Capítulo 6

3 1 0
                                    


Jace só conseguia enxergar vultos enquanto seus olhos eram incapazes de focar ou processar muita luz. Odiava a perda das faculdades e tentou focalizar o melhor que pôde as duas formas grandes que se moviam a seu redor. Quando as mãos o agarraram pelas axilas e os tornozelos, gemeu.

— Calma, Jace, vamos levantá-lo por um segundo, certo? — disse Mile.

Uma dor ardente atravessou como um relâmpago todo o seu corpo quando o ergueram e o levaram para a parte de trás do Escalade. Acomodaram-no. As portas se fecharam. O motor foi acionado e roncou baixinho.

Sentia tanto frio que seus dentes batiam, e tentou se cobrir melhor com seja lá o que fosse que haviam colocado sobre ele. Mas não conseguia mover as mãos. Alguém ajeitou o que ele presumia ser um paletó e o agasalhou.

— Aguente firme, garoto.

Zee. Era Zee.

Jace esforçou-se para falar, odiando o asqueroso gosto em sua boca.

— Nada disso. Relaxe, Hollywood. Fique frio, Mile e eu levaremos você para casa.

O carro se pôs em movimento, sacolejando um pouco enquanto deixava o acostamento e pegava a estrada. Ele gemia como uma criança.

Jace sabia que estava parecendo uma garotinha, mas não podia evitar. Parecia que seu corpo fora espancado com um bastão de beisebol. Um bastão com um prego na ponta.

A dor nos ossos e músculos era um problema menor, se comparada com seu estômago. Rezava para chegar em casa antes de vomitar no carro de Mile, mas não podia garantir que aguentaria todo o percurso. Sua boca salivava tanto, que tinha de engolir repetidamente. O que fazia com que engasgasse. Isso, por sua vez, fazia a náusea voltar. O que fazia com que.

Tentando escapar desse círculo vicioso, respirou lentamente pelo nariz.

— Como está indo aí, Hollywood?

— Prometa-me. Uma chuveirada. Primeira coisa ao chegarmos.

— Pode deixar, meu camarada.

Jace imaginou que devia ter desmaiado porque despertou quando estava sendo tirado do carro. Escutou vozes familiares. De Mile. De Zee. Um grunhido profundo que só podia vir de Alexander.

Perdeu a consciência outra vez. Quando voltou a si, suas costas estavam apoiadas contra algo frio.

— Consegue ficar de pé? — perguntou Zee.

Jace tentou e agradeceu quando suas coxas aceitaram seu peso. Agora que estava fora do carro, a náusea melhorara um pouco. Seus ouvidos perceberam o doce chiado e, um instante depois, uma cascata quente derramou-se sobre seu corpo.

— Como está, Jace? Muito quente?

Mile estava no chuveiro com ele. Sentiu o cheiro de tabaco turco. Mile devia estar no banheiro também.

— Hollywood? Está muito quente para você?

— Não — tateou procurando o sabonete —, não consigo enxergar.

— Melhor para você. Não precisa saber como parecemos pelados juntos. Para ser sincero, já estou suficientemente traumatizado por nós dois.

Jace sorriu um pouco e sentiu uma esponja passando sobre seu rosto, pescoço, peito.

Anjo EternoOnde histórias criam vida. Descubra agora