Capítulo 3

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_ O tenente Otto? Ele está em uma ocorrência. – um jovem muito sorridente me respondeu me examinando dos pés à cabeça.

_ Ele tem previsão de chegada?

_ Olha senhorita, essas ocorrências são bem imprevisíveis.

_ Tudo bem, é que eu vim de tão longe e queria vê-lo. Sou Alice, a cunhada dele. – Lhe estendi a mão em um cumprimento.

_ Só um momento, vou avisar ao meu superior.

Ele me deu as costas e eu fui olhar o ambiente ao redor. Era um local agradável, mas não pude fazer a minha inspeção mais detalhada pois ouvi alguém me chamar.

_ Então você é a Alice, cunhada do tenente Otto?

Este também que aparentava certa idade me encarou com um sorriso suspeito.

_ Sim sou eu.

_ Ele está em uma ocorrência, mas se quiser pode aguardar em sua sala. Ele vai ficar muito feliz em te ver.

Eu poderia notar segundas intenções em suas palavras, mas preferi me fazer de cega. E enquanto eu esperava Fabio aparecer, não sei quantas cabeças apareceram na janela para me encarar e depois sair com um sorriso.

Não entendi todo o alvoroço, mas já estava começando a ficar nervosa. Foram mais de duas horas que eu permaneci ali sentada até que enfim Fabio apareceu. Seu rosto estava cheio de fuligem, as roupas que um dia tiveram cor, pareciam mais roupas maltrapilhas, e a calça anti chamas ainda estava pendurada em seu quadril.

Encarar seus olhos azuis, ou cinza, ainda não me decidi em todo esse tempo, me deu uma sensação diferente. Nova para mim, já que antes eu nunca havia feito como fazia agora, porém o que deixou as minhas pernas bambas e me fez segurar no braço da cadeira foi o seu sorriso, perfeito e com um diastema.

_ Alice? – Meu nome saiu em um tom doce de seus lábios, e começava a achar loucura total o que pretendia fazer.

_ Oi Fábio, quanto tempo.

_ Sim. Espero que não tenha ficado me aguardando por muito tempo.

_ Um pouco, mas tudo bem.

_ Bom, eu preciso de um banho, pode me aguardar mais um pouco?

_ Claro.

O que era mais alguns minutos para quem esperou por duas horas e não desistiu dessa ideia muito maluca.

Alice, saiba que se concretizar, nada será como antes.

Sim, eu estava disposta a assumir as consequências.

...

_ Bom agora, estou mais apresentável.

Fabio era um homem lindo, seu corpo bem definido, seu olhar imponente combinado com um sorriso malandro fazia qualquer mulher se derreter aos seus pés. Tive pouca convivência com ele, mas sei que o irmão tem muito ciúmes, por tudo o que a mãe declara ao seu respeito.

Só agora eu consegui enxergar o quão Denis é fútil perto do irmão. Enquanto um buscou carreira longe dos privilégios da família e alcançou sucesso, o outro usa como desculpas o fato de que se os pais conquistaram ele tem que usufruir sem nenhum esforço.

O cheiro de perfume amadeirado chegou ao meu olfato como um afrodisíaco e foi como se eu tivesse ingerido alguns goles de vodka, me senti embriagada e gostava dessa sensação.

_ A que devo a honra dessa visita?

_ Eu tenho uma entrevista na segunda e quis passar aqui para te dar um oi.

_ Uau. Fico feliz por lembrar de mim. – Disse se sentando na mesa a minha frente, e não pude deixar de notar suas coxas grossas e bem torneadas e também o volume no meio delas que a calça parecia não comportar.

Nossa, quando eu me tornei uma tarada assediadora?

_ Eu sempre lembro de você Fabio. – O que não era uma mentira.

_ As sete eu sai do turno, se estiver sozinha, podemos sair para beber alguma coisa. Não sei.

_ Isso soa bem para mim.

Fomos interrompidos por alguém batendo na porta.

_ Tenente, o capitão está aguardando na sala dele.

O ambiente estava com um ar pesado e só percebi por causa do olhar que o jovem lançava de mim para Fabio. Ele pediu que eu aguardasse mais um tempo e foi ao trabalho.

Enquanto eu tive mais um tempo para pensar e desistir dessa ideia maluca. Era maluca sim, mas ao mesmo tempo existia algo magnético dizendo que eu precisava concluir esse plano.

Aceitar Denis novamente em minha vida era uma ideia inviável, mas eu não aceitaria ser passada para trás. Meu plano era tocar onde mais doía em sua ferida, afinal, uma escorpiana tem dessas coisas, não que eu me ligue em coisas de signo, o meu ceticismo se estende a isso, mas dizem que somos muito vingativos. Que seja. Ele me fez sentir uma palhaça por todo esse tempo, me apresentando inclusive a menina como sua melhor amiga. O quão palhaça ele acha que sou?

Ele é um babaca e eu vou mostrar isso para ele.

Meu celular vibrou mais uma vez na bolsa e ao encarar a tela, duas coisas me chamaram a atenção, faltava pouco para as sete da noite e vinte e três chamadas perdidas de Denis nos últimos trinta minutos.

Por precaução achei melhor desligar o celular, ou a minha coragem se esvairia.

Demorou mais um tempo até que Fabio aparecesse com uma mala no ombro.

_ Eu estou pronto para sair.

Fabio me estendeu a mão e não hesitei em aceitar. E assim saímos do quartel, ele segurando a minha mão, comentando sobre a última ocorrência e porque demorou tanto.

Me envolvi em sua conversa porque ele tinha uma oratória impecável e também algo em seu tom de voz, não sei explicar, era como uma bruxa lançando um encanto.

_ Eu vim de carro. – disse assim que vi a direção que estávamos seguindo.

_ Bom, deixe-o ai e amanhã eu peço para alguém devolver em seu hotel.

A todo momento ele estava sendo cordial e não condizia com a imagem que o irmão descrevia. Eu conhecia Fabio, mas apenas de trocar alguns cumprimentos, nada tão íntimo como ele segurar em minha mão enquanto conversávamos. Denis sempre dizia que ele era arrogante, convencido e invejoso. Que não se contentou em pegar todas as mulheres de Sorocaba e agora veio pegar as de São Paulo.

Iludida, eu acreditava, mas agora até nisso percebo a maldade de Denis. E se fosse verdade, eu usaria a meu favor.

BRINCANDO COM FOGOOnde histórias criam vida. Descubra agora