O inverno havia chegado, e o frio intenso parecia refletir a desolação que eu sentia por dentro. O ar gelado penetrava pelas brechas das janelas, e a cidade estava envolta em uma camada de gelo e neblina. Eu me encontrava em um estado de apatia profunda, arrastando-me através dos dias sem energia ou propósito. O luto pela morte do meu pai havia se transformado em uma nuvem constante de tristeza e desespero, e eu me via lutando para encontrar um motivo para sair da cama.
Baji, sempre preocupado, continuava a aparecer na minha porta, mas cada vez mais frequentemente eu o encontrava afastando-o. Ele estava lá, oferecendo apoio, tentando me confortar com palavras gentis e gestos carinhosos, mas eu estava imerso em um mar de desespero, e sua presença parecia apenas me lembrar da dor que eu estava tentando evitar. Sentia-me culpado por sua constante presença, como se ele estivesse ali por pena, e não porque realmente quisesse estar.
Em uma noite particularmente escura e fria, depois de uma semana de silêncio e evitação, a pressão acumulada explodiu. Eu havia me isolado ainda mais, recusando qualquer interação e ignorando até mesmo as mensagens de Baji. As lágrimas já haviam se tornado uma constante em minha vida, e eu estava lutando para manter o controle. Meu apartamento, antes um espaço confortável, agora parecia um buraco negro de tristeza e vazio.
Foi então que, em um momento de desespero e frustração, decidi confrontar Baji. Eu sabia que estava sendo injusto, mas a dor que eu sentia estava além do que eu conseguia controlar. Ele apareceu à minha porta, como sempre, mas hoje era diferente. Hoje eu não estava preparado para o conforto ou a compreensão que ele oferecia. Eu precisava de respostas, e, mais importante, precisava saber se havia algo real entre nós ou se era apenas um ato de compaixão.
— Baji, você precisa me dizer a verdade — minha voz soou fraca e rouca, mas carregada de uma intensidade desesperada. — O que é isso entre nós? Por que você continua aqui? Você está só por pena, não está?
Baji, com a expressão preocupada e a tensão visível em seus ombros, hesitou antes de falar. Seus olhos, normalmente tão certos e confiantes, estavam cheios de dúvida e confusão. A luz suave do corredor refletia em seus cabelos negros, criando um halo que apenas acentuava o contraste entre seu olhar sincero e minha própria confusão interna.
— Chifuyu... — Ele começou, mas a voz dele vacilava, como se estivesse lutando para encontrar as palavras certas. — Eu... eu não estou aqui só por pena. Eu... eu realmente me importo com você.
Eu o encarei com um olhar que misturava raiva e dor.
— Me importa? Isso não responde a minha pergunta. O que somos realmente? O que você quer de mim?
Baji parecia tomado por uma tempestade interna, sua luta emocional visível em cada linha de seu rosto. Ele hesitou ainda mais, a frustração crescendo em mim a cada segundo que passava sem uma resposta clara. Eu me senti abandonado por ele, como se suas palavras não pudessem alcançar a profundidade da dor que eu sentia.
— Eu... não sei como responder a isso agora — Baji admitiu, a voz quase um sussurro. — Eu só sei que eu quero estar com você, que eu me preocupo com você. Mas eu não sei como expressar isso da maneira que você precisa.
Seu desespero e falta de clareza apenas aumentaram a dor que eu sentia. Eu estava tão perdido na minha própria tristeza e na confusão que não conseguia aceitar que Baji não tinha todas as respostas que eu buscava. A tensão entre nós era palpável, e a falta de uma resposta definitiva parecia como uma facada aberta em meu coração já ferido.
Com um impulso de raiva e frustração, eu o afastei, a voz tremendo de emoção.
— Então vá embora, Baji. Se você não sabe o que quer, talvez seja melhor você ficar longe de mim.
Ele olhou para mim com um misto de dor e resignação, os olhos cheios de uma tristeza que espelhava a minha. Ele hesitou por um momento, como se quisesse dizer algo mais, mas então simplesmente virou as costas e saiu pela porta, a fechando suavemente atrás de si.
Eu me afundei no sofá, meu corpo tremendo de um choro silencioso e desolador. A sensação de perda e desamparo era avassaladora, e a ausência de Baji parecia amplificar ainda mais a dor. A casa estava em silêncio, exceto pelo som da minha respiração pesada e irregular. O vazio ao meu redor parecia crescer, e eu me sentia como se estivesse afundando em um buraco sem fundo, sem saber como sair.
A noite avançou, e eu fiquei ali, imerso em um mar de pensamentos turbulentos e emoções conflituosas. O confronto com Baji, embora doloroso, havia trazido à tona a complexidade de nossos sentimentos e a confusão que eu estava enfrentando. A dor de não ter uma resposta clara, somada à tristeza pela perda de meu pai e a sensação de que ninguém realmente entendia o que eu estava passando, era quase insuportável.
Eu estava sozinho, e a solidão parecia ser a única constante em minha vida agora. O desejo de entender o que Baji sentia por mim e o medo de estar apenas buscando consolo em um momento de fraqueza estavam se misturando em uma tempestade de emoções que eu não sabia como controlar.
O silêncio do apartamento parecia pesar sobre mim, e eu me perguntei se alguma vez conseguiria encontrar uma resposta para todas as perguntas que estavam me atormentando.
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O Garoto do Andar de Baixo
RomanceChifuyu, um jovem marcado por uma vida de perdas e solidão, enfrenta uma profunda depressão devido à grave doença de seu pai. A chegada de Baji, seu vizinho do andar de baixo, traz um raio de esperança inesperado. O que começa como uma amizade se tr...