Capítulo 9

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FÁBIO


_ Porra Otto, você não é mais o mesmo. 

Meu amigo estava na minha frente. O sorriso do filho da puta era o de um gentleman, as mulheres realmente se encantavam por ele.

Estávamos voltando de uma ocorrência e Vieira decidiu que precisávamos abastecer o carro, por isso desviamos do outro caminhão a qual dávamos apoio. 

Alcântara era o segundo no comando e por isso estava aqui ao meu lado enquanto, Costa e Medeiros estavam ao nosso lado. Lucas era o mais novo na equipe e ainda muito retraído, ele se dispôs mais com Vieira que é o único casado aqui. Acredito que com o tempo ele se adeque mais a loucura e o tratemos pelo sobrenome como fazemos todos. 

Éramos uma equipe de elite, entravamos onde a equipe convencional não tinha acesso, fazíamos coisas que bombeiros comuns não eram treinados a fazer. Por isso éramos a equipe de apoio, solicitada quando a coisa realmente ficava feia. 

E eu tinha orgulho de cada um que aqui estava. Éramos uma irmandade, e chega até a ser irônico dizer, mas neles sim eu sabia que eram irmãos. 

_ Meu rosto continua o mesmo. -Disse enquanto descia, afim de ir a loja de conveniência pegar algo para mastigar.

_ Irmão, Sara já laçou o Vieira, perdemos sem nem ao menos termos a oportunidade de lutar, e agora você, só que ainda pior, a mulher nem ao seu lado está.  - disse caminhando ao meu lado.

_ Concordo. - Medeiros gritou, ainda parado ao lado do caminhão.

_ Não fode porra, não estou afim dessa conversa.

_ Você precisa reagir, ou vai atrás da garota ou encontra outras garotas. Já adianto que a segunda opção é bem melhor. Elas se amarram quando digo que sou bombeiro, você sabe que elas gostam da nossa lata, temos que aproveitar, cara. 

O Gentleman é somente na aparência, é mais puto que eu em números inimagináveis.

_ Eu não quero reagir para nenhuma das suas opções. Estou bem como estou e é isso. 

Mesmo eu entregando o cartão para a atendente que parecia encantada por nossa presença, ele ainda assim, continuava a falar. 

A verdade é que depois de Alice, eu realmente não vi motivos para querer outras mulheres, sendo assim estou em um celibato voluntario. São dois meses que não encosto em uma mulher e não estou me vendo louco por isso, mas o meu amigo, ele está em profundo desgosto por não me ver encostar em alguém do sexo oposto.

A fim de ignorá-lo, caminhei de volta ao caminhão entregando a sacola para Costa, mal tive tempo de encostar na maçaneta e ouvimos um barulho. Foi uma colisão. 

Vieira correu para a direção enquanto nós corremos para o acidente, eram poucos metros  depois de onde estávamos, e por ser final de dia a movimentação dos carros ainda era grande. 

Como de praxe fui até a motorista que estava desacordada e por sorte observando a situação, nada de grave. Olhei para Alcântara que estava verificando os passageiros do outro carro até que ele arregala os olhos em minha direção.

_ Porra Otto.

_ É grave? Precisamos chamar a ambulância. A passageira daqui está somente desacordada. - disse, enquanto abria a porta e me preparava para a sua retirada enquanto Medeiros me trazia os equipamentos necessários.

_ É Alice, a sua Alice. 

_ O quê? - eu estava indo para colocar o colar cervical quando minhas mãos congelaram.

Não perdi tempo, joguei o mesmo para Medeiros e fui em direção ao outro carro. Alcântara estava do lado do motorista e por isso podia muito bem ver o rosto de Alice desacordado. Ela tinha um pequeno corte no supercilio, o que fazia com que um filete de sangue atravessasse seu rosto. 

Dei a volta e empurrei Costa, não tendo a intenção de ser rude, eu queria apenas ter a certeza de que ela estava bem. Verifiquei se ela estava respirando e se alguma coisa prendia suas pernas, graças a Deus ela só estava deitada em cima do airbag.

Tentei ao máximo controlar o meu emocional, afim de deixá-la segura. Ainda que a olho nu eu soubesse que ela estava bem, mas só respiraria com tranquilidade quando chegássemos ao hospital. 

Os socorristas tentaram me deixar de fora da ambulância, mas eu fui mais insistente. Antes que as portas se fechassem, ouvi um dos caras dizer.

_ Estamos logo atrás. 

....

Os caras chegaram pouco depois que os médicos levaram Alice. Eu estava agoniado com a situação. Um pânico inexplicável do qual nunca senti antes. 

_ Eles disseram alguma coisa? - Vieira falou assim que parou na minha frente.

_ Ainda nada. 

_ Eu passei a situação ao capitão, para ele estar ciente do nosso atraso.

_ Nem tinha pensado nisso. 

_ Fica tranquilo, eles não disseram nada no trajeto e nem ela acordou?

_ Nada. 

Não dissemos mais nenhuma palavra. Eu já havia retirado vitimas de acidentes que estavam praticamente desmontados, por mais que tivesse sido uma leve batida, ainda assim, não conseguia me acalmar com relação a falta de consciência de Alice. Ela estava bem, porque não acordou?

Meia hora depois um medico veio em nossa direção. 

_ Senhor?

_ Tenente Otto Beraldi.

_ É um prazer Tenente, apesar das circunstancias. Sua esposa já est acomodada em um quarto e fizemos todos os exames possíveis para saber se ela estava bem. 

Esposa. Não fiz questão de corrigi-lo e sorri intimamente, porque gostei da sua pronuncia. Ainda estávamos de uniforme e provavelmente eles pensavam que Alice era esposa de um tenente do corpo de bombeiros.

_ Como ela está doutor?

_ Bem, ainda inconsciente, mas é provável que em breve acorde levando em consideração a sua condição. 

_ Que condição? - Alcântara deu sinal ao meu lado.

_ A senhora Alice está gravida, pedi para que uma obstetra desse uma olhada e está tudo bem com o feto, a colisão não foi tão grave, também não afetou o bebê, mas vamos mantê-la em observação para não restar duvidas. 

Grávida? Alice está grávida?

_ Ela está de quantos meses doutor? - Agora foi a vez de Vieira. 

_ Oito semanas. 

_ Porra Otto, porra tenente. - Meu amigo me puxou pela nuca colando nossas testas, ainda que eu pudesse ver o seu sorriso explicito, estava atônito com a situação.

Alice era uma menina mulher centrada e focada em seus estudos, diria que muito cdf, daquelas mulheres que vieram a terra para deixar seu nome marcado na história. Como ela reagirá quando souber que tem um filho meu em sua barriga? Ou melhor, ela sabia que estava grávida?






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