Capítulo 8

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FÁBIO


_ Você é um canalha!

Antes mesmo que eu pudesse identificar de onde vinha a voz, ou até mesmo o que estava acontecendo, senti o forte impacto de um punho em meu rosto.

Assim que me reorientei, vi a cena patética em minha frente. 

Vieira e Alcântara segurando o meu querido irmãozinho que descontrolado tentava vir para cima de mim. 

_ Eu sabia que você não prestava, mas dormir com a minha namorada? Seus colegas de trabalho sabem o quanto sem caráter você é?

_ Ela não viria atrás de mim se você não estivesse enfiando o pau em outra buceta, porra.

Os caras aqui são meus amigos, e antes de mais nada, somos uma irmandade. Cada um aqui está sempre pronto para defendermos uns aos outros. Então esse showzinho que ele pensou que ia me derrubar não funcionaria. 

Em nossas vidas foi sempre dessa maneira. Não sei qual a fissura Denis tem em querer me passar a perna e ser superior. Nunca dei importância ao status que a minha família ocupava, mas ele como um bom filhinho de papai, usufruía de todo e qualquer direito que isso lhe trouxesse.

Nunca fomos irmãos como a palavra devia ser. Na verdade eu tentei, ele era o mais novo e por isso o mais mimado. Durante a infância até tivemos um bom tempo, mas conforme crescíamos e eu me esforçava para trilhar meu sonhos, ele se enraivecia com toda e qualquer circunstância que envolvia minha mãe e eu. 

Com relação a Alice, bom, não entrarei em detalhes. Assim que abri meus olhos naquela manhã veio amargo e mel em minha boca. 

Independente de todo fodido desejo, Denis ainda era meu irmão, mas como negar que foi a transa mais foda que tive em minha vida, é como se os céus se abrissem e dissessem que aquele seria o meu dia de sorte. Eu não poderia recusar.

Felizmente, ela parecia não querer mais contato depois do que aconteceu, o que me deixou puto de certa maneira. Em todos esses anos que eles diziam estar em um namoro, a imagem que eu tivera dela, era de uma mulher extremamente melosa, apegada. Porém acho que estava enganado.

Meu irmão ainda parecia um touro em minha frente, e mesmo que estivesse errado, eu também assumiria a minha parcela em toda essa situação.

Não tivemos uma conversa, porque ele não queria uma conversa. Apenas disse coisas desagradáveis e por não se controlar, os caras o jogaram para fora do quartel. 

Porra Alice!

Eu deveria seguir a vida, era o melhor a se fazer. Ao menos eu tentei. 

Bares, baladas, encontro com a rapaziada. Nada disso foi util. Sabia que enquanto estivesse longe me afogando em qualquer buceta seria ao menos suportável, mas se eu tivesse um pequeno gostinho não seria capaz de me conter. 

Quando  vi pela primeira vez ela era apenas uma menina de 17 anos concluindo o ensino médio. Eu não ia até Sorocaba com muita frequência porque a minha convivência com o meu querido irmão não era tão agradável, mas naquele domingo a minha mãe insistiu a ponto de eu desperdiçar algumas horas na estrada para um almoço em família. Denis iria oficializar o namoro. 

Quem em pleno século 21 oficializa namoro em reuniões de família? 

Antes mesmo que eu pudesse chegar em casa eu vi uma linda mulher sair de uma farmácia. Eu estava no carro, parado no farol quando ela sorridente saiu do estabelecimento e parou esperando o sinal abrir. Estava na luz amarela, mas a sua beleza foi tão grande que eu parei assim mesmo para ter a oportunidade de admirá-la por mais tempo. 

Ela atravessou ainda falando no celular e eu me vi disperso com tamanho feitiço. Despertei quando buzinas soaram atrás de mim, mas eu não poderia perder essa chance. Joguei o carro para o canto e voltei para procurá-la. Rodei por alguns metros, porém assim como surgiu ela desapareceu.

Qual foi a minha surpresa quando assim que cheguei na casa de meus pais e encontrei todos reunidos para esperar quem? Sim, a linda morena de cabelos longos e ondulados, de sorriso delicado como de uma princesa adentrava a porta acompanhada da sua versão mais velha.

Alice se tornou proibida para mim, porque por mais que Denis fizesse de tudo para nos por em comparação, eu não queria fazer parte do seu jogo.

Se eu malmente ia em Sorocaba, agora era quase impossível, somente quando a chantagem emocional de minha mãe não tinha escapatória. Eu não podia ter desejo na namorada do meu irmão, eu não poderia ter desejo por uma menor de idade.

Me condenava por deixar que em minha mente passasse tais coisas. 

E assim a minha estadia em São Paulo se tornava cada vez mais louca. Eu me afundava em trabalho e mulheres. 

Querendo ou não, acompanhava seus passos de longe, ainda que me condenasse por tanto. Ela era impossível por tantas situações e mesmo que eu a desejasse ela era ainda assim, impossível.

Foi somente em seu aniversário de 20 anos que eu em um momento de fraqueza bebi para comemorar e falei besteira. Estava cercado da minha equipe e acabei falando demais. Hoje alguns deles sabem, mas ainda somos uma família, e todos eles sabem também que eu jamais me aproximaria de Alice estando em um relacionamento com o meu irmão.

Por isso que quando ela apareceu aqui no quartel, muitos deles ficaram alvoraçados, e malmente eu desci do caminhão, Alcântara chegou até mim.

_ Ela está em sua sala. 

_ Ela quem? 

_ Alice, sua Alice. 

O encarei cético porque era algo realmente impossível, mas os olhares dos outros companheiros me diziam que talvez eu estivesse enganado. 

A cada passo que eu dava, meu coração acelerava e nem o peso da ultima ocorrência que foi dar apoio a uma outra base em uma indústria de recicláveis que pegou fogo, era comparado com as batidas que davam o meu coração nesse momento.

Sim eu fui um filho da puta sortudo, e os céus me abençoou. Mas assim como veio, ela se foi e eu só poderia me agarrar a ilusão de que talvez ela voltaria. Só que não aconteceu. Alice não voltou, e com isso a minha vida antiga também não retornou.

Eu só poderia me conformar e seguir em frente. Mas como fazer isso, se nem ao menos outras mulheres me despertavam desejo?





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