CAPÍTULO 5.

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" Ela não faria isso."

SAVANNAH

Tudo naquela noite parecia mágico, como se a cidade tivesse sido envolta em um manto de encantamento que eu não conseguia descrever completamente. A presença de Saiph Karlberg, que até então eu havia achado irritante, revelava-se estranhamente divertida e, de alguma forma, reconfortante. Ele me guiava pelas ruas, mostrando-me lados da cidade que eu nunca imaginei existir, e, por um breve momento, pude esquecer de tudo o que me atormentava.

Enquanto caminhávamos, deixei de lado pensamentos sobre Tom e a forma como sua sujeira parecia estar impregnada em mim. Esqueci o estresse dos últimos meses, e, mesmo que a noite não apagasse completamente o peso que carregava, ela o aliviava, tornando-o quase suportável.

Passei por lugares que pareciam saídos de um sonho. A Rua das Motos era um caos alegre, onde motociclistas enlouquecidos corriam com os braços erguidos e garrafas nas mãos, desafiando a gravidade e o bom senso. Quando um deles me convidou para uma volta, Saiph, o desgraçado, aceitou por mim antes que eu pudesse recusar. Subi na moto, e o motoqueiro me segurou firme enquanto acelerava. A adrenalina corria pelo meu corpo, fazendo meu coração bater descompassado. O vento batia no meu rosto, e por um momento, pensei que pudesse vomitar de tanta excitação e medo.

Depois, seguimos para a Rua dos Bares, onde os motoqueiros iam celebrar suas corridas insanas. O lugar estava repleto de diferentes estabelecimentos, cada um com um tema mais excêntrico que o outro. Entramos em um bar inspirado em "Alice no País das Maravilhas", onde as mesas tinham o formato de cogumelos e as janelas imitavam o sorriso do Gato Cheshire. Saiph e eu nos sentamos, e logo, um pintor que parecia decidido a capturar minha imagem insistiu para que eu posasse para ele. Relutante, acabei cedendo.

Esperei ansiosamente enquanto ele trabalhava, com Saiph jogado preguiçosamente em uma cadeira ao meu lado, sua impaciência clara em seu rosto.

____ Theodore, ande logo com isso! ____ Saiph reclamou, lançando-me um olhar de lamentação. _____ Vai custar muito do seu bolso, amiguinha, esse cara é um canalha.

Finalmente, o pintor revelou o resultado. O desenho era impressionante, um retrato em preto e branco que capturava cada detalhe dos meus cabelos cacheados com uma precisão assombrosa. Por um momento, fiquei hipnotizada, quase estendendo a mão para tocar os cachos que pareciam tão reais. Saiph podia ter razão sobre o caráter de Theodore, mas não havia como negar seu talento.

____ Como é a sua primeira pintura aqui, sai de graça. ____ Theodore piscou para mim, e eu ergui as sobrancelhas em desafio para Saiph.


Ele não teve chance de responder antes que Theodore voltasse a falar.

____ Se você aceitar ser minha parceira na Rua dos Prazeres.

Meus olhos se arregalaram-se e antes

que eu pudesse reagir, Saiph segurou minha mão e me puxou para fora do bar, derrubando uma cadeira no processo. Corremos pelas ruas iluminadas, a adrenalina pulsando em minhas veias. Eu agradeci por não ter atropelado ninguém, ao contrário de Saiph, que quase derrubou uma senhora elegantemente vestida. Finalmente, ele me conduziu até um beco sem saída, onde paramos para recuperar o fôlego.

____ Viu? Eu te avisei. ____ Saiph disse, ofegante.

____ Você não avisou, você reclamou! ____ Retruquei, ainda tentando normalizar minha respiração.

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