Morgan, ainda absorta na descoberta de sua nova forma dracônica, sentiu uma onda de emoção ao olhar para suas asas. **"Voar,"** ela pensou, **"eu posso voar agora."** O pensamento a encheu de euforia. Sem pensar muito, ela abriu suas asas largas e bateu-as com força, tentando se erguer do chão. O movimento parecia promissor, mas a inexperiência de Morgan logo se manifestou; ela perdeu o equilíbrio e caiu pesadamente no solo, levantando uma nuvem de poeira e folhas.
O impacto foi forte e doloroso, mas não tanto quanto a humilhação que sentiu. **"Ainda bem que ninguém viu isso,"** pensou, enquanto se levantava, sacudindo a poeira das escamas. Ainda atordoada pela queda, Morgan finalmente teve a chance de se avaliar com mais atenção. Com uma mistura de espanto e reverência, ela percebeu a extensão de seu corpo: cerca de 23 metros de comprimento, da ponta do focinho até a extremidade da cauda. Suas asas eram imponentes, largas o suficiente para criar sombras que cobriam grandes áreas da floresta ao redor.
Determinação renovada, Morgan decidiu que precisava tentar novamente. Desta vez, com mais cautela. Ela começou com pequenos saltos, batendo suas asas lentamente, sentindo o ar passar por entre as escamas e as membranas de suas asas. A cada tentativa, ela ganhava mais confiança, até que finalmente conseguiu se manter no ar por alguns segundos. Um sorriso de satisfação cruzou seus lábios, ou o que restava deles.
A prática contínua fez com que Morgan ganhasse altura gradativamente. Agora, flutuando acima das árvores, o sentimento de liberdade era indescritível. **"Estou voando!"** gritou em pensamento, uma realização que encheu seu coração de alegria. A visão panorâmica do mundo abaixo dela, a sensação do vento contra seu corpo, tudo contribuía para a euforia de finalmente estar realizando o antigo sonho da humanidade. Empolgada, Morgan começou a experimentar algumas manobras no ar, sentindo-se cada vez mais em sintonia com seu novo corpo.
No entanto, sua atenção foi logo capturada por algo no horizonte: um grupo de dragões voava não muito longe dali. Suas escamas variavam em tons de roxo, verde e marrom, cada um com sua própria majestade, embora nenhum fosse tão grande quanto Morgan. Intrigada e um tanto receosa, ela diminuiu a velocidade e observou-os à distância.
Foi então que algo estranho começou a acontecer. Uma sensação primal, poderosa, despertou dentro dela. Junto com essa sensação, uma fome insaciável tomou conta de seu ser. Sem perceber, Morgan começou a emitir um som - uma melodia hipnotizante que reverberava pelo ar. Era uma canção, sua canção da morte, que fluía de sua boca de forma quase instintiva. Os dragões, atraídos pela melodia irresistível, começaram a se aproximar, como marionetes sendo puxadas por fios invisíveis.
Assim que os dragões estavam suficientemente próximos, Morgan sentiu um poder dentro de si borbulhar para a superfície. Ela abriu a boca e, desta vez, um líquido âmbar espirrou de sua garganta em direção aos dragões. O líquido cobriu suas escamas e, em questão de segundos, endureceu em um sólido impecável, prendendo-os no lugar. Eles caíram ao chão, imobilizados, incapazes de lutar ou fugir.
Morgan, movida por um instinto feroz, desceu em direção ao grupo, suas garras afiadas prontas para atacar. Ela escolheu um dos dragões, abrindo sua boca para dar o golpe final. Mas antes que pudesse fazê-lo, algo em sua mente despertou. Ela recuou, chocada com o que estava prestes a fazer. **"O que... o que eu estou fazendo?"** pensou, horrorizada. A fome era real, mas a ideia de devorar outra criatura inteligente era simplesmente repulsiva.
Respirando pesadamente, Morgan recuou, afastando-se dos dragões paralisados. O som da sua canção cessou, e ela olhou para as suas garras com nojo e medo. **"Eu quase os matei... quase os devorei."** Um misto de culpa e confusão inundou sua mente. Quem era ela agora? E o que essa nova forma significava para sua humanidade?
Assustada com o monstro que poderia se tornar, Morgan alçou voo rapidamente, fugindo para longe dos dragões e da tentação que eles representavam. Ela precisava de respostas, e mais do que nunca, precisava entender o que havia se tornado.