Capítulo 11

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ALICE


A minha mãe sempre esteve presente em minha vida, e vendo como ela batalhava a cada dia para sobreviver e cuidar de mim, fez com que eu criasse uma certa admiração por ela. Sim, ela era meu espelho. Quem eu queria olhar, admirar e me espelhar.

Lembro que em minha infância era muito difícil ter brinquedos ou qualquer outra futilidade que criança se diverte. Era comida e livros para que ela pudesse alcançar qualquer coisa que melhorasse a nossa situação. Até meus onze anos, a única coisa existente no pequeno cômodo em que morávamos para distração eram os cadernos e livros que ela trazia, ganhado por alguém ou comprado de segunda mão. Foi quando ela me disse que a partir daquele momento a nossa vida mudaria. 

Lembro da felicidade que surgiu dentro de mim. Eu sempre fui uma fiel fã dela.

Sempre propus dentro de mim que não permitiria tropeços em minha vida e que planejaria cada ação com detalhes para não ser pega de surpresa.

Nada foi sem planejar. A escola, notas boas, universidade federal, trabalho em uma empresa renomada, alcançar independência financeira, ter a minha casa, para em fim construir uma família.

Eu só não sabia que no momento em que eu decidi brincar com fogo, todos os meus planos seriam reformulados.

Ainda estava cética sobre a minha atual situação. Dentre todos os homens possíveis na terra, Fabio era o ultimo homem a quem uma mulher devesse considerar ter uma família.

Ele era o tipo de garoto de programa de luxo que uma mulher pode usufruir. O nome de sua família era influente, ele tinha dinheiro e um corpo maravilhoso, mas não tinha o principal, caráter.

Denis enfatizava bastante sobre isso, e o fato dele se quer importar com sua mãe, algo que eu via, ele mal a visitava. 

Quantas vezes tivemos almoço em família e ele não estava por perto, até mesmo no aniversario de Ada, algo imperdoável para mim. 

Ada sempre falava com amor do filho, e por mais que sempre buscasse justificativa para a sua ausência, isso me deixava desgostosa.

E agora diante de toda essa situação ele diz que assumirá a responsabilidade? Por quanto tempo? Até onde ele sustentaria a narrativa de que era um bom homem?

Durante a noite, preferi o silencio. A minha mãe esteve ali, por mais que estivesse desgostosa da situação, ela esteve comigo.

Em minha mente muitas coisas se passaram, foram tantas que não havia me tocado que dentro de mim, havia um serzinho. 

_ Você quer conversar sobre essa situação? 

A voz dela surgiu em meio ao silêncio, quando minha mão passeava pelo meu baixo ventre. Estava em posição fetal de olhos fechados, sentindo pela primeira vez essa nova realidade.

_ Não.

_ Tudo bem. Eu sei da criação que dei a você. No momento pode ser um choque, mas sei que você será uma mulher capaz de lidar com essa situação. Desculpa pela minha reação inicial, é só que eu não queria que você passasse por tudo o que passei. 

Nada respondi, não tinha respostas em mim. Nem eu mesmo estava tão convicta de que era capaz de lidar com essa situação. 

Recebi alta no dia seguinte e fui para o meu apartamento. Minha mãe insistiu para que eu recolhesse as minhas coisas e voltasse a morar com ela, mas não foi para isso que ela me criou. Eu era uma mulher forte, eu tinha convicções, ela foi capaz, eu também seria.

Agora mais do que nunca, não poderia aceitar o papel de coitada. Eu tenho alguém por quem lutar e seria tão bem sucedida como ela foi. 

Descobri também que Milena teve ferimentos leves e que o acidente decorreu porque a outra motorista freou bruscamente por conta de um cachorro que atravessava a rua. Ainda bem que nenhuma de nós nos ferimos gravemente e que tudo decorreu bem.

Acredito que tudo isso seja para um novo despertar, e que eu só precisava me encher de coragem.

Descansei bem nos dias em que fiquei em casa, coloquei tudo o que precisava em ordem, afinal eu estava gravida e não doente, volta e meia me pegava sorrindo com a situação. Era inegável culpar qualquer um dos envolvidos quando tudo aconteceu por minha causa, e lembrar de como as coisas aconteceram, me dava um frio interno.

Minha mãe ligava todos os dias preocupada por minha nova condição, e eu sempre dizendo que estava tudo bem, e ao contrario do que eu esperava, Fábio não deu sinal ou qualquer noticia. 

Assim eu pensei, pois na sexta feira, exatas onze e dez da manha, quando eu esperava um entregador o meu interfone tocou. 

_ Senhorita Lourenço?

_ Oi Gregório. - ele era o porteiro que sempre me salvava com toda e qualquer situação. 

Gregório era um homem de 50 anos, e desde que eu cheguei no prédio tem me dado todo suporte, nossa afeição decorreu ne maneira bilateral. Ele me respeitável e eu fazia exatamente o mesmo.

_ Ainda não é a entrega que a senhorita está esperando, mas tem um senhor aqui dizendo que é o pai do seu bebê. 

Ele me achou? Eu não estava esperançosa que ele corresse atrás de mim, até porque a única pessoa que sabia do meu endereço era a minha mãe, não deixei pistas de onde estava quando sai do hospital e também não deixei qualquer contato para que ele pudesse me localizar, mas o fato dele estar aqui na minha porta.

_ Alias senhorita, está mesmo grávida? Porque não me disse? Esse sujeito é mesmo o pai? Coloco pra correr, dou uma surra? Sumo com o corpo?  - me bombardeava de perguntas enquanto eu continuava em silêncio. 

_ Você não pode desaparecer com o corpo de um tenente do corpo de bombeiro. 

_ Eu posso, é só a senhorita pedir. 

_ Não, pode liberar a sua entrada.

Sorri com a situação, Gregório era realmente uma pessoa irreverente, totalmente o contrario de pessoas que eu convivi.

Eu estava vestida de maneira confortável para ficar em casa e assim que coloquei o interfone no gancho, me vi preocupada com essa situação. Então corri para o quarto, retirei rapidamente o short e a camisa e me enfiei em um vestido solto, no tom pastel de amarelo, soltei o meu cabelo e passeis os dedos para em fim ter uma boa aparência. 

Antes mesmo que eu pudesse retornar a sala, a campainha tocou.



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