O Salão de Mármore do Palácio de Auron, onde o Conselho dos Reis se reunia, estava repleto de uma tensão quase palpável. Os conselheiros e líderes das terras vizinhas haviam sido convocados para discutir uma ameaça crescente nas fronteiras do reino. O Rei Alden, com sua postura imponente, estava sentado no trono central, a coroa dourada brilhando em sua cabeça. Ao seu lado, a Rainha Lysandra mantinha a expressão serena, mas havia uma preocupação silenciosa em seus olhos.Aurelia e Serena estavam presentes, como sempre, mas desta vez a atenção de Aurelia estava particularmente focada. Ela sabia que algo importante estava prestes a ser discutido – algo que, de alguma forma, parecia estar conectado ao estranho sentimento de inquietação que a havia atormentado nos últimos dias.
O som de passos firmes ecoou pelo salão quando um dos conselheiros mais velhos, Lorde Darius, avançou para falar. Ele se curvou respeitosamente antes de dirigir-se ao rei.
- Majestade, a situação nas fronteiras do norte está se tornando cada vez mais grave. Os ataques das tribos bárbaras aumentaram em frequência e intensidade. Nossos batedores relatam que eles estão se organizando de maneira que nunca vimos antes.
O Rei Alden franziu a testa, seus olhos brilhando com uma mistura de raiva e determinação.
- Isso é inaceitável, Darius. Não podemos permitir que nossos inimigos pensem que Elaris é fraca. O que sugere que façamos?
Lorde Darius respirou fundo antes de responder.
- Precisamos reforçar nossas defesas imediatamente e enviar uma mensagem clara de que não toleraremos mais essas incursões. Mas... há rumores de que eles estão sendo ajudados por uma força externa, talvez até mesmo pelos reinos do leste.
A Rainha Lysandra inclinou-se ligeiramente para frente, seu olhar afiado fixo em Darius.
- Você sugere que outro reino esteja conspirando contra nós? Isso poderia significar o início de uma guerra aberta.
Antes que Darius pudesse responder, Serena, sempre ousada, interrompeu com uma pergunta direta.
- Mas por que fariam isso agora? O que ganhariam com uma guerra?
Darius voltou-se para Serena, sua expressão suavizando um pouco diante da princesa.
- Sua Alteza, é possível que estejam buscando enfraquecer nosso reino para tomar o controle de nossas terras férteis. Elaris sempre foi um alvo desejado por nossos inimigos.
Aurelia, que até então havia permanecido em silêncio, não pôde deixar de intervir.
- Mas há algo mais, não há? Algo que ainda não foi dito.
Todos os olhos no salão se voltaram para ela, surpreendidos por sua interjeição. O Rei Alden a observou com atenção.
- O que está sugerindo, Aurelia?
Aurelia hesitou por um momento, sentindo o peso das palavras que estava prestes a dizer.
- E se essas tribos e os reinos do leste estiverem atrás de algo mais do que apenas terras? Algo que acreditam que possuímos... ou que estamos escondendo?
A Rainha Lysandra franziu ligeiramente a testa, mas seus olhos mostravam que ela entendia o que Aurelia estava insinuando.
- Você está se referindo às antigas lendas, minha filha?
Aurelia assentiu.
- Sim, mãe. Há histórias antigas, passadas de geração em geração, sobre um poder oculto em Elaris. Talvez nossos inimigos acreditam que esse poder seja real e estão dispostos a fazer qualquer coisa para obtê-lo.
Um silêncio pesado caiu sobre o salão enquanto os presentes ponderavam sobre as palavras de Aurelia. O Rei Alden, sempre cético quanto a lendas e mitos, suspirou profundamente.
- Não podemos basear nossas decisões em contos de fada, Aurelia. Precisamos de fatos, não de histórias antigas.
Serena, que havia ficado pensativa desde a menção do poder oculto, de repente falou, com uma nota de preocupação em sua voz.
- Mas pai, e se essas histórias forem verdadeiras? Não podemos ignorar a possibilidade. Devemos estar preparados para qualquer eventualidade.
O Rei Alden olhou de Serena para Aurelia, seu semblante suavizando um pouco.
- Vocês duas são minhas filhas, e eu valorizo suas opiniões. Mas precisamos ser cautelosos. O que propõem que façamos?
Aurelia, sentindo a responsabilidade de suas palavras, deu um passo à frente.
- Sugiro que enviemos espiões para investigar as verdadeiras intenções desses reinos do leste. E, enquanto isso, devemos intensificar a proteção do palácio e de qualquer artefato ou lugar que possa ter alguma ligação com essas lendas.
Lorde Darius assentiu, vendo a lógica na proposta de Aurelia.
- É uma boa estratégia, Majestade. Se houver algo de verdade nessas histórias, devemos estar preparados para defendê-lo.
O Rei Alden finalmente concordou, embora com relutância.
- Que assim seja. Preparem nossos espiões e redobrem a segurança em Elaris. E quanto às tribos do norte, enviarei uma mensagem clara de que não toleraremos mais ataques.
A Rainha Lysandra observou as filhas com um olhar ponderado antes de falar.
- Aurelia, Serena, vocês devem permanecer alertas. O que quer que esteja se desenrolando, terá consequências para todos nós. E, Aurelia,
ela acrescentou, com uma suavidade rara em sua voz,
- confie em seus instintos. Há mais verdade em lendas do que muitos querem acreditar.
Aurelia sentiu um calafrio correr pela espinha, mas manteve a cabeça erguida.
- Eu farei o que for necessário, mãe.
O Rei Alden se levantou, sinalizando o fim da reunião.
- Então estamos decididos. Que os deuses de Elaris nos guiem. Esta ameaça não deve ser subestimada.
Enquanto todos começavam a se dispersar, Serena segurou a mão de Aurelia, apertando-a levemente.
- Você está bem?
ela perguntou em um sussurro.
Aurelia olhou para a irmã, percebendo a preocupação genuína em seus olhos.
- Estou, Serena. Apenas... algo está mudando. Eu posso sentir isso.
- Eu também,
Serena admitiu, apertando ainda mais a mão de Aurelia.
- Mas não importa o que aconteça, enfrentaremos isso juntas.
Aurelia sorriu levemente, sentindo um calor no peito ao ouvir as palavras da irmã.
- Juntas,
ela repetiu, sentindo a força do vínculo que as unia, mesmo diante das incertezas que as aguardavam.