Capítulo 10

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ALICE


Assim que abri meus olhos veio a dor em meu pescoço. 

Eu havia saído do trabalho e aceitei carona com a minha amiga, pouco depois fomos atingidas por um outro veiculo. Só depois de olhar pro lado e vê-la desacordada que também apaguei. 

Olhei ao meu redor e estava em um quaro privado. Meu plano de saúde é bom, mas acho que não cobre um quarto privado. Esperei uns cinco minutos, ali quietinha na cama, porque não sabia o que foi atingido em mim até que a porta se abriu.

De todas as pessoas no mundo, a ultima que eu esperava ver era Fábio. Ele ainda estava de uniforme, o que indicava que ainda estava em trabalho. Como ele soube que eu me acidentei? Ou será que foi ele que me socorreu?

_ Está tudo bem? Sente alguma coisa? 

Sua voz grossa, com alguns decibéis de grave estava lá, só que agora mais séria. Seus olhos eram um misto brilhante com preocupação, ainda que a sua feição impusesse autoridade. 

_ O médico?

_ Ele virá.

Entramos em um silencio nada agradável. Ele continuava me encarando, como se inquirisse algo e isso me deixava desconfortável. 

_ Você desapareceu, pensei que tivesse voltado para Sorocaba.

_ Estou morando na capital agora.

_ E quando ia me procurar? 

Seus olhos de claros ficaram escuros. Fábio era lindo, um homem capaz de convencer uma mulher apenas com um olhar, e por isso eu não o encarava com frequência. Não era seguro fazer isso, ele me dominaria, e eu não quero ser dominada.

_ Porque eu deveria te  procurar? 

_ Você não fez essa criança sozinha, ela também é responsabilidade minha.

Criança? Ele só pode estar louco.

Cética, eu o encarei.

_ Eu não sei do que você está falando e se puder me deixar em paz eu agradeceria.

_ O medico disse que você está gravida de oito semanas.

_ Eu não posso estar grávida naquela noite nós usamos camisinha e você foi a única pessoa que eu tive relações. Logo essa notícia é infundada.  - Disse com convicção para que ele parasse de delírios.

_ Então você não sabia? - Disse soltando um sorriso inesperado.

Porque ele continua insistindo nessa situação. Grávida? Impossível.

Eu sei que nunca tomei remédios, assim como também sei que naquela noite usamos preservativos nas duas vezes em que... Duas? Foram quantas? Oh!

Eu fiquei anestesiada depois da segunda vez, isso significa que paramos, sim? 

Iria lhe responder, mas o médico escolheu esse momento para entrar e para a minha surpresa a minha mãe veio logo em seguida. 

_ Boa noite Alice. Vejo que já viu seu esposo.

Encarei Fábio com a presunção do médico e fiquei incrédula por seu sorriso estar ainda maior. 

_ Ele não é o esposo dela doutor, a minha filha não é casada.  - minha mãe disse vindo para o meu lado. 

_ Olá senhora Sandra. 

_ Olá Fábio, quanto tempo. Que surpresa te encontrar aqui.

_ Eu participei do resgate da Alice. 

_ Sim? Então sou grata por tanto. Se você puder nos dar licença, trataremos de assunto de família agora.

_ Receio que eu não possa sair senhora.

Eu o encarei em pânico, ele não levaria essa história a sério.

_ Doutor. - Fabio continuou.

_ Bom, a paciente está bem, levando em consideração o seu estado. Houve um pequeno corte no supercilio o qual já suturamos e com o impacto, é possível que tenha dor de cabeça e na parte superior da coluna, do mais, nem ela e nem o bebê correm perigo.

_ Bebê? - Minha mãe perguntou com a voz falha. 

_ A senhora, senhorita. - Corrigiu encarando Fabio. - está de oito semanas.

Minha mãe sempre foi uma mulher imponderada, e por isso em sua face carregava-se um pouco de severidade, e era assim que ela me encarava nesse momento. Não sei o que estava se passando em sua mente, mas a mim, deixava transparecer o desgosto do que aquela noticia significava.

_ Filha, como isso é possível? Você e o Denis terminaram. Além do mais, ele disse que a respeitaria até o casamento. 

_ Meu irmão não tem nada haver com essa história senhora Sandra. - a voz de Fabio surgiu para me alertar que essa situação só estava acontecendo porque eu fui impulsiva e corri até ele.

_ Sai daqui agora. Deixa eu falar com a minha mãe!

_ Alice?

_ Por favor. - implorei, sentindo meus olhos queimarem. 

Eu era um espelho da minha mãe e por isso as suas ações se refletiam em mim. Ela era uma lutadora, eu era lutadora. Ela era sonhadora, eu era sonhadora. Ela estava decepcionada comigo, então eu...

_ Eu sinto muito, mas eu não posso. Faço parte disso tanto quanto você e não vou fugir de minhas responsabilidades.

_ Responsabilidade? - Minha mãe bradou em sua direção.  - Você acha que engravidar a minha filha enquanto ela namora o seu irmão é uma responsabilidade? É claro, você é homem pode tudo, mas e quanto a honra dela, o que vão falar? Para homens nunca há problemas, até porque a errada sempre é a mulher, independente se ambos foram coniventes com o ato. 

Em minha garganta se formava um bolor, eu não absorvi ainda o fato de estar gravida, mas a feição da minha mãe, fez-me sentir decepcionada comigo mesma. A raiva cravada em sua voz enquanto ia em direção a Fábio fez um bolor ficar preso em minha garganta. 

_ Eu nunca fui um covarde em toda a minha vida, não é agora depois de adulto que pretendo ser. Ninguém foi forçado a nada, e ninguém levará fama de nada. 

_ Como pode dizer isso? Era seu irmão quem estava namorando a minha filha, como pode agora ela estar grávida de você e dizer que está tudo bem? 

_ Com todo respeito senhora Sandra, eu estou pouco me fodendo para quem Alice namorava antes, mas agora nós dois temos uma responsabilidade em conjunto e eu não vou fugir disso. 

_ Fábio, por favor.  - implorei para que ele não piorasse a situação.

Eu conheço a minha mãe, ela está brava agora, mas depois vai ponderar a situação e tudo vai ficar bem. 

Ele me encarou por um breve momento até que disse.

_ Eu entendo que ninguém aqui esperava por essa situação, eu vou ao quartel agora, mas amanha cedo eu estarei de volta.







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