Caprichos & Esquisitices.

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Se tempestades fossem causadas pela combinação de tabloides, filas de cavalheiros vestidos com lenços engomados no pescoço e bilhetes de origem questionável, uma tempestade perfeita estava se formando no mundo de Chaeyoung na manhã seguinte.
Ela apenas não sabia disso ainda.
Só sabia do bilhete de origem peculiar, que a fez sair de fininho de casa.

Encontre-me.
Loja de curiosidades.
Assim que o sol raiar.
- Tzuyu
                            

O coração de Chaeyoung quase explodira quando ela descobriu a mensagem em seu quarto na noite anterior. Ela não sabia se era um bilhete novo ou um bilhete antigo que só havia encontrado naquele momento. Mas caiu no sono lendo e relendo o bilhete, torcendo para que Tzuyu a estivesse esperando pela manhã com uma história diferente de que ouvira da boca de Jihyo.

A conversa com a irmã postiça no dia anterior deixara a jovem abalada: quase a convencera de que havia se iludido a respeito de Tzuyu. Mas a esperança é algo difícil de matar; uma mera faísca é capaz de causar um incêndio, e aquele bilhete acendera uma nova faísca em Chaeyoung.

Seu pai era dono de quatro lojas e meia espalhadas por Valenda.
Fora o sócio oculto de um alfaiate que escondia armas costurando-as nas roupas. Construíra uma livraria secreta, que só podia ser acessada por uma passagem escondida. Então havia a loja do Bairro das Especiarias, coberta de cartazes decorativos de "Procurado", com legendas que mais pareciam pequenos contos policiais mirabolantes. A terceira loja era um segredo até para Chaeyoung. E a quarta loja era o lugar preferido dela: Maximilian's Curiosidades, Caprichos & Esquisitices.

Foi nessa loja que Chaeyoung começou a trabalhar assim que seu pai permitiu. O homem tinha o costume de falar para os fregueses que tudo lá dentro era quase mágico. Mas ela sempre acreditou que alguns objetos que passaram pela loja do pai eram mesmo encantados. Não era raro ela procurar peças de xadrez que haviam se separado dos tabuleiros e, às vezes, ver quadros cujas expressões eram diferentes das que tinham no dia anterior.

Chaeyoung sentiu um aperto no peito, como se sentisse saudade de casa, assim que virou a esquina da rua pavimentada com tijolinhos que abrigava a Maximilian's Curiosidades. Sentira falta da loja durante as semanas em que ficou transformada em pedra, mas não sabia o quanto até aquele momento. Sentira falta das paredes que a sua mãe havia pintado, das prateleiras lotadas de achados de seu pai, da sineta....
Chaeyoung parou de repente.

A Maximilian's Curiosidades havia fechado as portas. As janelas molduras de cobre estavam tapadas por tábuas. O toldo fora rasgado, e alguém pintara por cima do nome que havia na porta:

- Não! A loja não!

Chaeyoung bateu na porta sem parar. Aquele era o último pedaço que restava de seu pai. Como Agnes foi capaz de fazer isso?

- Com licença, senhorita.- A sombra corpulenta de um guarda se abateu sobre ela. - Você tem que parar de se abater desse jeito.

- O senhor não entende. Esta loja era do meu pai, era a minha herança. - Chaeyoung continuou batendo, como de a porta fosse abrir por um passe de mágica, como se Tzuyu estivesse esperado do outro lado, como se não estivesse acabado de perder o que restara de seus pais. - Há quanto tempo está fechada?

- Sinto muito, senhorita. Acho que fechou há cerca de seis semanas e... - A expressão do jovem guarda se iluminou. - Céus... É você... Você é a Queridinha Salvadora de Valenda. - Ele parou de falar e alisou o cabelo antes de dizer: - Se me permite, a senhorita é ainda mais bonita do que os jornais dizem. Sabe onde posso conseguir um daqueles formulários?

- Que formulários?

Chaeyoung parou de bater na porta, sentindo-se incomodada de repente, quando o guarda tirava do bolso da calça uma folha de jornal impressa em preto e branco.

Era Uma vez Um coração Partido - MichaengWhere stories live. Discover now