Ouro Rosê.

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A princesa deu uma última mordida na maçã e a jogou no chão, manchando tudo de vermelho.

- Quem não gosta de mim me chama de Mina.

  Chaeyoung teve vontade de dizer que não
deixava de gostar dela, mas sempre fora seu Arcano preferido. Mas aquela não era a Princesa de Copas que ganhou vida.

Será que tudo aquilo era uma piada de mau gosto? Os Arcanos, teoricamente, desapareceram do mundo havia séculos. E, mesmo assim, tudo o que Mina vestia - do lenço desamarrado no pescoço às botas de couro de cano alto - estava na última moda.
Ela olhou para todos os lados da igreja branca, como se os amigos de Tzuyu pudessem aparecer a qualquer instante e dar risada da situação. Tzuyu era filha única de um nobre, e apesar de nunca agir como se desse importância a isso quando estava com Chaeyoung, os amigos dela a consideravam inferior. Como o pai de Chaeyoung era dono de diversas lojas em Valenda, ela jamais fora pobre. Mas não era da classe mais alta da sociedade, como Tzuyu.

- Se você está procurando uma saída porque recobrou o bom senso, não vou te impedir de ir embora.

Mina entrelaçou as mãos atrás da cabeça repleta de mechas douradas, encostou-se na estátua dela mesma e deu um sorrisinho.
O estômago de Chaeyoung se revirou, em estado de alerta, avisando-a para não se deixar enganar pelo sorriso de covinhas nem pelas roupas rasgadas da jovem. Aquela era o ser mais perigoso que Chaeyoung já havia encontrado.

Chaeyoung não achava que Mina a mataria - jamais seria tola a ponto de permitir que a Princesa de Copas a beijasse. Mas sabia que, se ficasse ali e fizesse um trato com a Arcana, ela destruiria para sempre alguma parte sua. E, apesar disso, se fosse embora, não teria como salvar Tzuyu.

- O que a sua ajuda irá me custar?

- Por acaso falei que vou ajudar?

Os olhos da princesa pousaram nas fitas creme que subiam nos sapatos de Chaeyoung e se enroscavam em seus tornozelos até desaparecer sob a bainha de seu vestido de bordado inglês. Aquele era um dos velhos vestidos de sua mãe, coberto com um bordado de cardos roxos-claros, flores amarelas minúsculas e pequenas raposas.

Mina retorceu os lábios de desgosto e continuo fazendo isso quando seu olhar subia até os cachos que, naquela manhã, ela tinha enrolado meticulosamente com o ferro modelador.
Chaeyoung tentou não se sentir ofendida. Pela pouca experiência que tivera com aquela Arcana, já achava que ela não era de aprovar muita coisa.

- Que cor é essa? - perguntou a princesa, apontando vagamente para os cachos dela.

- É ouro rosê - respondeu a jovem, animada. Chaeyoung jamais permitia que ninguém a fizesse se sentir mal por causa de seu cabelo incomum. Sua madrasta estava sempre tentando convencê-la a tingi-lo de castanho. Mas era do cabelo, com suas ondas rosas-pálido e suas mechas outro-claro, o que Chaeyoung mais gostava em sua própria aparência.

Mina inclinou a cabeça e continuou observando a jovem, fazendo careta.

- Você nasceu no Império Meridiano ou no Norte?

- Por que isso tem importância?

- Pode chamar de curiosidade.

Chaeyoung resistiu ao impulso de retribuir a careta da princesa.
Normalmente, adorava responder a essa pergunta. Seu pai, que gostava de fazê-la ter a sensação de que a sua vida era um conto de fadas, sempre brincava que a havia encontrada enroladinha dentro de uma caixa de madeira, junto com outras mercadorias curiosas que foram entregue em sua loja - era por isso que tinha cabelo cor-de-rosa, como as fadas, era o que o pai sempre dizia. E sua mãe sempre assentia com a cabeça e dava uma piscadela.
A jovem tinha saudade das piscadelas da mãe e das brincadeiras do pai. Tinha saudade de tudo relativo aos dois, mas não queria contar nada disso para Mina
Conseguiu dar de ombros em vez de responder verbalmente.
Mina enrugou as sobrancelhas e insistiu:

Era Uma vez Um coração Partido - MichaengWhere stories live. Discover now