A Cidade das Criaturas Noturnas

A Jornada Final

Infelizmente, mais uma vez, eu tive uma noite mal dormida. Não lembro muito do meu sonho, mas estava em um lugar escuro com coisas atrás de mim que eu não conseguia ver. Eu acordei suado e ofegante, com o coração apertado e pela primeira vez senti medo de levantar da cama para enfrentar a missão que estávamos prestes a cumprir.

Ouvi passos se aproximando e logo depois batidas na porta antes de ela ser aberta, revelando meu pai com um sorriso no rosto.

—Bom dia, Saimon — Ele disse ao abrir a porta e me ver acordado —O café já está pronto, vamos tomar juntos antes de eu partir para concretizar o plano, meu filho.

Levantei-me, espreguicei e tentei espantar a preguiça, o sono e o pesadelo que tive, eu saí do quarto e fui me juntar a eles. Joe e Ben já estavam na mesa, atacando o café da manhã preparado por meu pai.

—Quero que vocês cuidem bem do Saimon caso o plano não dê muito certo — Meu pai disse aos meninos depois de um tempo, com um tom pesaroso na voz.

—Relaxa, senhor Misael — Joe respondeu, pegando uma fruta típica da ilha que estava na mesa —Todos vocês vão voltar bem, o plano vai ser um sucesso total.

Por incrível que pareça, Ben, naquela manhã estava... sério, talvez essa seja a palavra para descrever como ele estava, isso era algo incomum para ele. Observei meu amigo com dúvida, me perguntando se havia algo de errado. Nunca o tinha visto assim, quieto e na dele. Mas deixei isso de lado, pois meu pai se levantou da mesa dizendo que era hora de partir.

—A melhor coisa que me aconteceu durante esses 11 anos presos nessa ilha foi o nosso reencontro, meu filho — Disse ele —Cuide-se e saiba que eu sempre amarei você e sua mãe, não importa onde eu esteja.

Então, ele me deu um abraço e sem perceber, eu o abracei com força de volta. Não sabia explicar o sentimento que havia dentro de mim, mas eu não queria que essa fosse uma despedida, não queria que fosse nosso último momento juntos.

Depois disso, ele se despediu dos meninos e saiu de casa. Nós, eu e os meninos, dissemos que íamos tomar um banho na cachoeira, pois era o único jeito que pensamos para sair sem levantar suspeitas.

Ao invés de irmos para a cachoeira, nos escondemos pelos matos e seguimos meu pai e os outros caçadores, que estavam indo em direção à realização do plano deles.

A caminhada até o ninho das criaturas não foi tranquila, as vezes, apareciam bichos estranhos da ilha e meu pai e seus companheiros eliminavam os que representavam perigo. Depois de um tempo, finalmente chegamos a um buraco cavado, indo para o fundo da terra.

—Vamos ficar por um tempo aqui fora — Eu disse, observando eles entrarem pelo buraco que haviam cavado —Depois vamos atrás, mas primeiro vamos deixar que eles se distanciem um pouco.

—Vamos passar essas frutas em nosso corpo logo — Joe disse, abrindo uma das frutas que anulavam o nosso cheiro e com a parte de dentro da fruta, esfregamos em nossos corpos.

Depois de terminarmos, seguimos em direção à entrada criada pelos caçadores. Parei quando vi Ben, que tinha parado de andar e estava encarando o caminho com um olhar que eu não conseguia descrever. Pela primeira vez, ele não estava na frente com aquela empolgação de sempre.

—O que foi, Ben? Tá com medo? — Joe implicou com ele, tentando aliviar a tensão com um sorriso —O incrível Ben não vai ser o primeiro a ir na frente dessa vez?

—Claro que sim, saiam da frente, pois Ben chegou para aniquilar essas criaturas — Ben respondeu, forçando um sorriso, tentando disfarçar o nervosismo talvez e devolvendo o sarcasmo.

Com o coração batendo forte em meu peito, eu e Joe seguimos os passos de Ben, que ia na frente. Eu só queria entender o que estava passando pela mente dele naquele momento, pois ele realmente não estava no seu estado normal. Mas, por enquanto, era melhor focar no que estávamos enfrentando.