Cap.4 - Eu tô aqui

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"Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve..."

(Cecília Meireles)

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Dois meses se passaram em que uma rotina se estabeleceu facilmente.

Bruno e Diego já tinham discutido algumas vezes para alinharem a distribuição de tarefas dentro da casa e evitar que aquilo se tornasse um pardieiro de baratas.

Tinham voltado pra academia e Bruno estava insistindo em ter uma alimentação saudável mesmo com a correria do dia a dia, já Diego insistia menos, quando estava cansado ele não hesitava em fazer uma lasanha congelada, ou comprar um lanche promocional.

Diego aguardava ansiosamente as segundas e quartas-feiras porque eram os dias que tinha aula com um certo professor de expressão corporal e vocal.

Ele até tentava puxar conversas fora da aula, nos intervalos, mas Amaury literalmente fugia, cortava-o, quando eram dúvidas sobre a aula era muito solícito e um professor exemplar, mas ele sabia perceber a temperatura das conversas, era um homem 12 anos mais velho e experiente, Diego sabia que ele também sentia a tensão sexual entre eles e estava evitando por senso de dever e ética, ele era todo certinho (e tinha sido assim sempre, em qualquer vida, pelo menos das que ele recordava) e isso irritava o mais novo e não era de hoje que o irritava.

Mas, em outras vidas ele costumava ser mais divertido, ele pensava, constantemente.

Diego estava se sentindo muito frustrado, porque ele era difícil de se lidar e de decifrar também.

E estava acontecendo uma coisa que nunca tinha acontecido, depois do último sonho em que ele se recordou que ele era um soldado e Amaury um general, ele nunca mais tinha sonhado com nada, acordava vazio.

O que ele não entendia era que com sua alma estando perto de Amaury, ela não via necessidade de retroceder ao passado.

Nunca tinha passado tanto tempo sem sonhar e isso o estava deixando muito angustiado, fato era que ele gostava de lembrar, porque acordava com a sensação real daqueles momentos, e quando não sonhava, não tinha nada.

O tinha encontrado, mas Amaury o evitava como um vampiro que foge de água benta.

Naquele momento a luz do sol filtrava-se pelas cortinas da cozinha, criando padrões dançantes no piso de cerâmica. Diego estava de pé, comendo uma maçã, enquanto Bruno ainda com a expressão cansada de quem acabara de acordar lhe contava algumas fofocas, tomando café preto com se bebesse água, em grandes goles.

Bruno contou ao amigo que conversando com os veteranos do curso, decobriu que Amaury tinha terminado um namoro de longa data recentemente, o ex era um bailarino conhecido e que dançava atualmente no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, um tal de Marcos Alvarenga, pelas fofocas tinham terminado a coisa de um mês atrás, descobriu também que o professor era bissexual e que alguns anos atrás tinham surgido rumores de que ele e a professora de História do Teatro, a morena de olhos castanhos que eles já tinham conhecido Amélia Nogueira, tinham tido um caso secreto que tinha acabado mal, corria a boca solta que eles sequer se cumprimentavam, mas nada realmente foi comprovado.

Diego ouvia esse relato com o quadril apoiado na pia da cozinha, neste momento, mastigando a maçã com tanta força movida pelo ciúmes na mandíbula que o maxilar chegou a estalar.

— Ele tá solteiro há pouco tempo, portanto, Di. E... Pelo que eles me falaram ele anda naquele primeiro estágio da solteirice, saindo para os pagodes do Rio de Janeiro, curtindo a vida adoidado, me contaram que é comum ele ir pra Pedra do Sol, faz parte da comunidade da Portela, ele desfila e tudo mais, e falaram que ele tem ido frequentemente num tal de Baile Charme lá em Madureira. Assim... O homem tá sabendo viver, amigo.

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