01 | O GRANDE

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"Vista seu vestido e coloque seu rosto de boneca
Todos acham que somos perfeitos
Por favor, não deixe eles olharem através das cortinas"
DOLLHOUSE, Melanie Martinez

"Vista seu vestido e coloque seu rosto de bonecaTodos acham que somos perfeitosPor favor, não deixe eles olharem através das cortinas"— DOLLHOUSE, Melanie Martinez

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Amábile, eu não estou brincando — revirei os olhos pela vigésima vez, tentando focar no trânsito — Não me faça sentir vergonha de você como costuma fazer. Ela é uma amiga de infância e essa é uma oportunidade única que você deve agarrar com unhas e dentes, ouviu?

Antes mesmo que eu pudesse me ajeitar em meu carro, o nome de Alexandre Gerhardt já brilhava na tela do meu celular. Meu pai costumava ser alguém difícil de lidar e justamente o tipo de pessoa que eu gostaria de poder evitar. Nossa relação beirava ao cordial e eu havia sido inocente por pensar que me livraria de seu jeito autoritário e controlador quando terminasse a faculdade e viesse para São Paulo.

Entretanto, nem mesmo me mudando para outro Estado, Alexandre amenizou suas intromissões em minha vida. Tentei ignorar suas primeiras ligações enquanto dirigia, mas meu pai sabia como ser insistente e conseguir o que quer. Na quinta ligação, eu o atendi e fui agraciada pelo seu mau humor.

Sem ao menos perguntar como estava sendo minha estadia ou se eu havia me acomodado bem em meu novo apartamento, o Sr. Gerhardt me bombardeou com sua arrogância. Havia me mudado do Rio de Janeiro há uma semana e estávamos sem nos falar desde então. No entanto, ele fez questão de me ligar para lembrar que sou a sua maior falha e que minha mudança tinha apenas um único objetivo, e eu não deveria ser menos do que perfeita, uma vez que não podia manchar sua reputação ou prejudicar seus negócios.

Não estrague tudo. Ao menos já está a caminho ou se distraiu fazendo coisas fúteis que não agregam em nada?

Suspirei fundo, apertando o volante do carro.

— Se você prestasse um pouco mais de atenção em mim e não apenas em sua própria voz, teria escutado quando eu disse que estou dirigindo a caminho de lá.

Ele riu com escárnio do outro lado da linha. Eu conseguia imaginar a cena. "Alexandre, o Grande" em seu escritório, usando um de seus ternos caros e impecáveis com um Macallan envelhecido nas mãos e um charuto entre os dedos. O semblante estava gravado em minha mente como uma maldita tatuagem. Sempre com uma postura resoluta e olhar impassível, Gerhardt sabia como enganar e manipular.

Havia feito isso com minha mãe a vida toda e tentou fazer o mesmo comigo. Para seu azar, eu havia puxado seu "gênio ruim", como ele costumava dizer. Por um lado, ser filha de Alexandre me fez sair em vantagem, pois desde pequena aprendi a me blindar contra a sujeira do mundo. Por outro, para ser quem sou e chegar onde estou, tive que caminhar sobre o fogo e conviver com o próprio diabo encarnado.

É você quem deveria prestar atenção em como fala comigo, Amábile. Não sou um dos seus amigos corrompidos e, muito menos, tolerarei ser tratado como tal por você. Entendeu? — disse, rispidamente.

DOCE RUÍNA - piquerez;Onde histórias criam vida. Descubra agora