No coração do Palácio de Auron, localizado nas colinas ensolaradas de Elaris, a Princesa Aurelia sentia-se uma estranha em seu próprio lar. Enquanto caminhava pelos corredores adornados com tapeçarias antigas e lustres brilhantes, ela se via perdida em pensamentos, como se algo dentro dela estivesse à beira de despertar.Aurelia era diferente de sua irmã mais nova, Serena, a quem todos no reino chamavam de "a joia de Elaris". Serena era a filha favorita, a princesa perfeita, com seu riso fácil, seus olhos brilhantes e a capacidade de encantar todos ao seu redor. Onde Serena irradiava luz e alegria, Aurelia era mais reservada, introspectiva, carregando uma escuridão que ela mal conseguia entender.
Naquela manhã, Serena corria pelos jardins com um sorriso radiante, suas risadas ecoando pelas paredes do palácio. Aurelia a observava de uma janela alta, sentindo uma pontada de inveja, não pela atenção que Serena recebia, mas pela leveza que sua irmã parecia carregar no coração.
- Aurelia, venha se juntar a nós!
Serena chamou de repente, olhando para cima e acenando alegremente para a irmã.
Aurelia hesitou, forçando um sorriso.
- Talvez mais tarde, Serena. Preciso resolver algo antes.
- Você está sempre ocupada com algo misterioso,
Serena respondeu com uma risada suave.
- Mas não demore! Estamos todos esperando por você.
Enquanto Serena voltava a correr pelos jardins, Aurelia se afastou da janela, sentindo-se ainda mais deslocada. Não era apenas a diferença entre ela e Serena que a incomodava, mas algo mais profundo, uma sensação de que havia uma parte dela que estava trancada, oculta até mesmo de si mesma.
Determinada a encontrar respostas para o que sentia, Aurelia decidiu visitar um dos lugares mais antigos e menos frequentados do palácio: a Sala dos Espelhos. Era um local onde poucos ousavam entrar, pois dizia-se que os espelhos ali não refletiam apenas o físico, mas também os segredos mais ocultos da alma.
Ao abrir as pesadas portas de carvalho da sala, Aurelia foi recebida pelo silêncio absoluto. A luz do sol filtrava-se pelas janelas altas, iluminando os espelhos empoeirados que cobriam as paredes de pedra. Cada um dos espelhos era único, com molduras intricadamente trabalhadas em prata e ouro, e cada um parecia estar à espera de revelar algo.
Ela caminhou lentamente pela sala, sentindo uma estranha atração por um espelho específico, maior e mais ornamentado que os outros. Quando se aproximou, o ar ao redor pareceu ficar mais denso, como se uma força invisível estivesse prendendo sua atenção.
- O que você esconde, velho espelho?
murmurou Aurelia para si mesma, levantando a mão para tocar a superfície fria do vidro.
No momento em que seus dedos tocaram o espelho, uma onda de frio percorreu seu corpo, e a sala ao seu redor pareceu desaparecer. O reflexo que ela viu no espelho não era apenas seu. Havia algo mais – uma sombra, uma presença que se escondia atrás de seus olhos.
- O que você quer de mim?
Aurelia sussurrou, agora com uma mistura de medo e curiosidade.
De repente, o reflexo no espelho começou a mudar. As sombras ao redor de Aurelia se intensificaram, e os olhos no espelho começaram a brilhar com uma luz etérea. Ela tentou recuar, mas parecia hipnotizada, presa pelo olhar profundo que vinha de dentro do vidro.
- Você é mais do que pensa ser, Aurelia,
sussurrou uma voz suave, vinda de dentro do espelho. Era uma voz feminina, mas carregava um tom ancestral, cheio de segredos.
Aurelia arregalou os olhos, o coração batendo rápido.
- Quem... quem está aí? Quem está falando comigo?
A voz riu suavemente, como o sussurro do vento.
- Eu sou parte de você, minha querida. Parte do que você foi e do que pode se tornar. O poder que você sente dentro de si está esperando para ser libertado, mas para isso, você deve aceitar quem realmente é.
- Eu não entendo,
Aurelia respondeu, sua voz tremendo.
- O que eu sou? Que poder é esse?
- Você é a filha das sombras, a herdeira de um legado antigo e esquecido. A luz que sua irmã carrega é apenas uma parte da verdade. Você deve abraçar tanto a luz quanto a escuridão dentro de você.
Aurelia tentou processar as palavras da voz, mas tudo parecia confuso, como se estivesse sendo confrontada por algo muito maior do que ela jamais imaginara.
- Por que eu? Por que agora?
- Porque o tempo está se esgotando. O que está adormecido em você será necessário para enfrentar o que está por vir. Mas cuidado, princesa, com os segredos que pode descobrir. Nem tudo é o que parece.
De repente, o espelho começou a vibrar, e a imagem de Aurelia no reflexo se distorceu, como se estivesse sendo puxada para dentro do vidro. Assustada, Aurelia se afastou bruscamente, caindo para trás no chão de pedra fria.
O quarto ao seu redor voltou ao normal, mas Aurelia sabia que algo havia mudado. Sentia-se diferente, como se uma porta dentro de sua mente tivesse sido aberta. Enquanto se levantava lentamente, o eco das palavras do espelho ainda ressoava em sua mente.
Determinada a descobrir mais sobre o que havia acontecido, Aurelia decidiu que não poderia ignorar mais o que sentia. Havia um poder dentro dela, algo que ela ainda não entendia, mas sabia que não podia mais fugir. Ela precisava de respostas – e a Sala dos Espelhos havia apenas começado a revelá-las.
Com a mente cheia de perguntas e um novo propósito, Aurelia saiu da sala, pronta para enfrentar o que quer que estivesse à sua espera. As sombras ao seu redor, antes uma fonte de desconforto, agora pareciam sussurrar segredos antigos, segredos que ela estava finalmente pronta para desvendar.