Barulhenta mente

CRIANÇAS PRODÍGIOS

Crianças prodígios, aquelas a quem foi prometido o mundo, cobertos de encanto, cobertos de expectativas. Todos os olhos estão nelas, tudo é esperado delas. Se há alguém que consegue fazer algo, são elas.

Mas o que ninguém conta para as crianças prodígios é que elas vão crescer; é que os aplausos podem se tornar vaias no seu primeiro erro; é que todos vão sempre esperar o extraordinário delas e assim que elas decepcionarem, vão largar elas de mão.

O que antes era uma arma de impulsionamento, o que antes eram palmas explodindo como fogos de artifícios, um dia vai se tornar um peso enorme nas suas costas, o peso das expectativas alheias vai esmagar elas, fazendo com que elas se rendam ao medo; se rendam a pressão; a depressão e a ansiedade.

O mundo se torna cruel com essa criança, no exato momento em que ela perceber que não é nada além de suas conquistas, que não vale nada sem isso e que é descartável. Porque todos amam uma criança prodígio, todos querem apoiar ela, todos querem parabenizar seus feitos históricos, mas no momento que uma nova criança prodígio surge, a antiga, não é mais nada.

E se deparam com um mundo solitário, porque as outras crianças não gostam delas, porque são muito diferentes das outras; e as outras crianças prodígios vivem em uma competição eterna de quem é a melhor, competição que é atiçada por toda uma sociedade.

Somos apenas produtos em vitrines, fotografadas e desejadas, invejadas e amadas. Entretanto, quando não somos mais prodígios, quando os flashes nos desgastam mentalmente, quando não somos mais tão interessantes, a vitrine é tomada de nós. Quem quer ver um produto quebrado?

Um mundo brilhante nos foi prometido, mas quando deixamos de brilhar tão intensamente quanto esse sonho, somos jogados em uma vala, em um submundo chamado “realidade”, nada é brilhante, onde a única esperança é a morte e talvez as glórias do seu passado estejam escritas em sua lápide. E talvez… talvez alguém se lembre de você como aquela criança prodígio.