É por isso que eu escrevo. Hoje, alguém fez questão de me lembrar que não me ouve
porque eu falo demais. Quando ouvi isso, me senti atingido, mas, honestamente, não
fiquei chateado. Eu sei que é verdade. Eu falo demais, penso demais, sinto demais.
Parece que há uma tempestade constante dentro de mim, e as palavras são o único jeito
de aliviar essa pressão.
Talvez eu fale demais porque estou tentando entender o mundo, tentando encontrar
meu lugar nele. Tenho tantas perguntas, tantas dúvidas, e é como se cada palavra que
saísse de mim fosse uma tentativa de organizar esse caos interno. Quando falo, estou
tentando dar sentido às coisas, tentando me conectar, tentando ser compreendido. E, na
ânsia de ser ouvido, às vezes acabo falando mais do que deveria, mais do que os outros
têm paciência para escutar.
Eu entendo que ouvir alguém falar sem parar pode ser cansativo. Talvez as pessoas ao
meu redor apenas desejem um pouco de silêncio, um pouco de paz. Mas para mim, o
silêncio às vezes é ensurdecedor. O silêncio deixa espaço para os meus pensamentos
correrem livres, e nem sempre consigo lidar com tudo o que aparece. Talvez seja por
isso que, nas conversas, eu acabo preenchendo os vazios com palavras, com histórias,
com tudo o que passa pela minha mente. É uma tentativa de preencher os espaços, de
evitar o silêncio que me assusta.
Escrever, no entanto, é diferente. Quando escrevo, não tenho medo do silêncio. Nas
páginas em branco, encontro o espaço para desabafar sem pressa, sem interrupção.
Aqui, não preciso me preocupar em ser demais ou de menos. Posso ser simplesmente
eu, com todas as minhas palavras e pensamentos. É como se o papel me oferecesse um
abrigo, um refúgio onde posso ser quem sou, sem medo de julgamento.
Nas cartas, eu me permito falar tudo o que não consigo dizer em voz alta. Escrever é
minha forma de processar o que sinto, de entender o que penso. É um momento só
meu, onde posso ser honesto, vulnerável, sem máscaras. Eu desabafo porque preciso de
um espaço onde minhas emoções possam existir livremente, onde não preciso me
preocupar com o que os outros vão pensar ou dizer.
As cartas são o meu jeito de conversar comigo mesmo, de encontrar clareza no meio da
confusão. Aqui, posso organizar meus sentimentos, dar nome aos meus medos,
encontrar respostas para minhas dúvidas. Quando escrevo, é como se estivesse falando
com um amigo que sempre me escuta, que sempre entende. É um alívio poder despejar
meus pensamentos no papel, sabendo que ele não vai se cansar de mim, não vai me
interromper.
Talvez eu fale demais porque sinto que, se eu parar, vou me perder nos meus próprios
pensamentos. Mas quando escrevo, encontro um equilíbrio. Escrever me dá a chance de
respirar, de colocar para fora tudo o que está preso aqui dentro. E, no fim das contas, é
isso que eu mais preciso: um espaço onde posso ser eu mesmo, onde posso ser ouvido,
mesmo que seja apenas pelas palavras que escrevo.
Então, se eu falo demais, é porque sinto demais. E se escrevo, é porque preciso de um
lugar onde eu possa me escutar, onde possa me entender. Porque, nas cartas, encontro
o que falta nas conversas: a liberdade de ser quem sou, com todos os meus
pensamentos e sentimentos, sem medo de ser demais. Aqui, sou ouvido, mesmo que
seja apenas por mim. E, às vezes, isso já é o suficiente.