Capítulo Cinco

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A noite estava quieta e fria quando comecei a me preparar para dormir. O céu estava limpo, pontilhado de estrelas, e a cidade abaixo parecia em uma pausa tranquila, uma raridade nas noites agitadas que costumavam ser. O apartamento estava envolto em uma penumbra suave, iluminado apenas pelo brilho difuso das luzes de rua que se filtrava pelas cortinas. As sombras dançavam nas paredes, um lembrete constante da solidão que eu sentia, mesmo com Baji próximo.

Nos últimos dias, minha mente estava mais agitada do que o normal. Os pesadelos se tornaram uma constante na minha vida, interrompendo o sono e deixando-me com um medo persistente e esmagador. O cansaço se acumulava, e a sensação de estar à beira do desespero se tornava cada vez mais forte. Era difícil de expressar, mas a presença constante de Baji estava começando a ser uma âncora na tempestade que era minha vida.

Uma tarde, enquanto conversávamos no sofá, Baji percebeu o tremor na minha voz. Eu tentei ser leve, tentando manter a conversa no terreno seguro da distração, mas sabia que não estava enganando ninguém. Ele percebeu meu sofrimento e, com uma gentileza que eu não estava acostumado, ofereceu algo que eu não esperava.

— Chifuyu, você tem falado muito sobre como a noite tem sido difícil para você ultimamente — ele disse, sua voz carregando uma preocupação genuína. — Eu não quero ser intrometido, mas notei que você parece estar lutando com mais frequência.

A surpresa e a vulnerabilidade em sua voz foram como um balde de água fria. Eu hesitei antes de responder, tentando esconder a verdade por trás de uma fachada de normalidade. — É verdade, Baji. Tenho tido pesadelos quase todas as noites. Acordo no meio da madrugada, e o medo é tão real que é quase impossível voltar a dormir.

Os olhos de Baji estavam cheios de compreensão e empatia. O ambiente ao nosso redor, normalmente um refúgio de tranquilidade, parecia carregar um peso maior naquela noite. Ele percebeu a dor em meus olhos e fez uma oferta que eu nunca esperei.

— Se você quiser, posso ficar com você esta noite. Às vezes, só o fato de ter alguém por perto pode fazer uma grande diferença — disse ele.

Eu olhei para ele, sentindo um misto de alívio e hesitação. A ideia de ter alguém ao meu lado, especialmente alguém que eu começava a considerar um amigo, era reconfortante, mas também um pouco constrangedora. — Não quero causar incômodo, Baji. Não seria justo com você.

— Não é incômodo algum — ele respondeu com um tom que eu sabia ser sincero. — Eu me importo com você e só quero que você esteja bem.

Seu oferecimento trouxe um pequeno sorriso aos meus lábios, um sorriso que se sentia genuíno e aliviado. Embora fosse um gesto simples, a oferta significava mais para mim do que eu poderia expressar.

Eu havia aceitado a oferta de Baji com um sentimento misto de alívio e timidez. A ideia de ter alguém próximo durante a noite, especialmente alguém que começava a se tornar importante para mim, era reconfortante. O sofá estava transformado em uma cama improvisada com cobertores e travesseiros, criando um espaço acolhedor no meio da sala. A luz suave do abajur lançava uma sombra difusa nas paredes, tornando o ambiente ainda mais acolhedor e íntimo.

Baji se acomodou ao meu lado, sua presença era um bálsamo para minha agitação interna. No entanto, a solidão e os pesadelos continuavam a assombrar minha mente, tornando o sono uma tarefa difícil. As sombras nas paredes pareciam ganhar vida, e cada estalo da casa fazia meu coração acelerar. Eu estava imerso em uma espiral de ansiedade e medo, tentando desesperadamente encontrar um pouco de paz.

Quando finalmente adormeci, a sensação de pavor não me abandonou. Os pesadelos começaram a se manifestar, e eu me contorci sob os cobertores, o medo tomando conta de mim com a mesma intensidade que a escuridão da noite. As imagens em minha mente eram confusas e perturbadoras, e eu murmurei palavras desconexas enquanto me debatia.

Foi então que senti um movimento ao meu lado. Baji, com uma delicadeza inesperada, se aproximou e me envolveu com um abraço reconfortante. Seus braços foram ao meu redor, puxando-me para mais perto de si. Eu senti sua respiração quente em meu pescoço e, em um gesto surpreendente e reconfortante, ele começou a beijar suavemente a pele do meu pescoço. O toque era leve e gentil, mas carregado de uma ternura que parecia dissipar o medo que eu sentia.

O calor dos lábios de Baji em meu pescoço fez meu rosto esquentar instantaneamente. A sensação do beijo era simultaneamente íntima e tranquilizadora, uma mistura de conforto e vulnerabilidade que eu não sabia que precisava. A maneira como ele me abraçava, com seus braços firmes e protetores, fazia meu corpo relaxar lentamente. Eu sentia a tensão se dissipar à medida que a ansiedade era gradualmente substituída por uma sensação de segurança.

Eu me movi um pouco para me acomodar melhor contra ele, e pude sentir a força e a presença de Baji de maneira mais intensa. Cada toque, cada beijo suave em meu pescoço era um lembrete de que eu não estava sozinho. A sensação de seu corpo junto ao meu, o calor de seu abraço, foi como um escudo contra a escuridão que me assombrava.

Conforme a noite avançava, eu comecei a sentir a diferença. Os pesadelos diminuíram, e a ansiedade deu lugar a um sono mais tranquilo. A presença de Baji era uma âncora na tempestade que era minha mente, e a sensação de ser acolhido e cuidado trouxe uma paz que eu não experimentava há muito tempo.

A madrugada passou lentamente, e a sensação de segurança proporcionada por Baji fez com que a noite se tornasse suportável, e até mesmo, um pouco doce. A luz do amanhecer começou a se infiltrar pelas cortinas, trazendo um brilho suave que contrastava com a escuridão da noite anterior. Eu ainda estava envolto nos braços de Baji quando acordei, e a sensação de seu calor contra meu corpo era um lembrete reconfortante de que a noite havia passado.

Quando finalmente abri os olhos, encontrei Baji ao meu lado, ainda adormecido, com um sorriso tranquilo no rosto. A sensação de estar em seus braços, de sentir seu toque gentil e reconfortante, era algo que eu começava a valorizar profundamente. A proximidade dele, o cuidado que ele demonstrou, foram um bálsamo para meu espírito atormentado.

— Obrigado, Baji — sussurrei, minha voz ainda rouca e cheia de gratidão. — Sua presença fez uma grande diferença.

Ele acordou lentamente, seu olhar ainda sonolento, mas cheio de uma ternura que fez meu coração se aquecer. — Não precisa agradecer — ele respondeu com um sorriso tranquilo. — Estou aqui para isso.

Enquanto começávamos a preparar o café, a manhã trouxe consigo uma sensação de renovação e esperança. A cidade começava a ganhar vida novamente, e eu sentia que aquela noite havia sido um ponto de virada. A presença de Baji, o cuidado que ele demonstrou, trouxe uma nova perspectiva para o meu dia.

O Garoto do Andar de BaixoOnde histórias criam vida. Descubra agora