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**Capítulo 5: A Ameaça dos Caçadores**
Três meses haviam se passado desde o violento confronto entre Morgan e os dragões cuspidores de fogo. O evento marcara profundamente a jovem dragão, ensinando-lhe duras lições sobre suas fraquezas. Percebera que, apesar de seu tamanho imponente e força incomparável, sua agilidade deixava a desejar. Sua grande massa corporal dificultava os movimentos rápidos e precisos, tornando-a um alvo fácil para ataques de longo alcance. Determinada a nunca mais ser pega desprevenida, Morgan dedicou-se a treinar incansavelmente sua velocidade e reflexos, tentando mitigar suas vulnerabilidades. Ela também começou a desenvolver um instinto mais apurado, um "sexto sentido" que a alertaria de possíveis perigos antes que fosse tarde demais.
Os dias na ilha continuavam a passar em relativa paz. Morgan estabelecera uma rotina: caçar, treinar e explorar seu território. A cada novo dia, sentia-se mais conectada à ilha, como se seu destino estivesse entrelaçado com cada árvore, rio e criatura que ali habitava. Seus voos pela ilha eram momentos de puro prazer, e ela adorava sentir o vento cortando suas escamas enquanto voava baixo sobre as florestas densas. Quando se cansava, refrescava-se nas águas cristalinas da cachoeira, onde a correnteza suave lavava o cansaço e as preocupações do dia.
Mas, naquele dia, o brilho do sol escondia uma ameaça que Morgan ainda não podia prever.
Após uma manhã tranquila, Morgan decidiu caminhar pela ilha. Enquanto se deslocava pela densa vegetação, algo incomum chamou sua atenção ao longe: uma forma escura cortava o horizonte azul do oceano, aproximando-se lentamente da costa. Morgan, tomada por uma curiosidade inquietante, caminhou até um ponto mais elevado para ter uma visão melhor. Quando seus olhos finalmente focaram no objeto, ela sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Era um navio, grande e imponente, movendo-se silenciosamente em direção à costa.
Morgan se escondeu instintivamente entre os arbustos próximos, seus olhos fixos na embarcação. Seu coração batia acelerado, e uma onda de incerteza tomou conta dela. Até então, ela nunca havia encontrado humanos desde sua transformação em dragão. A ideia de cruzar com criaturas tão pequenas, mas potencialmente perigosas, era algo que a deixava apreensiva. Ela continuou observando enquanto o navio ancorava, e uma multidão de homens armados desembarcava, espalhando-se pela praia e entrando na floresta. As expressões duras e os olhares determinados dos caçadores não deixavam dúvidas quanto ao propósito de sua missão.
Morgan seguiu o grupo com cautela, movendo-se silenciosamente pelas sombras. Ela ainda lembrava do fracasso de sua tentativa anterior de ser furtiva, o que a motivara a aperfeiçoar essa habilidade ao longo dos meses. Agora, mal fazia barulho ao andar, suas patas grandes pisando levemente no solo coberto de folhas secas.
Os caçadores avançavam com rapidez e precisão, movendo-se como se soubessem exatamente onde ir. Morgan ficou surpresa ao notar que esses homens pareciam conhecer bem o território, como se já tivessem explorado a ilha antes. O que a deixava ainda mais inquieta era o fato de que estavam equipados com arcos e flechas, armas que pareciam perigosamente eficazes contra dragões.
Depois de algum tempo, o grupo chegou a uma clareira onde um pequeno bando de dragões se abrigava. Esses dragões, de coloração escura e corpo robusto, eram semelhantes àqueles que Morgan havia encontrado logo em seus primeiros dias na ilha. Assim que perceberam a aproximação dos humanos, os dragões tentaram voar para longe, mas foram rapidamente subjugados. Flechas disparadas com precisão impressionante acertaram seus alvos, derrubando os dragões do céu com uma facilidade aterradora. Morgan observou, paralisada, enquanto os dragões caíam ao chão, incapazes de continuar lutando. A eficácia brutal das flechas fez com que um frio percorresse todo o corpo de Morgan.
