Capítulo 1

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Qualquer um que olhasse para meu rosto poderia perceber como estou bravo com a decisão dos meus pais.

Minha expressão de desgosto se intensifica ainda mais quando os prédios são substituídos por árvores de diversos tamanhos e tipos, mas nada se compara à careta que faço ao ver uma placa velha com a frase: "Bem-vindos ao Acampamento Lockwood." Sério, eu não estou nada feliz.

Era um domingo, o relógio na parede marcava três horas da tarde e eu estava dormindo quando meus pais abriram a porta e jogaram uma bomba em mim. Com a desculpa de que eu me isolava demais, não saía e, consequentemente, não tinha amigos, eles decidiram - SEM ME CONSULTAR SE EU QUERIA - que, durante as férias de verão, eu não passaria minhas tardes na biblioteca ou em meu quarto; eu iria para um acampamento do outro lado da cidade.

O pior: eu não estava levando nada além de roupas, sapatos, produtos de higiene, fitas cassete e meu Alkmen. Sem celular, tablet, iPad ou qualquer coisa relacionada à vida lá fora. Segundo eles: "Você precisa aproveitar sua adolescência, não sabe nada sobre a vida real, tenho medo de que desenvolva depressão, só sabe ler e estudar, e blá blá blá." Não pense que meus pais não gostam de que eu estude bastante e leia; muito pelo contrário, amam quando mostro meu boletim com as maiores notas da escola e minhas redações. Porém, o problema - segundo eles - é que eu me isolava demais, passava horas trancado em meu quarto ou na biblioteca da cidade e, consequentemente, "não desbravava o mundo afora."

Eu sou o quê? Um aventureiro?

Passei o caminho inteiro pensando nas possibilidades de fugir daquele lugar, mas para onde eu iria? Meus pais me matariam se eu voltasse para casa. Passei tanto tempo imerso em meus pensamentos que nem percebi quando meu pai abriu a porta do carro, somente quando ele me cutucou e disse com um sorriso nos lábios:

— Vamos lá, garotão.

E o discurso da minha mãe de "o quanto isso será bom para mim" começou novamente. Quando mais nos aproximávamos do portão de madeira, mais meu coração batia forte e eu queria correr dali. Caminhamos até a recepção, que não era muito longe do estacionamento, e eu já estava odiando. O cheiro de grama molhada era maravilhoso, mas a sujeira que ela deixava em meus tênis era horrenda. Eu já estava vendo que tênis não era algo muito comum ali, principalmente quando uma mulher de cabelos lisos e branquinhos na altura do ombro se aproximou com uma galocha amarela nos pés.

O sorriso não abandonava o rosto da mulher, mesmo com suas rugas da idade aparecendo, me permiti pensar que ela era uma senhora muito bonita.

— Olá, bem-vindos ao Acampamento Lockwood. Eu sou a inspetora-chefe, Diana — disse ela, apertando as mãos dos meus pais e, em seguida, olhando para mim. — Você deve ser o Jungkook, estou certa?

— Sim, estou — respondi, apertando sua mão assim como meus progenitores.

— Ok, vamos lá. Eu estava bravo e isso ela percebeu, mas não era mal-educado. Principalmente com os mais velhos.

— Não se preocupe, Jungkook — ela colocou a mão em meu ombro — garanto que esse será um dos melhores verões da sua vida — sorriu mostrando os dentes brancos e, em seguida, olhando para meus pais — vamos conhecer o acampamento?

E logo estávamos caminhando pelo local com dois adultos impressionados, uma senhora orgulhosa e um adolescente empurrado.

Uma hora se passou e meus pais já estavam assinando os termos de consciência e segurança do local, com sorrisos em seus lábios e esperança em seus olhos.

Minha mãe não me soltou por um segundo sequer, estava agarrada em meus ombros com a bochecha direita colada na minha. Eu reclamava de seus apertos, mas nunca de seus abraços. Sempre fui carinhoso com ela na mesma proporção em que ela era comigo. Terminando de assinar sua parte e deixando minha mãe assinar a dela, meu pai caminhou e parou ao meu lado. Nós estávamos distantes por alguns centímetros; achei que continuaria assim e que ele se despediria apenas com um aceno e um sorriso, até que ele me puxou pelos ombros e afundou meu rosto em seu peitoral, me abraçando, demonstrando a saudade que sentiria.

DIÁRIO DE UM ACAMPAMENTO  •  jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora