03. desconfianças

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Na manhã seguinte, Giovanna acordou com uma sensação estranha, como se o mundo ao seu redor estivesse ligeiramente fora de eixo. A luz suave da manhã entrava pelas frestas das cortinas, iluminando o quarto de maneira quase melancólica. Ela permaneceu deitada por alguns minutos, encarando o teto, tentando organizar os pensamentos caóticos que a mantinham presa àquela sensação de inquietude.

Ao levantar, o silêncio do apartamento parecia mais pesado do que o habitual. Giovanna caminhou até o banheiro, e o som de seus passos ecoava pelas paredes, ressaltando o vazio ao seu redor. Ao encarar o espelho, ela sentiu um peso familiar no peito. Seu reflexo parecia cansado, como se a noite tivesse sugado toda a sua energia. A imagem no espelho refletia não só o cansaço físico, mas também a confusão interna que a consumia.

A culpa começou a apertar o peito de Giovanna à medida que ela se lembrava dos eventos da noite anterior. As palavras de Maya ainda ecoavam em sua mente, carregadas de desejo e provocação. E, por mais que tentasse negar, a atração que sentia por Maya estava ali, latente, pulsando sob sua pele. Ela sabia que não podia continuar fingindo que nada havia acontecido. Mas o medo de ser descoberta — ou pior, o medo de admitir o que realmente sentia — era quase insuportável.

Respirando fundo, Giovanna saiu do quarto e caminhou em direção à cozinha. O cheiro de café fresco preencheu o ar, trazendo um pouco de conforto à sua mente atribulada. Ao entrar, encontrou Larissa em frente à cafeteira, os movimentos dela lentos e meticulosos enquanto mexia o líquido quente na xícara. Havia algo diferente na postura de Larissa, algo que Giovanna não conseguia definir com clareza, mas que a deixou em alerta.

Larissa ergueu os olhos quando Giovanna entrou na cozinha, mas seu sorriso parecia um pouco tenso, forçado. Giovanna percebeu o leve tremor nas mãos da amiga ao colocar a xícara sobre a mesa. Um silêncio desconfortável se estendeu entre as duas, como se algo estivesse pairando no ar, esperando para ser dito.

— Você dormiu bem? — perguntou Larissa, a voz casual, mas com um tom de curiosidade velada. Ela mexia distraidamente em um pacote de açúcar, os olhos fixos em Giovanna, quase como se estivesse esperando por uma reação específica.

Giovanna forçou um sorriso, tentando parecer natural, embora sentisse o peso da situação. — Sim, dormi... e você?

Larissa assentiu, mas havia uma hesitação no movimento. Seus olhos, no entanto, nunca deixaram Giovanna. Ela a observava com uma intensidade incomum, como se estivesse tentando desvendar um mistério, como se procurasse por alguma pista nas expressões de Giovanna. O desconforto pairava no ar, tornando o ambiente da cozinha mais sufocante do que deveria ser.

Giovanna sabia que o que quer que tivesse começado entre ela e Maya não ficaria escondido por muito tempo. As paredes do apartamento, antes seguras e confortáveis, agora pareciam apertadas, como se estivessem prestes a revelar o que estava escondido nas sombras da noite anterior.

A mesa de café da manhã estava cercada de conversas leves e risadas ocasionais. Ana Clara comentava sobre um sonho estranho que tivera, enquanto Larissa ria, mexendo distraidamente no seu croissant. Nicole estava com o celular na mão, distraída com algo engraçado que encontrou nas redes sociais, e Agatha falava sobre os planos para o fim de semana. O ambiente parecia calmo e descontraído, mas para Giovanna, tudo estava longe de tranquilo.

Ela sentia cada palavra que saía de sua boca como se estivesse fora de sincronia com o que estava acontecendo ao seu redor. Seus dedos mexiam na xícara de café, que já estava quase vazia, enquanto seus olhos vagavam pela mesa, evitando o contato visual com qualquer uma das amigas. O riso delas parecia distante, abafado pelo turbilhão de pensamentos que a assombrava.

Giovanna tentou engolir um pedaço de pão, mas sentiu um nó se formando na garganta, como se algo estivesse bloqueando sua capacidade de relaxar. A culpa ainda pesava sobre ela, uma sombra que se recusava a se dissipar. Cada vez que alguém falava, ela tinha a sensação de que o próximo comentário seria uma acusação velada, uma provocação sutil sobre o que havia acontecido na noite anterior.

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