Yang

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O campo de batalha cheirava a pólvora, sangue e morte, odores tão bem conhecidos pelo Rei das Trevas que sequer o incomodavam — também não era como se algo pudesse o abalar neste momento, já que estava encantado com o estrago que os seus soldados poderiam causar.

Apreciou o extenso mar de corpos com armaduras douradas, saboreando mais uma vitória sobre o exército inimigo. Estava verdadeiramente satisfeito com o desempenho dos seus homens, mas enquanto admirava o seu triunfo, viu um soldado de armadura dourada e espada luminescente surgir em meio a escuridão.

Christopher. Tão brilhante quanto um raio de sol.

Tentou erguer a espada para se defender, mas o soldado Solari se aproximou tão rápido quanto a velocidade da luz, não hesitando antes de enterrar a espada em sua barriga. HyunJin gritou de desespero pela dor que sentiu ao ter o objeto rasgando o seu corpo mais uma vez, e tudo o que pôde fazer foi desejar que a morte o levasse de uma vez.

O Rei das Trevas acordou aos gritos, tanto pelo pavor de ter a espada cortando o seu estômago mais uma vez, quanto pela dor que queimava as suas entranhas, como um parasita corroendo o seu hospedeiro.

Se contorceu pela dor que o consumiu da cabeça aos pés, mas sentiu o seu corpo ser pressionado contra algo confortável, o impedindo de se mover. Não sabia o que o prendia — os seus olhos estavam cerrados por conta da dor, assim como o seu maxilar —, mas isso pouco importava nesse momento; a sua única preocupação era fazer aquilo parar.

Como se não bastasse tudo o que estava sentindo, as alucinações também decidiram dar as caras, sorrateiramente tecendo uma teia de lembranças onde, uma vez que fosse preso, não conseguiria se soltar tão facilmente.

E foi exatamente o que aconteceu quando começou a alucinar: Se desesperou ao ver o campo de batalha, a sua quase morte, o soldado que tentara o matar, a espada criada para o ceifar, o Castelo do Sol protegido por uma força desconhecida, o grito das suas sombras ao experimentarem a morte pela primeira vez e o gosto ferroso de sangue tão vívido em sua boca. Tudo parecia tão real que o seu corpo tremeu diante tamanha adrenalina.

Pensou que a sua cabeça não fosse aguentar tamanha sobrecarga, mas estranhamente tudo foi amenizando, desde as imagens até as dores em seu corpo. De pouco em pouco foi recobrando os sentidos, identificando um toque macio e suave contra o seu peito, e uma massagem delicada que de fato o fazia respirar melhor.

Abriu os olhos, os cerrando quando a luz penetrou as suas íris — por estar há muito tempo com os olhos fechados, qualquer resquícios de luz o incomodaria.

— Não se mova tanto. — escutou uma voz doce atingir os seus ouvidos. — Você ainda não pode se mover muito.

— Quem é você? — soou como um sussurro mórbido.

— Ninguém em especial.

O Rei fez um certo esforço para abrir os olhos mais uma vez, sentindo todo o seu corpo estremecer ao ver madeixas loiras como as de Christopher.

Tentou se afastar rapidamente, mas o homem o pressionou de novo contra algo confortável — que não precisou pensar muito para saber que se tratava de uma cama — e se inclinou em sua direção, deixando o seu rosto dentro do seu campo de visão.

O cabelo poderia ser da mesma tonalidade que o de Christopher, mas definitivamente aquele não era ele.

Um par de olhos felinos — que por pouco não eram tampados por sua charmosa franja desgrenhada — o encaravam com atenção, parecendo examinar cada centímetro do seu rosto. O encarou de volta, encantado pela existência de um homem tão lindo como aquele, era como se os deuses da beleza houvessem descido do céu somente para esculpi-lo com as próprias mãos.

O Traidor | HyuninOnde histórias criam vida. Descubra agora