O GUARDIÃO INVISÍVEL

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Aurelia e Serena deixaram a câmara, ainda sentindo o peso da energia que haviam experimentado, mas agora com um novo senso de propósito. Elas sabiam que o Refúgio das Sombras estava mais próximo do que jamais imaginaram, mas a visão de Aurelia também trouxera um aviso sombrio — o caminho não seria fácil. Eamon, que esperava do lado de fora com o restante da escolta, percebeu a mudança em seus semblantes quando as viu emergir.

- O que descobriram?

Eamon perguntou, aproximando-se com um olhar de preocupação.

Aurelia respirou fundo, ainda tentando recuperar-se do que havia acontecido.

- Estamos no caminho certo. O Refúgio das Sombras está escondido mais profundamente na floresta. Mas... há algo guardando-o. Um poder antigo. Não será uma simples viagem.

Serena, que estava ao lado de sua irmã, completou.

- Nós vimos uma fortaleza cercada por escuridão. E... algo está esperando por nós lá. Algo que não permitirá nossa passagem facilmente.

Eamon cruzou os braços, seus olhos estreitos com preocupação.

- Se há algo protegendo o Refúgio, devemos nos preparar para enfrentá-lo. Não podemos ser pegos de surpresa.

- Eu concordo,

Aurelia disse, olhando para a floresta ao redor.

- Devemos continuar, mas com cuidado. Quanto mais perto chegarmos, maior será o perigo.

O grupo retomou a marcha, o ambiente ao redor cada vez mais denso e opressor. As árvores, que antes pareciam acolhedoras, agora pareciam vigiar cada movimento, suas sombras se esticando como braços longos e ameaçadores. A sensação de que estavam sendo observados era quase palpável, mas ninguém conseguia identificar exatamente de onde vinha essa sensação.

Após algumas horas de caminhada, Bran, um dos guardas, parou abruptamente. Ele levantou a mão para sinalizar silêncio e começou a inspecionar o terreno à sua frente.

- Algo está errado,

ele murmurou, seu olhar fixo em algo no chão.

Aurelia e Serena se aproximaram, tentando entender o que ele havia notado. No chão, quase imperceptíveis, estavam marcas estranhas que pareciam se mover, ondulando como se o solo estivesse vivo. Eram padrões sinuosos, como se alguém ou algo invisível houvesse passado por ali.

- Essas marcas...

Aurelia sussurrou, com os olhos arregalados.

- Elas não são naturais.

- É como se algo estivesse se arrastando aqui,

Serena acrescentou, observando as marcas com cautela.

Eamon deu um passo à frente, sua mão pousando no cabo de sua espada.

- Estamos sendo seguidos. Não podemos ver o que é, mas está aqui, em algum lugar.

O grupo instintivamente se posicionou em círculo, os guardas com as armas em punho, prontos para qualquer ataque. O silêncio da floresta agora parecia ameaçador, e o ar ao redor deles começou a se mover de forma estranha, como se houvesse uma presença invisível pairando sobre eles.

De repente, uma rajada de vento frio varreu a clareira, e uma risada baixa e gutural ecoou entre as árvores. Aurelia sentiu um calafrio percorrer sua espinha.

- Quem está aí?

Eamon gritou, sua espada agora empunhada, seus olhos varrendo a floresta ao redor.

A voz, porém, não respondeu. Em vez disso, as árvores começaram a se mover levemente, suas folhas sussurrando palavras incompreensíveis. Aurelia olhou para Serena, seus olhos cheios de preocupação.

- Isso é o que vimos... o guardião,

Aurelia murmurou, sua mente voltando para a visão que tivera dentro da ruína.

- Está nos testando.

De repente, uma figura começou a se materializar à frente deles, surgindo lentamente do nada. Era uma silhueta alta, envolta em sombras que se moviam como fumaça ao redor de seu corpo. Seus olhos brilhavam com um tom de vermelho intenso, e sua voz parecia vir de todos os lados ao mesmo tempo.

- Vocês ousam tentar encontrar o Refúgio das Sombras?

a figura falou, sua voz ecoando como um trovão distante.

- Vocês não têm ideia do que guardam. Voltem agora, ou enfrentarão o destino daqueles que tentaram antes.

Eamon deu um passo à frente, sua espada brilhando à luz tênue que restava.

-Não temos medo de você. Se está aqui para impedir nosso caminho, enfrentaremos o que for necessário.

A figura riu novamente, um som oco e ameaçador.

- A coragem é admirável, mas fútil. Muitos vieram antes de vocês, buscando o poder do Refúgio. Nenhum retornou.

Aurelia, sentindo o peso da responsabilidade sobre seus ombros, deu um passo à frente também.

- Não estamos aqui por poder. Estamos aqui para salvar nosso reino. Se o Refúgio pode nos ajudar, então enfrentaremos qualquer obstáculo para chegar até lá.

Os olhos vermelhos da figura pareceram fixar-se em Aurelia por um longo momento, como se estivesse avaliando sua alma.

- Acredita que seu propósito é nobre, princesa. Mas nem todos que procuram o Refúgio têm intenções puras. Sua jornada será marcada por escolhas difíceis. Prove-se digna ou será consumida pelas sombras.

Antes que alguém pudesse responder, a figura começou a se dissolver novamente nas sombras, e a floresta voltou ao seu silêncio inquietante. O grupo permaneceu imóvel por alguns momentos, processando o que havia acabado de acontecer.

- Não temos escolha,

Aurelia finalmente disse, quebrando o silêncio.

- Seja qual for esse guardião, ele não nos deterá. Continuaremos.

Serena assentiu, apertando o cabo de sua espada.

- Vamos encontrar o Refúgio, Aurelia. Não importa o que aconteça.

Eamon olhou para suas companheiras, seu semblante grave, mas determinado.

- Estamos todos juntos nisso. Vamos.

E assim, o grupo seguiu adiante, o peso do que haviam acabado de testemunhar pairando sobre eles. Sabiam que o caminho seria ainda mais perigoso, e que o guardião das sombras estava observando cada passo. Mas também sabiam que recuar não era uma opção. O destino de seu reino dependia de sua coragem — e da força para enfrentar o que quer que estivesse à espera no Refúgio das Sombras.

O REINO DAS SOMBRASWhere stories live. Discover now