Morgan voava pelo céu, o vento cortando suas escamas coloridas, mas sua mente estava longe, mergulhada em pensamentos sombrios. A fome que sentira antes era algo além do que jamais experimentara como humana; era uma necessidade visceral, uma força que dominava seu corpo e mente. Agora, como dragão, ela compreendia que essa fome insaciável seria uma constante em sua nova vida.
**"Vou precisar comer,"** ela pensou, sentindo um nó de ansiedade se formar em seu peito. **"Mas o que? Outros dragões?"** A ideia a repelia, mas sua lógica dizia que, com um corpo tão gigantesco, precisaria de muito mais do que animais selvagens para se manter viva. Morgan ponderou sobre caçar outros tipos de presas. Peixes, por exemplo, cruzaram sua mente, mas ela logo descartou a ideia. Não se via como uma criatura ágil na água, e o esforço necessário para caçar peixes parecia desproporcional ao pouco que ganharia em termos de alimento.
Em seguida, considerou animais selvagens, mas sua intuição lhe dizia que em uma terra dominada por dragões, esses seriam escassos, ou pequenos demais para realmente sustentar seu enorme corpo. Com um suspiro pesado, Morgan percebeu que só restava uma opção. **"Não tenho escolha,"** concluiu, com amargura. **"Se eu quero sobreviver, vou precisar devorar outros dragões."**
Resignada ao seu destino, Morgan deu meia-volta e voltou para o local onde havia deixado os dragões imobilizados. A visão dos corpos presos no âmbar fez seu estômago roncar, mas sua mente lutava contra a ideia de devorar criaturas semelhantes a ela. **"Desculpem-me,"** pensou em silêncio, antes de finalmente ceder à sua fome.
Ela começou a devorar um dos dragões com uma voracidade que a surpreendeu. Suas presas rasgaram a carne e o âmbar, antes indestrutível, parecia se desintegrar como se fosse apenas uma fina camada de papel envolvendo um lanche. O dragão que ela devorava era um Gronkel - um nome que ela desconhecia, mas que em breve aprenderia a identificar.
A refeição foi rápida. Morgan não sabia se a fome intensificava seu apetite ou se sua natureza dracônica tornava o processo mais eficiente, mas o fato é que, em pouco tempo, ela havia devorado completamente o Gronkel. Sem hesitar, ela passou para os outros cinco dragões que estavam igualmente imobilizados. Em uma sucessão quase automática, Morgan os devorou, sentindo-se cada vez mais satisfeita a cada dragão consumido.
Quando terminou, a fome que a atormentava havia desaparecido, substituída por uma sensação de saciedade e, de certa forma, de alívio. Mas junto com isso, veio a realização de que sua sobrevivência dependia de um ciclo contínuo de caça e devoração. Morgan não podia se dar ao luxo de ser compassiva; naquele mundo selvagem, era matar ou morrer.
Após refletir sobre sua situação, Morgan decidiu que precisava explorar a ilha. Se ela teria que sobreviver caçando outros dragões, seria prudente garantir que não houvesse competidores à altura. Voou por três horas, circulando a ilha, mas não encontrou nenhum dragão que representasse uma ameaça real. Os dragões que avistou eram muito menores ou naturalmente pacíficos, como os que acabara de devorar.
Com a convicção de que não havia ameaças imediatas, Morgan decidiu que a ilha agora era sua. **"Este território me pertence,"** pensou com determinação. Ela precisava de um lugar para se estabelecer, uma caverna que pudesse chamar de lar. Como já havia explorado boa parte da ilha, não demorou muito para escolher uma caverna que atendesse às suas necessidades. Era enorme, com duas entradas: uma no teto, que permitia fácil acesso pelo ar, e outra na lateral da montanha, garantindo uma rota de fuga rápida, se necessário.
Enquanto o sol começava a se pôr, Morgan se apressou em preparar sua nova morada. Usando sua habilidade única, ela tapou ambas as entradas da caverna com âmbar, criando barreiras sólidas e impenetráveis. Embora se sentisse confiante em sua força, a cautela ditava que não baixasse a guarda. **"Nunca se sabe o que pode acontecer enquanto se está dormindo,"** pensou, enquanto se acomodava no chão da caverna.
Cansada, Morgan permitiu-se relaxar, os pensamentos vagando pelo que o futuro poderia trazer. O mundo à sua frente era vasto, perigoso, e repleto de incertezas. Mas agora, ao menos, ela tinha um lugar para chamar de lar. E enquanto fechava os olhos, protegida pela caverna e pelo âmbar que ela mesma havia criado, uma última pergunta cruzou sua mente antes de adormecer: **"O que o futuro reserva para mim?"**