Ato 1.4

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                         O bordel

  A luxuria é apenas uma forma
                De manter a alma saciada

                                                   -B.K.

No profundo mistério da noite, quando as sombras se alongaram e o doce aroma dos vinhos misturava-se com o agrio cheiro de tabaco, o bordel escondido entre as vielas revelava suas múltiplas facetas. Nos estreitos corredores, onde o silêncio era quebrado por gemidos e suaves risadas, clientes mascarados encontravam salas para encontros clandestinos. Ali o jogo de poder se desdobrava em negociações secretas entre homens de influência, em busca de valiosas informações. A atmosfera carregada de luxuria era um eco da cidade iluminada pelas estrelas, onde cada ação e palavra pronunciada poderia determinar o destino de uma pessoa e suas fortunas.

Enquanto isso, nas salas de prazer iluminadas pelos lampiões de gás, as prostitutas transformavam todas as mais vis fantasias em realidade por uma mixaria que as permitia manter sua vida e vícios. Algumas hábeis na arte do prazer, capazes de tecer uma luxuriosa história de amor que fazia o coração de homens e mulheres baterem desesperadamente. Outras, por trás de belos sorrisos, eram raposas astutas, coletando segredos para serem vendidos por grande valor aqueles que desejassem saber, influenciando o curso das rodas do destino.

No salão principal, uma cortesã em particular se destacava. Conhecida como La Belle, seus cabelos negros luxuriantemente caiam em ondas sobre seus ombros desnudos, seus olhos cinza estrelados olhavam disfarçadamente as várias transações. Ela era a figura misteriosa que atraia clientes a se perderem em inestimado prazer visual.

Nos bastidores, sentado na principal sala de honra, Asher degustava o requintado vinho, esperando a bela mulher terminar sua cativante performance. Como se soubesse seus profundos devaneios, La Belle olhou diretamente para a sala, dando-lhe um sorriso provocador.

A sedutora dança continuou até a melodia cessar, curvando-se para o público deixou que os muitos homens ali presentes pendurassem as bolsas carmim contendo variadas quantidades de dinheiro. Levantando-se saiu pelo fundo do palco, adentrando a profunda escuridão.

***"*"*"
No silêncio da magnífica mansão dos Nightshade, Asher vivia sua solitária infância, à mercê de sua própria imaginação e da bondosa ama de leite. Seu pai, o Conde de Esphar, imerso em sua amargura e deveres políticos, raramente encontrava tempo para se preocupar com o filho, e os ocupados criados, pouco notavam suas necessidades emocionais.

Apenas Obela sua ama de leite percebia toda sua solidão, tentando o máximo que podia dar-lhe amor materno. Ela era a única presença constante em sua vida, embora muito limitada, esteve pelo árduo trabalho e ordens estritas da mansão.

Numa nebulosa manhã, movido pela sensação de solidão mesmo na presença dos servos, Asher, aos oito anos, decidiu que era hora de buscar um lugar no mundo para si. Com uma simples mochila de couro, contendo petisco e uma manta para se aquecer, ele fugiu dos olhares dos criados adormecidos, com decididos passos, chegou aos estábulos.

Ali, encontrou seu confiável amigo: um belo cavalo negro, que o acompanhou em seus momentos de mais solidão. Montando Noturnos, Asher partiu silenciosamente pelas familiares trilhas que levavam além dos limites do condado.

Ao longo do dia, exploraram os recantos ocultos da paisagem, descobrindo riachos murmurantes, clareiras ensolaradas e o abraço acolhedor das antigas árvores. Sentia-se livre pela primeira vez, sem a sombra da fria mansão pairando sobre ele.

Quando o sol poente apareceu no horizonte, uma brilhante luz surgiu do Sul, atraindo sua atenção. A cidade era um contraste brilhante com a solitária mansão que vivia, Asher estava fascinado com as agitadas ruas, pessoas iam e vinham no colorido mercado noturno. Crianças corriam com doces em suas mãos, as damas admiravam os brilhantes aparatos das diversas lojas.

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