Capítulo 4

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— Mesmo que eu já tenha feito isso várias vezes, o frio na barriga sempre aparece — diz Jimin enquanto avança um pouco na fila da tirolesa. Frio na barriga é um eufemismo; eu estou é me cagando de medo.

— É sua primeira vez fazendo isso? — pergunta um garoto de cabelo cacheado, pele morena e olhos castanhos atrás de mim. Assim que a voz do menino chega aos ouvidos de Jimin, ele procura o dono da voz e, ao encontrá-lo, se vira para frente, como quem não quer papo com o garoto. Eu acharia isso uma grande falta de educação se não sentisse que, de alguma forma, eles já se conhecem.

— Sim, nunca estive em um desses antes — respondo, segurando o colete preso ao meu corpo. Por mais que alguns saibam nadar, é regra do acampamento usar colete salva-vidas.

— Eu concordo plenamente com o que Jimin disse antes; sempre dá um medinho — ele ri um pouco — aliás, desculpa por ouvir a conversa de vocês. Estava tentando encontrar uma forma de puxar assunto e essa acabou surgindo — coça a nuca, envergonhado.

Assim que Jimin ouviu, ele se virou e encarou o garoto, um pouco surpreso.

— Ah, nem me apresentei. Meu nome é Douglas — sorri, mostrando os dentes.

— Jungkook — devolvo o cumprimento.

Minutos se passam e ninguém fala mais nada. O clima estava tão denso que parecia possível cortá-lo com uma tesoura. Estávamos cada vez mais próximos da tirolesa e eu cada vez mais inquieto, prestes a dizer que não iria mais quando ouvi Douglas:

— Jimin? — chama, e Jimin se vira, encarando o garoto com um olhar que revelava um pouco de... medo? — Podemos conversar depois? — meu olhar vagou até Jimin, que fez menção de negar, mas Douglas continuou — Você sabe que precisamos, Min.

Meus olhos se arregalaram em surpresa com o apelido, assim como os de Jimin, que praticamente dobraram de tamanho.

— Sim, mais tarde eu vou até a sua cabana e conversamos — Jimin se vira e anda mais um pouco.

Meu olhar segue até Douglas, e fico confuso quando o encontro sorrindo. Ele me olha de volta e seu sorriso só cresce. Posso notar, pelas suas mãos inquietas, o quanto está animado e ansioso com aquilo.

Mesmo quieto demais, eu me considero uma pessoa muito curiosa, o que claramente considero um defeito. Então, com a expressão mais neutra de todas, me contenho para não fazer perguntas do tipo "Como vocês se conhecem?" ou "O que você quer falar com o Jimin?", e me viro para frente.

Eu estava tão absorto em meus pensamentos e na possibilidade do que seria aquela conversa que, quando percebi, Jimin se virou para mim com um enorme sorriso, mostrando os dentes. Quando ia perguntar o motivo daquele sorriso, ele se virou, segurou a corda e começou a deslizar pelo cabo para longe enquanto gritava, totalmente animado, e de repente, TIBUM! Ele soltou a corda.

Segundos depois de cair na água, Jimin surgiu na superfície tossindo um pouco. Ele provavelmente estava sorrindo tanto que não conseguiu fechar a boca e entrou água, o que me fez rir um pouco. Ele nada com maestria até a borda do lago e parece surpreso quando uma garota de cabelo castanho e pele branca como papel estende a mão para ele, mas não nega a ajuda.

Não consigo ver mais, já que o inspetor que estava ao meu lado começou a checar meu colete e me estendeu a corda. Minhas mãos tremiam e eu estava suando, mas quando olhei para Jimin novamente, ele sorriu e levantou o polegar.

Quando percebi, meus pés não estavam mais na estrutura de madeira e só o que eu via lá embaixo era água. O primeiro sentimento que se instalou dentro do meu peito foi medo. Segundos depois, foi substituído pela adrenalina da velocidade e pelo vento no meu rosto, arrancando um sorriso de mim. Quando soltei a corda, instantaneamente me arrependi e o desespero me tomou. Eu não conseguia respirar por estar debaixo d'água e tudo ao redor era escuro; eu não via, não respirava e não sentia nada em meus pés, além do gelado do lago e o medo de que algo me puxasse para baixo.

DIÁRIO DE UM ACAMPAMENTO  •  jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora