07. conversa

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Giovanna se levantou de sua mesa na delegacia, sentindo o peso do dia sobre seus ombros. A investigação sobre o caso Collins parecia um quebra-cabeça sem peças claras, e, para piorar, o reencontro com Maya Garcia só acrescentava mais complexidade à situação. Com o envelope contendo os documentos do caso em mãos, ela deixou o escritório e seguiu para casa. Enquanto caminhava pelos corredores da delegacia, sua mente estava distante, presa nas lembranças de Maya.

Cinco anos. Não era uma quantidade de tempo que pudesse apagar o que havia sentido. E agora, Maya estava ali, à frente dela, não como uma memória distante, mas como parte de um novo capítulo, envolvida em um caso profissional complicado. Giovanna sabia que teria que lidar com isso de maneira racional, mas era difícil ignorar o turbilhão de sentimentos que o reencontro despertava.

Chegando ao apartamento, um loft moderno e minimalista no centro do Rio de Janeiro, Giovanna sentiu a familiaridade do espaço trazer uma momentânea sensação de tranquilidade. A noite começava a cair, tingindo o céu de laranja e rosa enquanto a cidade se preparava para mais uma de suas agitadas noites. Ela foi até a varanda, deixando o vento suave tocar seu rosto, e ficou ali por alguns instantes, absorvendo a energia da cidade.

Mas o telefone vibrou, e a paz que sentia se quebrou.

Ao pegar o celular, ela viu o nome de Maya brilhando na tela. "Precisamos conversar. Em particular." Giovanna leu a mensagem repetidas vezes, tentando entender o que Maya queria dizer com aquilo. O tom das palavras, mesmo através de uma simples mensagem, trazia uma carga emocional que era difícil de ignorar.

Ela hesitou por alguns minutos, mas sabia que precisava enfrentar isso de frente. Deixou a taça de vinho que segurava sobre a mesa e digitou sua resposta:

"Me encontre no bar do hotel Alvorada, às 20h."

O bar era um local discreto, frequentado por pessoas do alto escalão da sociedade carioca, o tipo de lugar onde se podia conversar sem ser notado. Ela precisava de privacidade para essa conversa. Por mais que tentasse se convencer de que tudo ainda estava no campo profissional, algo dentro dela dizia que essa reunião seria sobre muito mais do que apenas o caso.

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Às 20h em ponto, Giovanna chegou ao bar do Alvorada. O ambiente estava exatamente como ela esperava: tranquilo, com luzes suaves e uma música instrumental quase imperceptível ao fundo. As mesas estavam dispostas de forma espaçada, garantindo um certo grau de intimidade entre os clientes. Giovanna escolheu uma mesa mais ao fundo, próxima à parede de vidro que oferecia uma bela vista da cidade iluminada. Ela se sentou, apoiando os cotovelos na mesa, e olhou para a entrada, esperando por Maya.

Seu coração batia rápido, algo que a incomodava profundamente. Era raro para Giovanna se sentir nervosa, mas Maya sempre teve esse efeito sobre ela. Não era só a presença física — a beleza, a elegância — mas o poder que Maya tinha de desestabilizá-la emocionalmente.

Poucos minutos depois, Maya entrou no bar. Giovanna a observou enquanto ela caminhava com passos firmes e decididos, vestida com um elegante vestido azul-marinho, os cabelos presos em um coque suave. Ela estava ainda mais deslumbrante do que Giovanna se lembrava. "Mais madura, mais refinada, e ainda mais impossível de esquecer", pensou Giovanna, sentindo o estômago revirar.

Maya caminhou em direção à mesa, seus olhos fixos em Giovanna, mas havia algo em sua expressão que não existia antes — uma tensão, uma hesitação. Quando chegou à mesa, ela se aproximou de Giovanna, segurando sua bolsa com as duas mãos, como se fosse uma âncora para mantê-la firme.

— Oi, Gi — disse Maya, a voz baixa, mas carregada de emoção.

Giovanna olhou para ela, sem saber exatamente como responder àquela familiaridade. Fazia anos que ninguém a chamava assim.

— Maya — respondeu simplesmente, com um aceno de cabeça. — Sente-se.

Maya puxou a cadeira e se acomodou à mesa. Ela parecia desconfortável, seus olhos vasculhando o ambiente antes de finalmente fixarem-se em Giovanna. O silêncio entre as duas era quase palpável, carregado de tudo o que havia ficado não dito nos últimos cinco anos.

Giovanna quebrou o silêncio primeiro, incapaz de continuar lidando com o peso da situação.

— Então, o que você queria falar? — Ela se inclinou para frente, as mãos entrelaçadas sobre a mesa, tentando manter a voz neutra.

Maya suspirou, cruzando as pernas e apoiando as mãos no colo. Ela demorou alguns segundos para responder, como se estivesse escolhendo cuidadosamente suas palavras.

— Eu sei que... esse caso... — começou Maya, mas parou no meio da frase. Ela desviou o olhar por um momento antes de voltar a encarar Giovanna. — Não é apenas o caso, Gi. Não podemos fingir que... não há mais nada aqui.

Giovanna sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao ouvir aquilo. Ela sabia que havia algo mais entre elas, mas ouvir Maya admitir isso em voz alta a deixou sem chão por um momento.

— O que você quer dizer com isso, Maya? — perguntou Giovanna, tentando manter a calma, mas sua voz saiu mais áspera do que ela pretendia.

Maya mordeu o lábio inferior, um gesto nervoso que Giovanna sempre achou cativante.

— Eu nunca te respondi cinco anos atrás — continuou Maya, agora com a voz mais firme. — E não foi porque eu não sentia nada. Pelo contrário. Eu estava... confusa, assustada. E aí... apareceu o Christopher. Ele parecia uma escolha mais fácil, uma saída.

— Uma saída? — Giovanna repetiu, a amargura tomando conta de sua voz. — Você se casou com ele. Isso não é exatamente uma "saída", Maya.

Maya abaixou a cabeça, envergonhada, mas não se deixou abater.

— Eu sei. Eu sei que parece isso, mas foi o que aconteceu. Eu fugi do que sentia por você. Fugi porque... estar com você parecia complicado demais. E o Christopher... ele era simples. Ele me ofereceu uma vida estável, segura. — Maya levantou os olhos novamente, e eles estavam cheios de emoções conflitantes. — Mas eu nunca te esqueci, Gi.

Giovanna ficou em silêncio por um momento, tentando processar tudo o que estava ouvindo. Parte dela queria explodir, gritar com Maya por ter escolhido o caminho mais fácil, por ter abandonado o que elas tinham. Mas outra parte, uma parte mais profunda, entendia. Entendia o medo, entendia as escolhas.

— E o que você quer agora, Maya? — perguntou Giovanna, sua voz mais baixa agora, mais controlada. — Por que está me dizendo isso?

Maya suspirou novamente, dessa vez mais profundamente, como se estivesse se preparando para dizer algo importante.

— Eu não sei o que quero, Giovanna. Só sei que trabalhar ao seu lado, te ver de novo... está mexendo comigo de uma forma que eu não consigo ignorar. E eu precisava que você soubesse disso.

O silêncio caiu sobre as duas novamente. O bar, antes um cenário tranquilo, agora parecia distante, como se tudo ao redor tivesse desaparecido. Giovanna não sabia o que dizer. Não sabia se queria gritar com Maya ou abraçá-la. Mas sabia que aquela conversa era um ponto de virada.

— Eu... — Giovanna começou, mas a voz falhou. Ela balançou a cabeça, tentando se recompor. — Nós temos um trabalho a fazer, Maya. Esse caso é sério. E eu preciso que você mantenha a cabeça no lugar.

Maya assentiu, claramente entendendo o que Giovanna estava dizendo.

— Eu sei. — Maya respondeu, sua voz baixa. — E vou tentar. Mas, por favor, Gi... só não me afaste de novo. Não dessa vez.

Giovanna se levantou lentamente, tentando esconder a tempestade de emoções que a conversa havia causado.

— Vamos resolver isso — disse ela, antes de se virar e sair do bar, deixando Maya sentada ali, sozinha, no turbilhão de suas próprias emoções.

Enquanto saía, Giovanna sabia que essa história estava longe de acabar. O que havia entre elas era muito mais do que uma simples lembrança do passado. Agora, era algo real, presente, algo que teria que enfrentar, quer quisesse ou não.

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