CAPÍTULO 2

60 11 3
                                    

" Temia que não durasse nada"

SKY MILLER.

.


Eu havia deixado um garotinho órfão.

Ele era magro e diminuto, uma criaturinha frágil com cabelos castanhos e grandes olhos curiosos, azuis, que me olhavam como se eu fosse o maior modelo de maldade que ele já havia visto. Estava usando um uniforme de creche, visivelmente infeliz. Se escondia pela casa destruída, tentando brincar de esconde-esconde comigo em meio à destruição e nojeira. A cozinha não era limpa; aposto que a louça estava ali há tempos, um nojo total. O banheiro, pelo que vi, também estava em condições deploráveis. No entanto, o quarto do garoto estava surpreendentemente limpo.

Não pela família que vivia ali mas sim pela empregada que também havia ido embora.

___ Vamos, pestinha, saia de onde está escondido. Não tenho muito tempo. ____ Falo com paciência, sabendo que, como se tratava de uma criança, eu devia dar-lhe uma vantagem.

____ Vamos fazer assim: ou você vem até mim ou eu vou até você, é melhor se decidir, eu posso ser um tio bem legal mas depende do meu humor. ____ Proponho, e ele, temeroso, decide vir.

Ele era tão pequeno que, se fizesse o favor de me atrasar, poderia carregá-lo com uma mão e arrastá-lo para longe daquela sujeira. O garoto, sem nome, parou em minha frente e me analisou de cima a baixo, total julgamento e confusão dominando seus olhos.

Me agachei até ficar na sua altura.

____Quantos anos você tem? ____ Pergunto.

____ Seis. ____ Responde com uma voz frágil e baixa.

____Qual é seu nome?

____ Dario.

Um sorriso cruza meus lábios, e o garoto se encolhe. Imediatamente, paro de sorrir para não assustá-lo.

____ Isso é um belo caminho a trilhar, Dario. Não posso deixar você ficar aqui, então sugiro que venha comigo.

Ele me encara indignado, cruza os braços e balança a cabeça em discordância. Aproximo minhas mãos de seu cabelo, mas antes de tocar nele, o garoto arranca meus dedos do caminho, mordendo-os. Nem sinto a dor dos dentes e deixo ele descontar sua raiva em mim, era mais do que justo. Quando ele libera meus dedos, olho surpreso para as marcas que formaram, ameaçando sangrar.

Olho para ele tentando conter uma careta que vai fazê-lo correr até às pernas ficarem moles, e ele me encara desafiadoramente.

____ Melhorou?

Ele fica confuso, mas acaba balançando a cabeça em concordância. Sei como lidar com crianças; já fui chutado, esmagado, e xingado por crianças que subiam em minhas costas e olhado com desprezo como se eu fosse o diabo.

____ Vou levar você para um lugar mágico. Você gosta de mágica? Tenho certeza de que sim.

____Não existe magia.____Diz o pestinha e realmente ele estava certo, mas para mim eu acreditava que toda a criança com esta idade acreditava em magia.

Porém o garoto não precisava saber disso.

____Existe sim. Você quer ver?

O garoto balança a cabeça animado.

Decido então levá-lo, pegando suas mãos hesitantes e caminhando com ele, chutando os ratos que ameaçam nosso caminho até encontrarmos a passagem secreta mais próxima. A passagem, escondida perto de uma árvore, leva para o meu mundo abaixo. Certifico-me de que não há ninguém por perto, empurro o garoto suavemente e o vejo cair em um colchão macio. Faço com que ele vá primeiro, temendo que ele possa fugir achando que está sendo sequestrado, o que não é verdade. Ele tinha duas opções de vida: a primeira, ficar ali e ser encaminhado pelo conselho tutelar para uma nova família, podendo crescer infeliz; a segunda, vir comigo, viver uma boa vida em uma rua cheia de crianças e comer do bom e do melhor. Ele opta pela segunda, depois de um breve hesitar.

INFORTÚNIO Onde histórias criam vida. Descubra agora