"E quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração
E quem me irá dizer
Que não existe razão"
— EDUARDO E MÔNICA, Legião Urbana
Após cuidar de Endrick e solicitar uma bateria de exames, avaliei os demais jogadores e, em seguida, dirigi para casa tranquilamente, encontrando o apartamento vazio e apenas um recado de Stella avisando que passaria a noite fora.Apesar das dificuldades, ainda me sentia extasiada pela experiência de estar no estádio, apoiando um dos maiores clubes do Brasil. Nos bastidores, recebi elogios pela minha atuação, e isso encheu meu coração de uma felicidade genuína.
Tanto os jogadores quanto a comissão técnica do time elogiaram meu trabalho, o que me deixou ainda mais realizada.
Seria um dia perfeito se, ao entrar no quarto, meu celular não tivesse tocado com uma ligação de Alexandre. Revirei os olhos e, após o terceiro toque, atendi, ansiosa para acabar com aquilo o quanto antes.
— Para que tem celular se aparentemente não o usa? — perguntou ele, com a voz ríspida.
Respirei fundo.
— Oi, pai — respondi, exausta demais para discutir — Estou bem, e você?
Escutei Alexandre resmungar do outro lado da ligação enquanto mexia em papéis. Provavelmente, ele estava em seu escritório naquela hora da noite.
— Muitíssimo bem por ver que você não estragou tudo no primeiro jogo. Continue assim, Amábile.
Eu quase ri da capacidade de Alexandre ser indelicado.
— Anotado — disse — Foi só para isso que ligou? Se sim, vou desligar, porque preciso dormir.
Por um breve momento, nada foi dito.
— Não, também liguei para lembrá-la de se manter na linha. Não me envergonhe com suas atitudes infantis. Falo com a Leila diariamente para saber sobre seu desempenho e juro que, se receber alguma reclamação sua, acabarei com esse seu trabalho em um instante. Entendeu?
Fechei os olhos e soltei o ar lentamente.
Era tão óbvio que Alexandre só me ligara para me humilhar ou ofender de alguma forma, pois era apenas para isso que ele se dava ao trabalho de falar comigo. Ele não lembrava que tinha uma filha em seu dia a dia, mas se recordava de mim quando precisava externar suas frustrações. Eu era o alvo mais fácil.
Nunca houve um único momento durante minha infância e adolescência em que Alexandre se mostrasse carinhoso ou agisse como um verdadeiro pai.
Nossas interações eram sempre permeadas por uma hostilidade palpável, como se cada palavra trocada fosse uma batalha a ser vencida.
Eu me lembrava de momentos em que esperava ansiosamente por um gesto de afeto ou uma palavra encorajadora, mas o que recebia era apenas indiferença ou críticas. Essa falta de conexão me deixava com um vazio imenso, como se eu estivesse sempre buscando a aprovação de alguém que nunca estaria realmente presente.
Com o tempo, fui me acostumando com essa realidade e, à medida que crescia, me afastava cada vez mais dele.
Agora, era quase insuportável ter que lidar com ele. Cada conversa se tornava um teste de paciência, uma luta interna entre a vontade de me impor e o desejo de simplesmente evitar o confronto.
No entanto, não consegui evitar dizer:
— Por que você simplesmente não consegue ficar feliz por mim, ao menos uma vez? Eu me esforço tanto e faço um bom trabalho. Vou continuar me dedicando, mas isso não tem nada a ver com você. É sobre quem eu sou, sobre o que conquistei por conta própria.
Senti a tensão no ar, como se minhas palavras fossem uma provocação. Mas não podia mais carregar o peso da insatisfação dele nas minhas costas. Era meu momento, e merecia ser celebrado, mesmo que ele não soubesse como fazer isso.
— Faça-me o favor, Amábile. Eu te coloquei aí, não foi por conta própria. E continue assim, pois é sua única obrigação.
A frieza nas palavras de Alexandre cortou como uma lâmina. Era como se ele quisesse desmerecer tudo o que eu havia conquistado, reduzindo meus esforços a meras circunstâncias que ele havia criado. A indignação fervia dentro de mim, mas eu sabia que não podia deixar que isso me afetasse mais.
— Você pode ter me dado uma oportunidade, mas sou eu quem trabalho duro para aproveitá-la. Não vivo à sombra do que você pensa que fez por mim. Não é uma troca de favores.
Alexandre gargalhou do outro lado da linha. Aquele som me causava asco, era algo que me incomodava profundamente.
— Continue repetindo isso até que você acredite — riu, com um tom sarcástico — E pare com esse discurso de pobre injustiçada.
A raiva cresceu dentro de mim, mas eu sabia que precisava manter a calma. Ele queria me desestabilizar, fazer com que eu duvidasse de mim mesma.
— Não estou aqui para agradar você ou para validar suas opiniões distorcidas sobre minha vida. O que eu conquistei é real e não depende da sua aprovação. Se você não consegue ver isso, o problema é seu.
Cada palavra que eu dizia parecia ecoar no silêncio constrangedor que se seguiu. Eu estava cansada de ser piada na história dele.
— Agradeça por eu não estar aí, Amábile, senão você levaria umas boas bofetadas nessa boca malcriada.
As palavras dele eram como um golpe, e eu senti o sangue ferver nas minhas veias. Era inacreditável que ele ainda achasse que poderia me intimidar assim.
Era o que ele sempre fazia: ameaças.
— Porque você é covarde, não é? Não sabe dialogar como uma pessoa comum.
A irritação na voz de Alexandre era palpável. Ele se agitou, elevando a voz.
— Escute, garota. Quero ver repetir isso quando eu estiver aí, muito em breve. Você pode até ter muita marra com as outras pessoas, mas você não é páreo para mim e nunca será — pronunciou com desdém — Reveja seu comportamento. Ligarei para você novamente daqui uns dias.
E, com um clique seco, desligou.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, sentindo a adrenalina pulsar. O que ele não entendia era que eu havia passado por muita coisa e não tinha mais medo dele.
— Que venha — murmurei para mim mesma, determinada.
Se ele achava que poderia me derrubar tão facilmente, estava prestes a descobrir que eu havia mudado. Alexandre veria que agora eu era sua maior oponente e estaria pronta para derrubar seu império se fosse preciso.
Mas eu apenas não imaginava que aquela ameaça seria cumprida e eu correria para os braços da pessoa mais improvável.
divas, perdão pela demora 😭
estou tão atarefada ultimamente, estudando de tarde e noite, e fazendo prova sábado e domingo.
tentarei postar smp que tiver um tempo livre.
eh isso, bjsss 💐
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DOCE RUÍNA - piquerez;
FanfictionQuando os destinos de Amábile e Joaquín se entrelaçam, a catástrofe iminente se torna inevitável. Dois universos opostos que colidem em uma atração magnética, dançando no limite da tensão que os envolve. Em um duelo de interesses, quem se renderá pr...