O sol alto iluminava os jardins do Palácio de Auron, fazendo as flores brilharem em uma paleta vibrante de cores. Os servos se moviam de um lado para o outro, cuidando das plantas e arrumando os caminhos de pedra, enquanto risadas suaves ecoavam por entre as árvores. Serena, a filha favorita do Rei Alden e da Rainha Lysandra, dançava alegremente entre as flores, atraindo olhares admirados dos servos e guardas.
Aurelia, observando de uma varanda no alto, suspirou profundamente. Serena, com seus cabelos dourados e olhos brilhantes, sempre parecia estar no centro das atenções. Tudo nela exalava uma pureza e leveza que contrastava com a própria natureza de Aurelia. Havia uma ternura em Serena que Aurelia nunca conseguia imitar, por mais que tentasse.
Serena, notando a presença da irmã, sorriu radiante e acenou para ela.
- Aurelia! Por que está aí em cima sozinha? Venha se juntar a nós!
Aurelia hesitou, mas forçou um sorriso para esconder sua inquietação.
- Eu... talvez depois, Serena. Tenho algumas coisas para resolver primeiro.
Serena inclinou a cabeça, sem deixar que o sorriso desaparecesse.
- Você está sempre ocupada com esses segredos misteriosos. Devia aprender a relaxar um pouco! Venha, pelo menos por um momento. Os jardins estão lindos hoje.
Aurelia desceu os degraus da varanda lentamente, tentando mascarar o desconforto que sentia sempre que estava perto da irmã.
- Você realmente ama este lugar, não é?
- Como não amá-lo?
Serena respondeu com uma risada.
- Os jardins de Auron são os mais bonitos de todos os reinos! Mãe sempre diz que cada flor aqui foi plantada com amor. Elas são como nós, não acha?
Aurelia parou ao lado de Serena, observando as flores que sua irmã tanto adorava.
- Elas são perfeitas, como você,
disse Aurelia com um leve tom de amargura que tentou esconder.
Serena franziu a testa, pegando na mão da irmã com delicadeza.
- Não fale assim, Aurelia. Você sabe que também é especial. Cada uma de nós tem um papel neste reino. Mãe e pai se orgulham de nós, cada uma de sua maneira.
Aurelia desviou o olhar, sentindo a familiar pontada de dúvida que sempre surgia nessas conversas.
- Às vezes, eu sinto que eles desejariam que eu fosse mais como você.
Serena riu suavemente, apertando a mão de Aurelia.
- Você sempre pensa demais! Eles te amam exatamente como você é. Mas entendo, você sempre teve essa natureza mais séria, mais reservada. Acho que é isso que te torna tão forte, Aurelia. Você não precisa ser como eu.
Aurelia olhou para a irmã, surpresa pela sinceridade em suas palavras.
- Você realmente acredita nisso?
- Claro que sim,
respondeu Serena, seus olhos brilhando com genuína afeição.
- Somos irmãs, e isso significa que nos complementamos. O que seria de mim sem você para me proteger e me aconselhar?
Aurelia sorriu pela primeira vez de verdade naquele dia, sentindo-se um pouco mais leve.
- Talvez você tenha razão. Eu só... eu só me sinto tão diferente às vezes.
Serena puxou Aurelia para um abraço apertado.
- E isso é uma coisa boa. Diferente não significa pior, Aurelia. Eu te amo exatamente do jeito que você é, e sei que nosso reino precisa tanto de você quanto de mim.
Aurelia, sentindo o calor do abraço da irmã, permitiu-se relaxar um pouco.
- Obrigada, Serena. Suas palavras significam muito para mim.
- Então venha,
disse Serena, soltando-a com um sorriso travesso.
- Vamos andar pelos jardins. Quem sabe você não encontre alguma flor que goste?
Aurelia riu, sentindo-se um pouco mais próxima da irmã do que antes.
- Está bem, só por um momento.
Enquanto caminhavam lado a lado pelos jardins, Aurelia percebeu que, apesar de suas diferenças, havia algo especial na ligação que compartilhavam. Mesmo que o mundo a visse como a sombra de Serena, naquele momento, sentiu que essa sombra não era um lugar tão solitário assim.
As duas continuaram a caminhar, conversando sobre trivialidades e rindo juntas, enquanto o sol brilhava acima delas, iluminando o caminho e dissipando, por um breve instante, as sombras que Aurelia carregava em seu coração.
