Capítulo 9

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Gulf se apoiou contra a parede do corredor e começou a trançar seu cabelo, algo que fazia quando estava nervoso. 

Já ouvira que os membros da Irmandade eram quase uma espécie à parte, mas jamais pensara que fosse verdade. Até agora. Aqueles dois homens não eram simplesmente colossais em uma escala física; irradiavam controle e agressividade. Caramba, faziam o irmão dele parecer um amador no departamento dos alfas durões, e olhe que Rehvenge era um osso duro de roer.

Bom Deus, o que havia feito ao levar Clary e Lee Dong até ali? Estava menos preocupado com o rapaz, mas e Clary? A maneira como o guerreiro loiro havia agido com ela indicava problemas à vista. Daria para ferver um oceano com o tipo de luxúria que ele emanava, e os membros da Irmandade dos Anjos de sangue não estavam acostumados a que lhes negassem coisa alguma. Pelo que havia escutado, quando queriam um omega, tomavam-no.

Felizmente, até onde sabia, não eram estupradores, embora, pelo que acabara de ver, não haveria necessidade de serem. Os corpos daqueles guerreiros eram feitos para o sexo.

 A união com um deles, ser possuído por toda aquela força, seria uma experiência extraordinária. Contudo, Clary, como humana, poderia não se sentir assim. 

Gulf olhava o corredor de cima a baixo, agitado, tenso. Não havia ninguém por perto, e se tivesse de ficar ali parado mais um pouco acabaria cheio de trancinhas. Sacudiu o cabelo, escolheu uma direção  Aleatória.

Ele caminhou sem rumo. Quando percebeu o som ritmado de tambores ao longe, seguiu o ruído surdo até uma porta dupla de metal. Abriu um dos lados e a atravessou.O ginásio era do tamanho de um estádio de basquete profissional, com o chão de madeira envernizado, muito brilhante. Colchonetes azul-claro estavam espalhados por ali, e luzes fluorescentes, protegidas por grades, pendiam do teto. Um balcão com assentos de estádio se projetava à esquerda, e, sob ele, uma série de sacos de pancada. 

 Um magnífico Alfa esmurrava com força um deles, de costas para ele. Ele dançava sobre as pontas dos pés, ligeiro como a brisa, lançando soco atrás de soco, abaixando-se rapidamente, golpeando, acertando o pesado saco de areia com tanta força que o dito equipamento chegava a ficar inclinado para trás, formando um ângulo agudo em relação à vertical. Gulf não conseguia ver-lhe o rosto, mas só podia ser atraente. Seu cabelo, cortado rente, era castanho-claro, e ele usava um suéter de gola rolê preto, bem justo, e calça esportiva de náilon preto, bem larga. Um coldre cruzava suas costas amplas.A porta fez um clique quando se fechou atrás dele.

 Com um único movimento de braço, o Alfa sacou, de repente, uma adaga e a enterrou no saco de pancada. Com um puxão, ele o rasgou, e a areia e o enchimento escoaram rapidamente sobre o chão. Em seguida, ele se virou. 

 Gulf colocou a mão sobre a boca. O rosto dele era coberto de cicatrizes, como se alguém tivesse tentado cortá-lo pela metade com uma faca. A grossa linha começava na testa, descia pela ponta do nariz e se curvava sobre a bochecha. Acabava ao lado da boca, deformando seu lábio superior.Os olhos amendoados, negros e frios como a noite, pousaram nele e se arregalaram ligeiramente. Ele pareceu desconcertado, seu grande corpo imóvel, exceto pelas profundas inspirações que fazia.O Alfa o queria, pensou ele. E estava inseguro sobre o que fazer com isso.Só que, de uma hora para outra, a confusão e a estranheza foram enterradas. O que tomou seu lugar foi uma cólera gelada que o paralisou de terror. Sem tirar os olhos dele, voltou para a porta e pressionou a barra de segurança. Como não obteve resultado, teve o pressentimento de que ele o estava prendendo ali. 

 Por um momento, o Alfa observou as tentativas frenéticas de Gulf para conseguir sair, e, em seguida, foi atrás dele. Enquanto atravessava os colchonetes, atirava a adaga para o alto e a pegava pelo cabo. Lançava-a para cima, voltava a pegá-la. Para cima e para baixo. 

 — Não sei o que você está fazendo aqui — disse ele em voz baixa, — além de atrapalhar meu treinamento. 

 Quando os olhos do alfa o  avaliaram de alto a baixo, sua hostilidade era palpável, mas também emitia um calor cru, uma espécie de ameaça sexual pela qual Gulf realmente não deveria ter se sentido cativado. 

 — Sinto muito. Não sabia... 

 — Não sabia o quê, omega? -Meu Deus, ele estava tão perto agora. E era tão maior do que ele. Gulf se comprimiu contra a porta.  — Sinto muito...O homem apoiou as mãos no metal de um lado e de outro de sua cabeça. Gulf olhou a adaga que ele ainda segurava, mas logo se esqueceu da arma quando ele se inclinou sobre ele. O macho se deteve antes que seus corpos se tocassem.Gulf respirou fundo, aspirando o cheiro dele. Era como fogo em seu nariz, não encontrava outra definição melhor para o que sentiu. E respondeu àquilo com ardência, com desejo. 

 — Você sente muito — disse ele, inclinando a cabeça para o lado e se concentrando em seu pescoço. Quando ele sorriu, suas presas eram largas e muito brancas — Sim, com certeza que sim. 

 — De verdade, sinto muito. 

 — Então, prove. 

 — Como? — Gulf sussurrou. 

 — Deite-se. E eu lhe mostro como aceito as suas desculpas. 

 De repente, uma porta se abriu do outro lado do ginásio. 

 — Ah, caramba!... Solte-o! — outro homem, com uma longa cabeleira, atravessou o vasto local correndo.— Tire as mãos dele, Mew. Imediatamente.

O homem das cicatrizes se apoiou nele, colocando a deformada boca perto de seu ouvido. Algo pressionou seu esterno, seu coração, a ponta de um dedo.— Salvo pelo gongo, ômega.Ele rodeou-o e saiu pela porta, justo quando o outro homem chegava até ele. 

 — Você está bem? 

 Gulf olhou para o saco de areia dilacerado. Não conseguia respirar, embora não soubesse dizer se era por medo ou algo puramente sexual. Provavelmente, uma combinação das duas coisas.— Sim, creio que sim. Quem era?O homem abriu a porta e o levou de volta à sala de interrogatório, sem responder à pergunta. 

 — Para o seu próprio bem, espere aqui, está certo?Bom conselho, pensou ele, quando ficou sozinho.


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