A cidade estava envolta em um manto de escuridão, iluminada apenas pelas luzes fracas e distantes dos edifícios e carros que passavam. Eu me encontrava em um estado de total desolação, vagando pela rua silenciosa com um propósito sombrio em mente. O frio cortante da noite parecia ser uma extensão do vazio e da tristeza que eu sentia por dentro, intensificando a sensação de desolamento que me envolvia.
Eu não tinha para onde ir, e a dor que carregava parecia intransponível. A perda do meu pai, o afastamento de Baji e a sensação crescente de que estava completamente sozinho tornaram tudo insuportável. Cada passo que dava parecia mais um peso sendo colocado sobre meus ombros já exaustos. A cidade, com sua movimentação constante e suas luzes brilhantes, parecia estar tão distante quanto eu me sentia.
Finalmente, cheguei à ponte. A estrutura metálica se erguia sobre o rio abaixo, suas vigas escuras e frias contrastando com o brilho prateado da água que se movia lentamente. O som do vento e das águas correndo parecia um sussurro distante em minha mente perturbada, como se o mundo tivesse diminuído em um murmúrio distante e indiferente.
Eu me aproximei da borda da ponte, o olhar fixo na água lá embaixo. A visão do rio correndo era hipnotizante, e eu me perguntava se seria a última coisa que veria. Cada pensamento parecia girar em torno da ideia de escapar de toda a dor e tristeza que me consumia. As memórias dos últimos meses, a morte do meu pai, o confronto com Baji e o sentimento de abandono se misturavam em uma névoa dolorosa, tornando tudo ainda mais insuportável.
As lágrimas escorriam silenciosamente pelo meu rosto, misturando-se com o vento frio que cortava minha pele. Meu coração estava pesado, e a sensação de desespero era esmagadora. Eu me sentia como se estivesse em uma gaiola invisível de sofrimento, sem uma saída aparente, e a ideia de pular parecia ser a única forma de encontrar alívio.
Enquanto me aproximava da borda, a sensação de estar prestes a fazer algo irreversível me paralisava por um momento. Eu fechei os olhos e tentei me concentrar na ideia de que essa decisão, uma vez tomada, seria definitiva. A sensação de estar tão sozinho e perdido parecia intensificar a pressão sobre mim, tornando difícil pensar claramente.
Foi então que ouvi um som familiar, um chamado que cortou o turbilhão em minha mente. Era a voz de Baji, e ele estava correndo em minha direção, sua presença tão urgente quanto a minha dor. Quando olhei para trás, ele estava ali, sua expressão um misto de pânico e determinação, seus olhos fixos em mim com uma intensidade que me fez parar no meio de minha angústia.
— Chifuyu! — Baji gritou, sua voz cortando o vento frio e a escuridão ao nosso redor. — Não faça isso, por favor. Não desista de nós.
Eu me virei para encará-lo, o rosto ainda molhado pelas lágrimas, sentindo o peso de sua preocupação e o calor de sua presença. Baji se aproximou rapidamente, sua respiração irregular e os olhos cheios de uma emoção que eu não conseguia ignorar. Ele parecia exausto, mas determinado, e isso tocou algo dentro de mim.
— Baji, você não entende — sussurrei, minha voz tremendo. — A dor é demais. Eu não consigo lidar com isso.
Baji se aproximou ainda mais, suas mãos tremendo ligeiramente ao estenderem-se para mim.
— Eu entendo mais do que você imagina — disse ele, sua voz agora mais suave, quase como um sussurro. — E é por isso que estou aqui. Não quero perder você.
Eu olhei para ele, sentindo um misto de confusão e desejo. Sua presença estava me oferecendo um alívio, uma sensação de conforto que eu havia desesperadamente buscado, mas ainda não conseguia completamente compreender.
— Por que você se importa tanto assim?
Baji hesitou por um momento, seu olhar se desviando para baixo.
— Porque eu te amo, Chifuyu — confessou finalmente, sua voz cheia de uma sinceridade dolorosa. — Eu sei que pode parecer estranho agora, mas eu sinto isso por você. Desde que começamos a passar tempo juntos, você se tornou a pessoa mais importante para mim.
Havia uma vulnerabilidade em sua expressão que eu não conseguia ignorar. Ele parecia estar lutando com seus próprios demônios, e eu podia ver o medo e a dor em seus olhos.
— Mas você nunca disse nada sobre isso antes — disse eu, a voz carregada de dúvida.
— Eu estava com medo — admitiu Baji, seus olhos se encontrando com os meus. — Eu tive um relacionamento no passado que me feriu profundamente. A pessoa em quem eu confiei me machucou, e eu fiquei com medo de me abrir de novo. Eu não queria que você visse isso em mim, não queria que você se afastasse por causa das minhas inseguranças.
As palavras dele me atingiram com força. A dor em seu passado parecia tão palpável quanto a minha, e eu comecei a entender que nossa conexão era mais complexa do que eu havia imaginado.
— Eu não sabia — disse eu, a voz embargada. — Eu pensei que você estava apenas me ajudando por pena.
— Não, Chifuyu — disse Baji, seu tom urgente e sincero. — Estou aqui porque realmente me importo com você. Porque eu te amo e quero estar ao seu lado. Eu não quero perder você. Por favor, me dê uma chance de mostrar o quanto você significa para mim.
Eu senti as lágrimas novamente escorrendo pelo meu rosto, não apenas por causa da dor, mas também por causa do alívio e da esperança que suas palavras trouxeram. A ideia de que ele realmente se importava comigo, que estava disposto a enfrentar suas próprias feridas para estar ao meu lado, era algo que eu não esperava.
Baji deu um passo à frente, seu olhar fixo no meu com uma intensidade que era impossível de ignorar. Ele me envolveu em um abraço apertado, sua presença oferecendo uma sensação de segurança que eu havia perdido há muito tempo. Seu corpo contra o meu era um consolo inesperado, e eu senti seu calor como um lembrete de que eu não estava sozinho.
— Eu estou aqui, Chifuyu — sussurrou ele, sua voz carregada de emoção. — Não importa o que aconteça, estarei aqui para você. Vamos superar isso juntos.
Eu fechei os olhos, permitindo que suas palavras e seu toque me envolvessem. A sensação de estar nos braços dele, a sinceridade em suas palavras, me deu uma nova perspectiva sobre a dor e o luto que eu estava enfrentando. Eu ainda sentia uma tristeza profunda, mas a presença de Baji ofereceu uma faísca de esperança, uma razão para continuar lutando.
— Eu não sei como, mas quero tentar — disse finalmente, minha voz um sussurro. — Quero tentar enfrentar isso com você.
Baji me olhou com um sorriso fraco, a expressão dele misturando alívio e esperança.
— Isso é tudo o que eu peço, Chifuyu. Vamos enfrentar isso juntos, um passo de cada vez.
Nós permanecemos ali na ponte, o mundo ao nosso redor parecia se desvanecer enquanto nos abraçávamos, o calor e o conforto de sua presença oferecendo um refúgio inesperado. A cidade abaixo, com suas luzes brilhantes e sombrias, parecia menos ameaçadora, e a ideia de que eu não estava sozinho me dava um fio de esperança para enfrentar o futuro.
Quando nos afastamos, Baji ainda segurava minha mão, e eu pude sentir a determinação e o amor em seu toque. Juntos, começamos a caminhar de volta para nossos apartamentos, cada passo sendo um pequeno passo em direção a uma nova esperança e a um futuro que, apesar de incerto, agora parecia um pouco mais promissor com Baji ao meu lado.
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O Garoto do Andar de Baixo
RomanceChifuyu, um jovem marcado por uma vida de perdas e solidão, enfrenta uma profunda depressão devido à grave doença de seu pai. A chegada de Baji, seu vizinho do andar de baixo, traz um raio de esperança inesperado. O que começa como uma amizade se tr...