Capítulo 25. Criação

103 12 0
                                    

  Arrastei uma pequena mala comigo para dentro do avião, passei por muitas pessoas, por pelo menos três classes diferentes até chegar em uma classe privada.

Era mais seguro garantir minha discrição em um voo com outros passageiros, pessoas comuns. Olhei para o lugar na frente dos meus pais, minha mãe parecia feliz, meu pai estava dormindo em uma maca com cintos em volta.

Me levantei e fui até o banheiro, peguei o celular e busquei o contato de Gojo. Minhas mãos não paravam de tremer um segundo, a cada beep.

— Você ligou para Satoru Gojo. Eu não posso atender agora, então deixe o seu recado e se for urgente eu te ligo de volta.

— Oi... Satoru. Sou eu. — Disse com dificuldade, me virei para a pequena janela e me vi acima das nuvens. O avião parecia estar parado no ar com a velocidade em que voava. — Eu tive que deixar Shibuya, estou bem, estou com... os meus pais.

Suspirei, era difícil falar através do aparelho. Era ainda mais difícil, imaginá-lo descobrindo tudo sozinho.

— Não é seguro para mim, para nós... porque eu estou grávida. Você vai ser papai... — Segurei firme o aparelho em minha orelha. — Então é melhor vir me encontrar, vamos nos abraçar e resolver nossas diferenças. É isso que uma família deveria fazer. Me liga de volta. Eu te amo.

Desliguei, olhei para a pia na minha frente. Guardei o celular em meu bolso e girei a torneira, usei a água fria para limpar o meu rosto. As gotas escorreram por minhas bochechas e molharam o chão. Senti meu rosto ferver, mais gotas começaram a cair... lágrimas.

— Merda. Mas que merda! — Bati na pia, ouvi duas batidas na porta.

— Querida, está tudo bem aí dentro? Venha se sentar, não é seguro ficar em pé em um avião. — Minha mãe pediu, sequei meu rosto e saí. Voltei ao meu lugar.

Meu pai já estava acordado, ele me encarou seriamente, coloquei o cinto e olhei através da janela. Minha mãe ligou a TV para aliviar a tensão.

— Parece que algo está acontecendo no centro da cidade, ambulâncias estão no local para resgatar alguns sobreviventes. Os corpos não param de chegar, muitos feridos. Não se sabe o que está acontecendo lá embaixo. — A repórter dizia para a câmera, minha mãe desligou a TV e se encostou no lugar.

— Onde está a família dele quando precisam? Eles não servem de nada afinal. — Meu pai disse, orgulhoso de suas palavras.

— Aqui estamos nós, fugindo. Não somos diferentes deles. — Desviei o olhar, ele bufou.

— Não temos nada a ver com isso. Você sabe.

— Você e sua mania de perseguição. — O confrontei, minha mãe segurou meu braço gentilmente e negou. Me encostei no lugar. — Somos família agora.

— Vocês não serão.

— O que?

— Você aceitou as condições, quer voltar atrás? — Ele olhou para a minha barriga, a segurei.

— Um sobrenome não quer dizer nada. — Resmunguei, pensei nas condições que meu pai me deu antes de aceitar fugir em segurança para longe de Shibuya. 

— A criança terá o sobrenome Zenin. Ela pertencerá a nós.

— Está falando sério?! Quer amarrar minha filha em um laço político bizarro?! — Gritei e cerrei os punhos, ele deu de ombros.

— São os termos.

— Desde que ela fique segura. — Cedi, abracei minha barriga. — eu não tenho objeções.

— Certo.

Meu pai me levou até uma base isolada, um templo oriental antigo. Em dois dias conseguimos chegar e nos acomodar, era tarde, tentei ligar para Satoru mais de uma vez mas não consegui respostas.

— Mei Mei, graças a Deus. — Virei-me para a janela. — Finalmente alguém me atendeu. O que houve? Deixei um recado para Satoru mas ele não retornou... faz dois dias.

— Você não soube? — Ela disse, hesitei.

— Não soube o que?!

— Shibuya caiu. Nanami, Maki, estão todos mortos. Satoru foi pego. — Ela me disse, demorei alguns segundos para processar. Senti um embrulho no estômago. — Eu não voltaria para Shibuya se fosse você... não tem mais para onde voltar.

— M-Maki?

— Por que está falando da minha irmã? — Mai entrou no quarto, me virei. Coloquei no viva-voz com dificuldade.

— Eles não resistiram ao ataque, mas lutaram até o fim. Itadori está sendo procurado pela sede por perder o controle, Sukuna usou sua expansão de domínio e assassinou metade da população da cidade. — Ela dizia fazendo alguns sons, uma mala abrindo, algumas roupas. — Yuta está na missão agora, não vou me envolver, isso vai além do meu orçamento.

— Porra. — Mai disse e saiu batendo a porta, segurei o celular com firmeza perto da orelha.

— Ele está morto?

— Geto o aprisionou em um artefato amaldiçoado chamado Gokumonkyou. É tudo que eu sei. — Ela disse, me abracei e afirmei com a cabeça.

— Então ele está vivo. — Suspirei aliviada, Mei Mei parou.

— Onde você estava? Eu não te vi em lugar algum. — Ela riu e puxou o que parecia ser uma mala de rodinhas.

— Eu estou grávida. O bebê é... do Satoru.

— Meus parabéns mamãe. — Mei Mei me parabenizou. — Me avise se precisar de alguma coisa, faço uma promoção para você.

— Eu tô bem, não se preocupe. — Desliguei, olhei para o celular e o pressionei entre meus dedos. Deixei o quarto, Mai estava contando tudo ao meu pai, os ouvi conversando no andar de baixo, desci as escadas.

— Então é verdade? Shibuya caiu.

— Verdade? Você sabia disso?

— Eu imaginei que as coisas tomariam um rumo destrutivo. — Ele disse se juntou as mãos, recuei.

— Foi por isso que mandou Mai para uma missão fora da cidade? Maki e eu não tínhamos mais serventia?! — Gritei, Mai recuou. — Você sabia. Eu não sei como, mas sabia da minha gravidez.

— Gravidez?

— Não queria ter uma neta com o sangue dele não é? Tudo nele te incomoda. A existência dele te afeta.

— Ele não é mais um problema, e você também não será. Somos a única família que te restou, uma hora vai entender.

— Vai pro inferno! — Dei as costas e subi as escadas, voltei ao meu quarto.

Mai se sentiu enganada. Apesar dos desentendimentos, Maki era sua irmã gemea. Dividiam o mesmo sangue, e era difícil digerir que seu próprio pai havia virado as costas para ela.

Voltei ao meu quarto, tranquei a porta e andei de um lado para o outro. Parei, puxei minha mala debaixo da cama e a abri, comecei a jogar roupas dentro dela. Quando estava prestes a fechar, hesitei.

— Merda. Merda. Merda. — Fechei a mala e me sentei, comecei a chorar feito criança. — Me desculpa. E-eu não quero colocar você em perigo... eu não vou fazer besteira agora.

Satoru foi aprisionado por minha causa, eu não estava lá para ajudá-lo e agora... faço questão de estar aqui e cuidar do meu bebê. Dar a criança, uma criação decente. Algo digno que eu nunca tive, e que de forma alguma, deixaria meu pai fazê-la por mim.

— Vamos ficar bem. Você vai ficar bem. — Acariciei a barriga. — Eu vou trazer seu pai de volta. Vou trazer Satoru de volta.

HONEYMOON, Satoru GojoOnde histórias criam vida. Descubra agora