Ela sabia que esses humanos representavam uma ameaça que ela não poderia ignorar. Se um grupo relativamente pequeno de caçadores podia incapacitar vários dragões em questão de segundos, então ela, por mais poderosa que fosse, não seria capaz de resistir a uma força maior. Morgan se escondeu ainda mais entre a vegetação, observando os caçadores trabalharem em conjunto para capturar os dragões, prendendo-os em correntes pesadas e arrastando-os de volta ao navio.
Morgan decidiu segui-los até a embarcação. Queria entender melhor como esses caçadores operavam e, mais importante, como mantinham os dragões presos. Ao chegar à praia, ela observou com atenção enquanto os dragões eram colocados em jaulas feitas de um metal verde escuro, um material que parecia especialmente resistente a chamas e à força física dos dragões. As jaulas eram sólidas e bem construídas, impossibilitando qualquer tentativa de fuga.
Morgan estava prestes a se retirar quando algo inesperado chamou sua atenção. Um dragão, com escamas azuis, brancas e amarelas, estava lutando contra os caçadores. Esse dragão possuía espinhos ao longo da cauda e era bastante ágil. O que realmente surpreendeu Morgan foi a figura que montava o dragão — uma jovem mulher, com expressão determinada e olhar firme.
Morgan havia visto essa espécie de dragão antes na ilha, mas nunca um com um cavaleiro humano. A jovem e o dragão pareciam querer fugir, mas foram forçados a entrar em combate com os caçadores. O dragão foi atingido por uma flecha disparada por um caçador careca, armado com duas espadas. Em poucos instantes, o dragão foi derrubado e capturado, deixando a jovem sem defesa, caindo diretamente no mar.
Os caçadores não pareciam preocupados com a garota, ignorando-a enquanto se concentravam em conter o dragão capturado. Morgan, que até então não tinha nenhuma ligação com os humanos, sentiu um inesperado impulso de proteger aquela jovem. Algo na determinação e coragem da mulher tocou um ponto sensível dentro dela. Quando os caçadores se afastaram, levando o dragão capturado para o navio, Morgan decidiu agir.
Ela se aproximou da água cautelosamente, seus olhos fixos na garota que lutava para se manter à tona. Quando Morgan estendeu sua garra para tirá-la da água, a jovem começou a gritar, o terror estampado em seu rosto. Morgan não se surpreendeu; afinal, ela era uma criatura imensa e aterrorizante aos olhos humanos. Mas mesmo assim, não hesitou. Com cuidado, pegou a garota, tentando não machucá-la, e a levou para a margem.
Os gritos da jovem continuaram, seus olhos arregalados em puro pavor enquanto Morgan a depositava no chão. Morgan sabia que precisaria acalmá-la de alguma forma, mas não tinha a menor ideia de como se comunicar com um humano. Ela ficou ali, observando a garota, esperando que o medo inicial se dissipasse. O tempo parecia se arrastar, e cada segundo que passava aumentava a tensão entre as duas.
Finalmente, a garota começou a se acalmar. Seus gritos cessaram, embora seus olhos permanecessem arregalados, e sua respiração era ofegante. Morgan se afastou um pouco, dando-lhe espaço para respirar e entender que não estava em perigo. Lentamente, a garota levantou-se, ainda desconfiada, mas agora analisando Morgan com uma mistura de curiosidade e medo.
Morgan inclinou levemente a cabeça, em um gesto que esperava ser de paz. Não sabia ao certo como proceder, mas algo dentro dela a instigava a proteger aquela jovem. Talvez fosse o instinto humano que ainda restava em sua mente dracônica, ou talvez fosse simplesmente o fato de que, em um mundo tão vasto e solitário, qualquer conexão, mesmo que improvável, fosse melhor do que a solidão total.
Com um olhar determinado, Morgan se abaixou, convidando a garota a subir.
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