Capítulo 13

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ALICE

Bem que dizem que nós fazemos um plano e Deus nos guia para os seus.

Essa gravidez não era o esperado, mas agora eu não poderia recuar. Sei bem como aconteceu e sei também da minha parcela de culpa.

Olhar para Fábio me fazia cada vez mais lembrar de como a minha parcela de culpa foi feita, foi sentida e tudo mais.

Por sorte, os meus dias de descanso acabaram, e com isso pude voltar a me afundar no trabalho. Ou parte dele. 

Agora mais do que nunca eu precisava ter um bom desempenho para permanecer aqui e não voltar chorando para a casa da minha mãe, nessa situação. Por mais que no final de semana ela tenha insistido para que eu retornasse para casa.

Segundo seus argumentos, precisávamos reprogramar nossa rota, e eu faria da melhor maneira retornando para casa. O que não vai acontecer. Eu tenho o meu orgulho, e ele jamais me permitiria aceitar tal pedido.

...

Estava em minha mesa, analisando alguns projetos que se acumularam em minha ausência quando meu telefone toca. 

_ Alice Lourenço.

_ Oi. - era a garota da recepção. - Tem um senhor Otto Beraldi aqui querendo falar com você.

O que Fábio queria? Não entendia a sua insistência. Já havia deixado claro que a responsabilidade seria totalmente minha e que não queria manter contato. Porque tanta insistência?

_ Diga que estou muito ocupada e que não posso atender no momento.

_ Ok.

Depois de colocar o telefone no gancho respirei fundo e direcionei meus olhos para o meu ventre que se encontrava reto. Não sei se essa ausência de sentimentos é normal, mas ainda assim eu sinto um misto de coisas novas. Não tenho palavras para explicar. Talvez como as construções que sempre estudei, essa ligação com esse bebê se construiria com o tempo. E eu a farei tão sólida quanto os prédios projetados por Niemeyer.

Voltei a minha atenção ao trabalho, mergulhei tão fundo que quando percebi já passavam das dezoito e trinta. 
Olhei ao meu redor e apenas duas pessoas na grande sala onde outros trainees dividiam o espaço. Recolhi as minhas coisas e para não correr riscos, decidi que o metro era a opção mais segura de agora em diante.

Milena apesar de não estar em uma situação grave, terá mais uma semana de afastamento. Conversei com ela no almoço de hoje e ela está bem, descaçando segundo as recomendações.

Meus pensamentos ainda estavam em toda a papelada que passaram pelos meus olhos, por isso não percebi a pessoa parada no saguão me encarado, até que meu nome fosse dito, chamando a atenção dos outros transeuntes. 

_ Alice. 

Eu conhecia aquela voz, e, ah, como eu queria distancia do dono daquela voz. 

Me virei para ter certeza de que não estava alucinando, mas não. Denis estava parado com as mãos no bolso, vestido totalmente de preto e com aspecto abatido. Diria que era uma vitima de toda essa situação, se eu não fosse a verdadeira vitima. 

Suas olheiras eram visíveis o que contratava com o tom de sua pele sempre tão clara, os fios dos cabelo alguns centímetros mais longos e o sorriso amarelo.

Permaneci parada no mesmo lugar, e só então ele se deu conta e se aproximou. 

_ Tentei falar com você mais cedo e não consegui, então te esperei. 

_ Estava ocupada, alguns trabalhos atrasados.

_ Você está gostando da capital? Digo de trabalhar aqui como um funcionário qualquer?

_ Sim, eu estou buscando o meu próprio caminho.

_ Eu senti tanto a sua falta. Tentei ficar longe, até mesmo sentir raiva depois do que você fez...

_ Lembrando que pra toda ação, existe uma reação. Se não quisesse que eu tivesse dormido com o ...

_ Eu sei, eu sei. Talvez por isso eu não consegui te odiar como deveria ser, assim como você parece me odiar. Alice, eu te amo, te amo tanto que a sua ausência me machuca mais do que toda essa merda que aconteceu. Eu sei que não é tarde querida. Sei que ainda podemos reatar e fazer dar certo. Conversei com a minha mãe sobre essa situação...

_ Disse que você me traiu com a sua melhor amiga, e que é provável que fui chacota de Sorocaba por um longo tempo? 

_ Alice, você dormiu com o meu irmão, mesmo sabendo como ele é? 

_ Sim, eu fiz, não sei se me orgulho do ato, mas não deixaria você me subestimar. Olha Denis, as coisas para mim não mudou, nada aqui ainda mudou. Ainda existe a mesma raiva, o mesmo ódio, esse tempo amenizou, mas não apagou, então não, não existe a menos chance de reatarmos qualquer coisa entre nós dois. 

_ Eu não vou desistir Alice. Você é a mulher da minha vida. Eu fiz merda e por isso vou esperar o tempo que for para consertar nosso relacionamento. 

Todo seu encanto, o charme que me cativou no passado não surtia mais efeito sobre mim como antes. Tentei ao menos vasculhar em seus olhos qualquer faísca e nada. O que me vinha era ânsia. 

Não acho que possamos voltar a ter algo concreto como eu antes imaginava. Sempre haveria a desconfiança, o medo da falha voltar acontecer, buscaríamos nos mínimos detalhes culpar um ao outro e no final nos desgastaríamos emocionalmente com toda essa situação. Então é melhor eu nem pensar em aceitar qualquer pedido dele. 

_ Não existe mais nós Denis, deixou de existir quando você decidiu não me respeitar. 

Nada que ele dissesse me faria mudar. Algo que eu tenho para mim, a minha confiança é como vidro, uma vez quebrado, não há como restaurar. Não sou tão puritana, mas ainda assim, sei ser mulher e aceitar toda e qualquer consequência de meus atos. 





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⏰ Última atualização: Sep 09, 2024 ⏰

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