chamou sua atenção por ser um tom familiar, ela levantou os olhos e reconheceu Sunisa Lee imediatamente.

Não esperava encontrar conhecidos, muito menos alguma colega da ginástica. Lee estava sorrindo, interagindo com dois jovens, seu cabelo estava molhado e o corpo infestado por pontinhos de areia. Em vez de se levantar ou fazer qualquer gesto, Flávia permaneceu quieta.

E parecendo alguma obra do destino, seus olhares finalmente se cruzaram, por alguns segundos, ambas pareceram surpresas pela coincidência. Porém, Sunisa deu um pequeno sorriso, algo quase imperceptível, e Flávia retribuiu.

Sunisa continuou a brincar com seus irmãos, mas seus olhos, de vez em quando, voltavam para Flávia. Ela a observava, admirando a brasileira, a maneira como seu vestido de saída de praia se movia suavemente, sua pele sob o sol. Flávia estava linda. Lee franziu as sobrancelhas, estranhando o seu coração lépido gritando em nervosismo.

Depois de alguns minutos, Sunisa fez um gesto para seus irmãos e começou a se aproximar, sem conseguir entender o que estava acontecendo com ela. Era apenas uma colega da ginástica, talvez esse fosse o motivo do nervoso, certo?

— Flávia?

A voz de Sunisa soou hesitante, como se estivesse tentando ter certeza de que estava realmente falando com ela. Flávia abriu os olhos lentamente, e quando viu Sunisa, um sorriso largo se formou em seu rosto.

— Quem? — Brincou, levantando os óculos. — Sunisa Lee, o que está fazendo aqui? Tentando me roubar das minhas férias?

— Eu que te pergunto! — Sunisa respondeu, rindo. — Estou aqui com a minha família. Aproveitando minhas férias, e você? Viajando com alguém?

Sunisa olhou ao redor, procurando por alguma companhia próxima dela. Flávia encostou a cabeça na cadeira, sorrindo ladino, percebendo a curiosidade da garota.

— Eu estou sozinha.

— Pensei que estivesse com o seu namorado...

— Namorado? — Arqueou a sobrancelha surpresa. — Estou sozinha.

A americana balançou a cabeça, tentando esconder sua animação, mas os olhos castanhos reluziram em alegria. Sunisa se inclinou levemente para a frente, apontando com o indicador.

— Posso me sentar?

— Claro, fique à vontade. — Flávia gesticulou para a cadeira ao lado, com um sorriso singelo nos lábios.

Ela sentou-se na cadeira, respirando fundo. O silêncio que se seguiu não era desconfortável, ao fundo o som do mar e o assobio do vento parecia conversar por elas. As duas ginastas simplesmente aproveitaram a presença uma da outra, deixando que a serenidade as envolvesse.

Sunisa sentia o coração ainda mais estranho agora que estavam próximas, ele estava inquieto.

— Sabe, às vezes é estranho estar longe dos treinos. — Flávia comentou, finalmente quebrando o silêncio da outra. — Quero dizer, adoro o que faço, mas... é bom ter essa pausa.

— Eu entendo. — Disse gaguejando um pouco. — Eu sinto falta da rotina, mas esse descanso tem o seu valor.

Flávia sorriu, percebendo o nervosismo de Sunisa, achando uma graça. Havia algo diferente, não estava acostumada a ver ela fora das competições, sem a adrenalina, e esse jeito mais informal e introspectivo.

— Fico procurando o que fazer.

— Exatamente. — Lee virou-se para ela. — Falando nisso, como está sendo sua viagem? O que você tem feito além da praia?

— Bem, sinceramente, estou aqui há dois dias, sem treinos e nada. — Flávia olhou ao redor. — A única coisa que estou correndo agora é para o buffet do café da manhã. Nada muito emocionante, mas é a idéia de não fazer nada que estou tentando fazer.

Sunisa riu, apreciando a honestidade dela.

— E você com a sua família?

— Ah, toda hora é uma briga e um puxão de cabelo, sabe como é.

A ginasta brasileira gargalhou alto, o som da risada dela se misturou com o som das ondas. Sunisa gostou daquilo.

— Imagino que deve ser uma loucura!

— Sim, é uma confusão controlada. — Sunisa riu, balançando a cabeça. — Mas é sempre bom estar com eles.

Flávia tinha os fios loiros desgrenhados e tentavam manter-se presos no prendedor. Os olhos de Lee revezavam em observar desde suas bochechas avermelhadas até o brilho que chamava a atenção para os lábios da garota quando moviam ao falar, parecia completamente submersa em sua beleza.

— Você tem algum plano para amanhã?

As palavras escaparam da boca de Sunisa, de maneira inesperada.

— Na verdade, não. — Flávia respondeu, rindo. — Estou aberta a sugestões. Por que?

Sunisa deu de ombros, mordendo o interior de sua bochecha, enquanto formulava a proposta.

— Se você não se importar, minha família vai visitar alguns lugares e depois jantar em um restaurante. Seria ótimo ter sua companhia. — Ela sorriu, com um tom de convite disfarçado de casualidade — Quem sabe a gente não faça um pouco mais do que apenas descansar?

Reparou no olhar preso que passava vagaroso por ela, seus olhos eram tão calorosos quanto o sol em temperatura máxima. Flávia encarou o rosto da garota ao seu lado, sorrindo abertamente.

— Eu adoraria.

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Girassóis Na Janela - Flavia Saraiva & Sunisa LeeOnde histórias criam vida. Descubra agora