Capítulo 2

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O problema é que eu nunca tive amigos e, quando você não tem amigos, obviamente não sabe como se portar na frente de alguém para formar uma amizade. Então, quando percebo que o assunto que estou pensando em puxar com Jimin é sobre como, na verdade, coelhos não podem comer muita cenoura, começo a me julgar mentalmente e a retrair todos os impulsos para o possível começo de uma conversa amigável com outra pessoa.

Esse é o problema: eu nunca sei como agir na frente de alguém desconhecido e normalmente paraliso ou saio correndo e nunca mais olho para a pessoa. Mas é meio impossível correr quando a pessoa dorme no mesmo quarto que você.

Jimin havia me seguido a tarde inteira, tagarelando sem parar e me arrastando para todos os cantos do acampamento, sempre me contando algum acontecimento ao visitarmos um local diferente. Foi ali que eu soube: Jimin não tinha amigos aqui. Ele estava tentando fazer amizade comigo, mas a única coisa que aconteceu o dia todo foi ele falar e eu escutar.

E eu não estava acostumado com tanta movimentação em minha vida; eu estava me segurando.

— Então, você vem? — pergunta pela segunda vez.

— Não, não, não, não, não, não, não e não.

— Ah, vamos lá, por favorzinho...

Como o canto de uma sereia atrai um pescador, aqueles olhos me enfeitiçaram e, quando percebi, minha cabeça já tinha balançado positivamente. Então cá estou eu, sentado ao lado de Jimin em meio a todos os adolescentes do acampamento, focado em meu marshmallow na fogueira enquanto uma garota de olhos e cabelos castanhos conta uma história de terror.

Eu estava colocando o marshmallow na boca quando ela gritou e assustou todo mundo, inclusive o Jimin, que me agarrou fazendo com que eu quase me engasgasse com a comida.

— Mais um pouco e o que ia parar na minha goela ia ser o palitinho — falo para ele, enquanto ele me olha com os olhos arregalados.

— Me desculpe, Jungkook, é que eu não esperava por aquilo — coça a nuca envergonhado enquanto eu dou minhas últimas tossidas.

— Toma um pouco de água — ele me estende uma garrafinha.

Peguei a garrafinha e tomei três goles bem generosos, aliviando a tosse e descendo o resto da comida que engoli às pressas.

— Você acabou de me dar um beijo indireto — é o que ele diz.

Minha única reação foi arregalar os olhos e, logo em seguida, olhá-lo como se pudesse fuzilá-lo apenas com o pensamento. A reação dele é o que mais me deixa incrédulo; ele ri tanto que joga seu corpo para frente enquanto bate as mãos nas coxas.

— Eu estava brincando com você, Jeon — continua rindo enquanto fala.

— Eu tenho que ir — digo, levantando-me.

— Espera! — pede, mas eu já estou praticamente correndo em direção à cabana.

Meu rosto já está totalmente vermelho e eu sinto as minhas orelhas quentes. Jimin é um garoto extremamente lindo. Suas sardas, seus olhos, seu nariz, suas bochechas, sua boca... tudo nele carrega uma beleza inexplicável. Eu não consigo ficar perto dele por muito tempo sem me sentir envergonhado ou até mesmo gaguejar. Não estou tendo controle sobre minhas reações e isso está fazendo com que quase saia fumaça da minha cabeça.

Meu espaço está sendo invadido muito rápido e eu não sei lidar com tanto toque físico ou vários assuntos diferentes em questão de segundos. Percebi que me senti estranho perto dele; passar a tarde com ele me seguindo por todos os lugares foi estranho. Estou começando a me sentir sufocado por sentir algo e não ter a mínima ideia do que é.

DIÁRIO DE UM ACAMPAMENTO  •  jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora