Art's POV
Depois do incidente no refeitório eu e Troye estavamos quase sempre juntos. Ele vai pra minha casa depois da aula ou eu vou pra dele, pra ele ter certeza que eu estou comendo. Nós só nos separamos umas 5 da tarde quando vamos pras nossas respectivas casas. Conheci a namorada dele, ela é bem legal, se chama Louise, e as vezes ela se junta a nós. Logo começariam as férias de verão, e eu provavelmente ficaria em casa.
Estava na minha casa com Troye, assistindo um filme. Ele me segurava pra perto dele, um braço em minha cintura. Ele era bem alto, e tinha um pouco de músculo por causa do clube de natação. Tinha o cabelo preto, e um tanto cacheado. Ainda não sabia dizer que cor eram seus olhos. Pareciam um caleidoscópio, toda vez que olha muda de cor. Já da pra perceber que eu não estava prestando atenção no filme.
De repente ele olhou pra mim, e não pude evitar o sangue indo pras minhas bochechas e pescoço. Ele riu um pouco, e beijou minha bochecha. Porque ele tinha que gostar tanto de me provocar.
— A perna ainda dói? — Ele perguntou, mudando de assunto.
— Sim.
— Cara, isso não é normal, devia ver isso.
— Nah, não é nada.
— Isso não passou nem com remédio. Não é normal.
— Você não entende. As vezes a dor emocional é tão grande que se torna dor física. Eu já estou acostumado com isso, não se preocupe.
— Tem certeza?
— Sim. Cara. Eu tenho depressão a tanto tempo que já conheço os sintomas de cor e salteado.
Ele suspirou.
— Eu sei muito bem disso Artie.
Ele me abraçou. Nesse tempo que viramos amigos já estava acostumado com esse costume dele de abraçar.
— Artie?
— Sim?
— Se não é nada, tudo bem se a gente for no hospital?
— Você vai ficar mais calmo assim? — ele acenou com a cabeça— Então sim.
Logo no dia seguinte, ele me levou para o hospital em seu carro. A consulta foi normal até certo ponto. O médico me pediu pra fazer vários exames urgentes. Eu acabei passando o final de semana inteiro fazendo exames e cheguei em casa só a noite. Troye acabou dormindo na minha casa.
Estávamos nos preparando pra dormir, quando reparei que Troye me observava.
— Troye? O que foi?
— Eu estou preocupado, Artie, se isso fosse normal, o médico não teria pedido tantos exames.
— Está tudo bem Troye, eu estou bem.
— Eu não sei...
— Troye. Eu estou bem.
Ele suspirou e me abraçou.
— Eu não quero perder você, você é o único amigo de verdade que eu tenho.
— Claro que não, já vi seus outros amigos, eles são legais.
— Mas com você é diferente... Eu sou eu. Mas eu mesmo, o cara alegre, que prefere passar o dia assistindo séries à treinar, o Troye de verdade, Artie. Que só você conhece.
Ele ainda não havia me soltado.
— Você não vai me perder.
— Como tem certeza?
Eu dei de ombros.
— Troye, vai ficar tudo bem. Vamos dormir, eu estou cansado e amanhã temos escola.
Eu me deitei na minha cama, e ele caminhou pra porta.
— Pra onde está indo?
— Pra sala, vou dormir no sofá.
— Não vai não. Vem cá. Minha cama é grande o suficiente pra nós dois. Isto é, se você se sentir confortável com isso.
— Ok.
Ele voltou, e deitou na minha cama do meu lado. Ele me abraçou, me segurando contra seu peito.
— Troye?
— Sim?
— Boa noite.
Eu senti ele rir um pouco.
— Bons sonhos Artie.
Ele beijou minha testa, e logo caímos no sono.
A semana passou normalmente na escola. Como Troye estava sempre comigo eu não tinha problemas com o time.
Logo na sexta feira a tarde, Troye me levou para o hospital novamente. Como o consultório estava vazio, logo entramos juntos para conversar com o médico
— Bem, eu acho que é melhor ir direto ao ponto nesses casos. Bem segundo os exames... O caso é leucemia. Eu sinto muito. Nesse caso vai precisar de células tronco para se curar.
Eu fiquei em choque. Câncer? Eu nunca havia imaginado que poderia ser algo tão sério. Eu coloquei a cabeça nas mãos, e não consegui conter as lágrimas. Câncer. Eu tenho câncer.
Troye me abraçou, e fiquei surpreso ao ver lágrimas também correndo em sua face. Eu não conseguia parar, eu não quero ter câncer, não quero perder o cabelo, nem ficar dias, semanas preso em um hospital. Eu não quero nada disso, e ainda vou acabar com a viagem do meu irmão.
— Escuta... Não é do tipo mais grave, você só vai precisar de tratamento com injeções de células tronco e vai precisar ficar aqui por um tempo. Além de outros tipos de tratamento.
— E-Eu sei... Mas... Eu tenho câncer.
— Eu sei. Vai dar tudo certo, Arthur. Vou fazer de tudo pra curá-lo.
Naquele dia eu já fiquei no hospital, me preparando pras primeiras sessões de tratamento que seriam no dia seguinte. Por alguma razão, Troye saiu logo depois de o médico ter dado a notícia.
Então eu só passei o resto do dia sentado em uma cama de hospital, olhando pro nada.
À noite meus pais vieram me ver. Assim que entrou no quarto Jason correu e me abraçou, chorando. Paul caminhou até nós dois devagar, e abraçou à nós dois.
Depois de um bom tempo os dois se afastaram de mim, Jason continuava chorando.
— Jay?
— Sim Artie?
— Vai ficar tudo bem, Jason.
— Por que não está me chamando de pai?
Eu não respondi. Eu já conheci pessoas que tiveram leucemia, e a maioria não sobreviveu. Eu queria que Paul e Jason não sentissem tanto quando eu também fosse. Queria que nesse tempo em que eu vou lutar contra isso, eles se afastassem cada vez mais. E também que Troye se afastasse. Quero terminar minha vida do mesmo jeito que comecei quando ainda era um bebê. Sozinho. Acho que é meu destino.
— Artie? Por que não me chamou de pai?
— Eu só me enganei J-... Pai.
— Não minta pra mim.
— Eu não estou mentindo. — coloquei a cabeça no colo de Jason, e ele começou a passar a mão em meus cabelos. Ele suspirou.
— Okay.~
Então eu acabei de chegar em casa... Quase quatro horas de voo... Mas estou aqui! E também li quase 200 páginas de Will e Will. É. Bem. Já vou indo.
Um beijo. Um queijo.
Tchau!